22 de julho de 2012

Classic Hard: Free - Fire And Water (1970)


A década de 1960 foi muito importante, pois com o surgimento de bandas como Beatles e os Rolling Stones mostrando que era possível ir além do que caras como Buddy Holy, Ritchie Valens, Jerry Lee Lewis entre outros faziam, ou seja uma música baseda no Blues ou  R&B se assim preferirem ainda mais pesada. E nessa esteira muitos artistas surgiram inspirados no blues no norte americano que começou a sua invasão no Reino Unido durante a  segunda guerra mundial, pois ele chegava através dos marinheiros que aportavam em cidades como: Liverpool, Londres e Belfast (Irlânda do Norte). 



Os jovens influenciados pelo som do Blues começaram a formar as suas bandas que eram  plugadas nas tomadas com suas guitarras elétricas e claro muito mais pesadas, mas no começo o lance era mais puritano, pois os músicos queriam fazer a música no esquema tradicional como era o Blues norte americano, e nessa esteira o primeiro a fazer sucesso foi o Alexis Korner o papa daquela garotada e também o responsável pelo surgimento de várias bandas que alçariam grandes vôos. 

Esta explosão do Blues (R&B) britânico. gerou um cenário com vários clubes (pubs noturnos) onde as apresentações rasgavam as noites com as bandas incendiando, levando os jovens a loucura e alguns destes jovens não tardariam a formar uma das grandes bandas daquela época: O Free, pois não dá para falar da década de 1960 sem falar desses caras porque eles simplesmente são fundamentais para a formação das bases do Hard Rock e do Heavy Metal gravaram discos seminais.

      
Nos anos de 1966 e 1967 uma das bandas que haviam surgido nessa esteira era o Black Cat Bones que trazia na sua formação o guitarrista Paul Kossoff e os caras tocavam direto nos pubs londrinos , o grupo teve várias formações e numa dessas freqüentes mudanças o baterista que tinha entrado para completar o grupo era Simon Kirk. Um dia o guitarrista  Paul Kossoff foi em um clube de R&B em Londres, o Fickle Picle e assistiu a apresentação da banda Brown Sugar e ficou super impressionado com o vocalista da banda: Paul Rodgers e o entusiasmo tomou conta do guitarrista que pediu para participar da apresentação e ao final surgiu o inesperado convite e partir dali a banda já contava com o vocalista no seu line-up. 

Naqueles dias dourados existia uma banda de Blues capitaneada por John Mayall por onde já havia passado o guitarrista Eric Clapton (que nesta altura já estava no Cream), e foi justamente lá que encontraram o outro membro que faltava para completar o time, ou seja, o ex-baixista Andy Fraser (que tinha apenas 15 anos quando tocava com Mayall),. E assim estava formada uma das maiores bandas de rock da história da Inglaterra que contava com Paul Rodgers (vocais), Paul Kossoff (guitarra), Andy Fraser (baixo) e Simon Kirke (bateria) que na época eram caras que ainda estavam na adolescência fato que chamava muito a atenção na época.

A primeira apresentação do grupo rolou em abril de 1968 num pub londrino chamado Nag's Head. O conjunto caiu nas graças do bluesman Alexis Corner que já havia assistido a duas apresentações do grupo e inclusive ele próprio sugeriu o nome da banda que passou a chamar-se "Free" e ainda por cima passou a ajudar os caras e os apresentou a Chris Blackwell que também ficou de cara com o som da banda e não teve dúvidas do talento da rapaziada que tocava um blues muito pesado e não pestanejou e assinou com a banda, que a partir daquele momento passava a fazer parte do cast da gravadora Island Records.   


O primeiro LP do grupo batizado com o título Tons Of Sobs (1969) era uma amostra do que muitas bandas vinham fazendo nos pubs londrinos, naquela altura o Led Zeppelin já estava nas altura mostrando o que seria feito na década seguinte e o Free não ficou atrás com o seu blues arrasa quarteirão, pois os caras tinham muito talento (o orçamento do álbum foi de 800 libras, um pouco mais alto que o do Black Sabbath no ano seguinte quando gravou seu álbum de estréia). Os caras mostravam que o seu álbum de estréia era apenas uma amostra do que eles realmente carregavam nas suas sacolas e iriam mostrar para a rapaziada, mas isso não bastou para convencer de imediato e o álbum passou desapercebido na terra do Tio Sam e na sua terra natal também, mas não foi esse tapa na cara que os fez desistir, pois era ruim disso vir acontecer. 

A turnê de promoção foi ao lado Blind Faith de Eric Clapton, Jethro Tull e Spooky Tooth e a banda viajou pela Europa e América do Norte para mostrar a potência do seu poderoso som que ainda esta sendo moldado. Ainda em 1969 a banda saíria do estúdio com o seu segundo álbum desta levava apenas o nome da banda "Free" e a proposta do blues pesado continua firme e forte, mas o álbum é ligeiramente mais leve e rendeu melhores resultados que o primeiro álbum que lançaram meses atrás, ficando na 22º posição em terra natal, mas infelizmente na terra do Tio Sam ficaram a ver navios novamente. Mas para a banda ainda havia o lado positivo que deve ser ressaltado neste novo álbum mostrava o talento e como Fraser e Rodgers eram proeminentes compositores.  

O período de instabilidade já começa a rondar o grupo e como Andy Fraser participava de forma ativa do processo de composição começou a exigir que os demais entrassem no seu ritmo e tal fato causou conflitos entre o baixista e seu companheiro Paul Kossoff, pois foi exigido que sua guitarra atuasse da maneira imposta por Fraser e tal situação além de constranger o guitarrista que sempre foi apreciado pela sua maneira arrebatadora de tocar causou profunda mágoa no guitarrista. Mas independente destes primeiros atritos a banda continuou seguindo a sua rotina normalmente, ou seja, fazendo shows memoráveis durante ano de 1969. 


Quando se encerram as cortinas da década de 1960 e a próxima década havia recém começado o Free já tinha algumas idéias para fazer o seu terceiro álbum acontecer, e para poder leva-las a cabo o grupo abaixou o ritmo das apresentações passando a intercala-las com as gravações e desta vez a gravadora impingiu a banda o produtor John Kelly que trabalharia em parceria com Roy Thomas (que seria reconhecido pelo seu trabalho ao lado Queen pouco anos depois), e a gravação do novo álbum seria realizada em dois estúdios diferentes, mas ambos estavam localizados na mesma cidade e no mesmo país e eram eles o Trident Studios e o Island Studios.

E mais uma vez a dupla dinâmica Fraser e Rodgers atacaria compondo cinco das sete faixas que compõe o álbum e apenas uma foi composta em conjunto pelo grupo enquanto outra foi composta apenas por Rodgers e Kossoff. O resultado desta aventura insólita obteria resultados ainda maiores, pois até aquele momento o grupo já era conhecido nos EUA, mas ainda não tinha emplacado por lá e na sua terra natal era apenas uma banda de sucesso relativo ate esse momento, mas isso iria mudar em breve. 

As faixas ainda mantinham a proposta do Blues, mas já não eram tão avassaladoras e por outro lado a banda mostrava estar mais aberta e misturou ao blues sem piedade nenhuma o soul que engrandeceu ainda mais o som da banda em Fire and Water. O começo ainda era aquele blues rock pesado e a faixa título deixa isso bem claro e evidente, pois aquele riff clássico já diz tudo o que rock tem que ter para ser pesado e que o hard rock tem que fazer também para ser pesado e enlouquecedor e Paul Kossoff mostrava sua estrela solando como ninguém colocando para fora todo o seu feeling, sensibilidade e habilidade e o vocalista Paul Rodgers mostra porque é uma das grades vozes do rock esbanjando versatilidade. A letra também engrandece ainda mais a música e revela todo o lado sentimental e passional do grupo ao falar sobre uma mulher que partiu o coração de um cara que sofre muito por conta disso e por isso deseja vingança, enfim uma faixa clássica e que se tornou obrigatória nos shows.        
         

O álbum segue com o seu brilho mágico na faixa "Oh I Wept" outro bom exemplo do blues, mas com acréscimos do soul (que diga-se aqui em definitivo está espalhado por todo álbum), resultando numa canção cadenciada e tranquila embora seja lenta não é uma balada como muitos podem pensar ao ouvi-la. A interpretação de Paul Rodgers da vida própria à esta música fazendo-a brilhar, e quando olhamos a letra percebemos isso claramente, pois ela  é baseada em sofrimento, dor e depressão e o solo de Paul Kossoff é altamente cortante e quando bate na alma dividi-a ao meio, enfim novamente temos uma canção sentimental e passional nada de absurdo para quem sabe o que é o blues na sua essência. 

A terceira faixa do álbum é "Remember" tem uma levada mais rock com os traços de blues e soul que se espalham desde a bateria até os vocais de Rodgers, os riffs de Kossoff desta vez não são complexos e apesar da simplicidade são bem eficientes para a proposto rítmica da música e os solos mais uma vez se mostram pertinentes e bem encaixados, o cara é mesmo um dos grandes nomes da guitarra. A letra retrata a saudade de um romance que acabou e é retratado pelo prisma da saudade, enfim sem sentimentos tristes, amargura etc.. A quarta faixa "Heavy Load" é outra de arrepiar cuja introdução é tocada no piano por Paul Rodgers o que na verdade é um bônus, já que o cara arrebenta nos vocais e o destaque novamente vai para ele que deu um show a parte na harmônica, ou seja, nas melodias interpretadas por ele e a guitarra de Paul Kossoff mostrasse incansável e desta vez exorciza os seus demônios com riffs mais pesados que se completam com os solos emocionais criando  as bases perfeitas para a letra que fala sobre angústia de não encontrar o seu caminho e ficar andando sempre em círculos sem sair do lugar. 

Pense numa faixa calma e tranquila com belas melodias o blues flertando fortemente com a soul music, belos riffs e solos de guitarras que tocam bem lá no fundo da alma ainda por cima com uma letra emocional falando de amor e descontentamento por alguém que tenta de qualquer maneira controlar a sua vida, sim essa é a faixa "Mr. Big" um dos grandes arroubos de gênio do grupo, pois composição é assinada em conjunto pelo grupo e mais uma vez a dupla Kossoff e Rodgers se destaca deixando os outros colegas comendo poeira, mas nada que tire os méritos de Simon Kirke que é um excelente baterista e mostrou isso ao longo do tempo foi o responsável pelas baquetas da banda. 


Aliás num disco tão emocional como esse não seria nada estranho e muito menos um crime se ele tivesse pelo menos uma balada e a faixa "Don't Say You Love Me" que conta com um trabalho perfeito do baterista Simon Kirke e do baixista Andy Fraser e mais uma vez a forte interpretação de Paul Rodgers que alterna-se perfeitamente entre momentos mais suaves e outros mais pesados e agressivos e o tema novamente é romântico narrando a história de uma pessoa que entra na vida da outra apenas para se aproveitar dela e brinca com os seus sentimentos. Fechando o álbum de maneira esplêndida a faixa "All Right Now" o maior hit do Free (pois antes dela o grupo tinha dois excelentes álbuns com faixas excelentes que funcionavam muito bem dentro do contexto dos álbuns, mas nunca ainda não tinha uma faixa para as rádios que desse aquele empurrãozinho). A faixa abre com um grande riff de Paul Kossoff que funciona como a base da música inteira acompanhada pela cozinha que sustenta o peso da faixa, a letra foi escrita por Paul Rodgers, e narra a história de um cara passando uma bela cantada visando seduzir uma mulher 
    
Depois de estar com tudo pronto o álbum foi lançado no dia 26 de julho de 1970 e os resultados desta vez superaram os anteriores o primeiro e único single do disco foi "All Right Now" ficou em 2º lugar nas paradas britânicas enquanto nas paradas norte americanas atingiu a 4º posição e finalmente o problema do grupo parecia estar resolvido, pois o single tratou de despertar o interesse dos norte americanos pelo grupo. E o álbum também foi muito bem sucedido e alcançou a 2º posição na sua terra natal e nos EUA ficou na 17º posição e o sucesso começa a bater na porta do grupo e a turnê foi um estouro, pois o ponto alto dela foi a data marcada no Festival da Ilha de Wight, onde o grupo tocou para mais de 600 mil pessoas dividindo o palco com nomes de peso como: Jimi Hendrix, The Doors, The Who e muitos outros que teriam uma carreira brilhante na nova década que estava apenas no começo e já sintomas dava que seria ainda mais emocionante e brilhante. 

Mas no jogo perigoso do Free nada era certo e dali em diante os rapazes teriam outros problemas para enfrentar: a fama e os excessos, pois Paul Kossoff já estava completamente mergulhado no seu vício em heroína e isso iria causar inúmeros problemas inclusive seria o início do declínio, mas antes o Free ainda teria mais alguns capítulos para escrever em álbuns como Highway (1970) lançado poucos meses depois e At Last (1972) e fecharia a sua história com Heartbreaker (1973). Mas a verdade é que Fire And Water apesar de ser um álbum sombrio e carregar toda a alma do blues, mostrava que havia esperança de dias melhores para o grupo e é um legado perfeito para todos que querem se aventurar em descobrir o Hard Rock setentista, eis aqui uma excelente pedida.    

Track List: 

01. Fire And Water 
02. Oh I Wept 
03. Remember
04. Heavy Load 
05. Mr. Big 
06. Don't Say Love Me 
07. All Right Now    
















Nenhum comentário:

Postar um comentário