21 de julho de 2012

Classic Hard: Deep Purple - Machine Head (1972)


O ano de 1969 foi um ano de grandes mudanças para o Deep Purple, pois o grupo britânico formado inicialmente por Ritchie Blackmore (guitarra), Ian Pace (bateria), Jon Lord (teclados), Nick Simper (baixo) e Rod Evans (vocal) nesta altura já tinha gravado e lançados os seguintes álbuns: Shades Of Deep Purple (1968), The Book Of Thalesyn (1968) e Deep Purple (1969), mas os resultados oriundos destes lançamentos não renderam o sucesso esperado ao grupo que pelo menos ganhou visibilidade na terra do Tio Sam graças ao compacto lançado para a faixa "Hush", fazendo turnê por lá também. 




Embora os resultados fossem satisfatórios do ponto de vista comercial, o descontentamento de Jon Lord e Blackmore era visível e o resultado disso culminou nas demissões do vocalista Rod Evans e do baixista Nick Simper porque pensava-se que ambos não acompanhariam as mudanças que o grupo queria introduzir na sonoridade da banda. Para sanar o problema que instalava devido as demissões o grupo começou a procurar novos músicos que pudessem se encaixar na nova sonoridade que o grupo pretendia protagonizar.

Mick Underwood um amigo do grupo, que sabia das necessidades e também da urgência que o grupo tinha para resolver esse problema lhes fez um convite inusitado para irem assistir a uma apresentação do Episode Six  n odia 24 de julho e lá foram Jon Lord e Blackmore para conferir a apresentação e inclusive depois de serem apresentados a Ian Gillan subiram no palco com ele e fizeram uma jam ali mesmo. O resultado dessa jam, foi o convite para Ian Gillan fazer um teste com o grupo e o vocalista levou consigo o seu companheiro Roger Glover e depois de ambos serem aprovados pela banda começa o período mais fértil e clássico do grupo: O MK II.

      
E a virada na mesa para o Deep Purple começou com o lançamento do álbum In Rock (1970), que deixava o som dos seus primórdios para trás para abraçar uma nova sonoridade muito mais pesada, rápida e direta cuja aceitação conquistou, arrebatou e enlouqueceu tanto os fãs, quanto os críticos que não economizaram nos elogios ao álbum e destarte estava inaugurada uma nova fase para a música para pesada na década de 1970. 

Na seqüência o quinteto britânico lançou o álbum Fireball (1971) onde a banda além de manter a sonoridade do álbum anterior caiu na sua face mais experimentalista e usou e abusou dos elementos característicos do progressivo mesclando com o peso do hard rock e o resultado final foi uma álbum pesado, mas ligeiramente mais leve e embora não aparentasse dizia muito sobre o futuro do grupo que ainda não havia estourado embora fizesse bastante sucesso. 

Os tempos conspiravam a favor do Deep Purple cujos integrantes além de estarem bem nas estarem afiadíssimos, ou seja super entrosados estavam também vivendo o grande momento que toda a banda de rock gostaria de viver: fama, grana no bolso, mulheres caindo aos seus pés, discos estourando nas paradas de sucesso e shows super concorridos. O grupo novamente entrou em processo de composição e gravação do seu novo álbum de estúdio, mas desta vez reuniriam tudo o que tinham na bagagem: o hard rock, o jazz, as experimentações e a música clássica (veja o álbum Concert For Group que na verdade é a estréia do MK II e detalhe o álbum foi idealizado e composto pelo tecladista Jon Lord cuja formação vem da música erúdita).

       
O próximo passo para entrar em estúdio foi dar uma pausa nas apresentações para ter as condições necessárias para poder compor e gravar o próximo disco sem estresse, pressões ou qualquer coisa do tipo, e outro fator que seria levado em consideração sobre os trabalhos que estavam prestes a ser iniciados era sair da rotina dos estúdios e optaram por fazer o mesmo que haviam feito no álbum anterior e desta vez o destino os levou para fora de sua terra natal, ou seja, foram para a suíça no mês de dezembro de 1971, na cidade Montreux e uma personalidade chamada Claude Nobs idealizador do famoso festival do qual a banda já havia participado anteriormente (e anos mais tarde seria um dos recordistas em apresentações no festival lançados em dvd),que ofereceu um cassino onde o festival seria realizado, porque lá haveria um período de recessão de três meses. 

Mas quando a banda chegou o cassino ainda não estava liberado tinha o último para acontecer que no caso era da banda de Frank Zappa, mas durante o show alguém da platéia disparou um sinalizador e em questão de minutos o incêndio se espalhou e Franbk Zappa calmamente se dirigiu ao microfone e pediu que as pessoas não entrassem em pânico e que abandonassem o recinto com calma sem maiores problemas.

Depois dessa presepada o grupo teve de ser transferido e o novo local onde o grupo faria os trabalhos de gravação do novo álbum, era o Grande Hotel de Montreux que estava vazio em pleno inverno e novos problemas não tardariam e seriam obstáculos que precisariam ser vencidos pelo grupo para poder gravar o álbum como a umidade do local, corredores com eco e os tetos eram muito altos. E as gravações foram planejadas para captar o som da banda como se fosse no formato ao vivo, o equipamento era o estúdio móvel dos Rolling Stones qu ficou estacionado do lado de fora do hotel junto a porta principal e os cabos foram puxados lá para dentro e a banda teve que improvisar a sua instalação no local ficando restrita a um corretor em formato de "T" onde Jon Lord, Ian Pace e os demais tiveram de se espremer para fazer as gravações.


A produção do álbum foi assinada pela banda em conjunto com Martin Birch que na ocasião funcionou com uma espécie de um sexto membro para os músicos que inclusive assinam as composições em conjunto, pois Jon Lord, Ritchie Blackmore, Ian Gillan, Roger Glover e Ian Pace fizeram tudo juntos. E o momento mágico naquele momento era finalmente deflagrado, pois todos os elementos se encaixaram perfeitamente e a banda pôs para fora tudo o que tinha na sacola e a bagagem pelo visto não era pequena dada a formação dos músicos e o blues, o jazz, a música erudita e as experimentações iriam tomar o controle e ter sua voz declarada em forma de sete canções que diriam muito sobre o grupo que naquele momento estava definindo a sua identidade. 

Desta vez a banda iria se concentrar em fazer algo simples, direto e pesado como foi feito em In Rock (1970), pois a banda não queria repetir os "exageros" ou "escorregões" de Fireball (1971), pois naquele momento tratava-se de espantar as críticas negativas e mostrar que eles eram realmente uma banda de rock pesada, barulhenta e afim de jogo. As faixas de Machine Head eram a perfeita combinação de todos os elementos que o Deep Purple já tinha explorado nos álbuns anteriores, mas agora eles se apresentariam de maneira clara e objetiva revelando suas "sórdidas" intenções. 

A melhor faixa e que define a banda é a "Highway Star", uma das primeira composições a tomar corpo, pois as primeiras notas surgem de um banjo que Blackmore empunhava e tocava a notas a esmo, enquanto Gillan colocava a sua voz, mas essa poderosa composição não se resumiu aos dois e  Jon Lord logo tratou de colocar o seu orgão Hammond na jogada para deixar coisas ainda mais pesadas e complexas, pois algumas das linhas surgiram de umas idéias que ele buscou nas composições de Bach, que se encaixaram muito bem com as guitarras estilo metralhadora de Blackmore criando uma tensão até a entrada dos vocais rasgados de Ian Gillan (cujo único truque feito em estúdio são os ecos) e a letra na verdade exprime duas grandes paixões masculinas: mulheres e carros e a letra embora parece boba, mastodôntica é uma boa relação que se encaixa perfeitamente com a música que é uma verdadeira pedrada, rápida, agressiva e realmente exprime tudo o que Deep Purple mais queria encontrar naquele momento. 


Com "Smoke On The Water" o Deep Purple mostrava que realmente estava voando alto, pois aqui o equilíbrio é descomunal nenhum instrumento se sobre saí ao outro tudo funciona  perfeitamente em conjunto, pois os teclados distorcidos se misturam com as guitarras virtuose de Blackmore, o baixo de Roger Glover e a bateria Ian Pace sustentam o peso da música e os vocais inteligentíssimos e muito bem encaixados de Ian Gillan não deixam dúvidas das pretensões do grupo. A inspiração de Ritchie Blackmore era algo fora do comum, pois a idéia  do riff e o ritmo foram inspiradas em outro compositor da música erudita que no caso é Beetoveen, enfim o guitarrista mostrou que apenas quatro notas faziam a diferença, ou seja, um som pesado descomunal, pesadíssimo e brilhante

E a inspiração de Roger Glover para a letra e para o nome da faixa veio dos fatos que ocorreram naquele fatídico dia, e o nome Smoke On The Water rolou porque a fumaça oriunda do incêndio era soprada pela corrente de vento e passava diretamente sobre o rio Genebra e como a fumaça passava sobre a água, o título se justificou pertinente e assim nascia uma das maiores faixas do rock setentista, que até hoje causa grande fascínio nas legiões de fãs que não param de se renovar, e continuam rolando suas águas de geração para geração. 

Depois das maiores faixas de Machine Head também temos que falar das faixas que completam o álbum e em momento algum elas deixam o álbum cair, muito pelo contrário elas se encaixam perfeitamente no conceito do disco e dão tempero que o disco ao contrário do que muitos pensam não é nada alegre. A faixa "Maybe I'm A Leo" que é uma idéia de Roger Glover e o título original era "Blues Riff" e tinha um ritmo calcado no blues e depois de escrita a letra cujo tema é sobre um amor de um cara que perdeu sua garota, o Hammond pesado e distorcido novamente se confundem entre riffs e solos perfeitos e é justamente ai que podemos compreender porque Jon Lord é uma das peças chave para o sucesso de Machine Head, o baixo tocando de maneira simples mandando ver na rítmica e os refrão melódicos cantados por Ian Gillan são bem caprichados, enfim mais uma canção com vida própria. 

       
"Pictures Of Home" é outra daquelas faixas clássicas onde o jazz e o hard rock se fundem criando melodias maravilhosas, que cativam de imediato o ouvinte e o levam por uma grande viagem pelas montanhas nas asas de uma enorme águia cruzando cortando os céus, os rios e as montanhas. A faixa começa com uma introdução rítmica animal de Ian Pace, mas na verdade era mais um idéia brilhante de Blackmore e começou a ganhar os seus fabulosos acreéscimos, com as letras de Gillan e os seus vocais repletos de melodias que hamornizavam perfeitamente com o restante dos seus companheiros, o baixo pulsante de Glover e os teclados de Jon Lord, e o conjunto nessa faixa é pura virtuose traduzida em longos solos mostrando mais um grande momento do álbum, adrenalina pura na veia.

O grupo estava tão bem sintonizado, ou seja também entrosado que as contribuições para o álbum vinham de todos os integrantes que não se deixaram intimida uns pelos outros fazendo justiça ao conceito do que é uma banda, um grupo que se propõe a trabalhar como tal e está acima de tudo voltado para realizar um trabalho nesse esquema. "Never Before" era uma faixa cujas idéias vinham de Ian Gillan e Ian Pace que tinha um apelo mais pop e novamente o começava com uma bela introdução de bateria combinando com o orgão e a guitarra e voava alto nos refrões melódicos, enfim uma faixa de fácil assimilação que você canta sem sacar que o esta fazendo, era pura loucura, totalmente arrebatadora nos solos para lá de melódicos, uma verdadeira porrada na cara. 

Um dos grandes momento deste álbum é faixa "Lazy" um verdadeiro blues onde os teclados de Lord desfilam quebrando tudo, com longos solos totalmente matadores e aniquiladores e a bateria de Ian Pace vai seguindo o ritmo, junto com a guitarra de Ritchie ambos cheios de melodias que se entrelaçam o blues e o jazz com a potência do Hard Rock e explodindo feeling com Ian Gillan mais uma vez detonando cheio de malícia na sua gaita um dos melhores momentos deste álbum (e para se ter uma idéia da força desta faixa escute Made In Japan a sexta faixa). Fechando o álbum de maneira esplêndida vem "Space Truckin" cujo o segredo está por trás do Hammond turbinado de Jon Lord, pois a distorção é permitida graças a uma adaptação feita no instrumento, ligando-o diretamente na caixa amplificadora no caso Marshall por causa do efeito de distorção que ela possuí  e assim o som ficaria de acordo com os padrões exigidos pelo músico que finalmente poderia acompanhar a guitarra aonde quer que ela fosse. Nesse caso mais uma vez a guitarra e o orgão se confunde e o último em algumas partes aparece na frente da guitarra sustentando todo o peso da faixa junto com o baixo, no caso da rítmica da guitarra Ritchie Blackmore tirou da música do seriado do super heroí Batman. O título na verdade é um trocadilho com o personagem de quadrinhos "Keep On Truckin" e naquela época viva-se o pleno desenvolvimento da ciência e a letra funcionou muito bem e a estrada inter estelar se pavimentava brilhantemente para o Deep Purple e para nós ouvintes bastava-nos pegar uma carona com o caminhoneiro espacial e viajar pela galáxia.

           
E depois de encerradas a gravação do álbum ele foi as lojas em março de 1972, e o Deep Purple entregava ao seus fãs sua obra máxima, pois Machine Head era a síntese de tudo o que o Deep Purple tinha feito em quatro anos, misturando perfeitamente o Blues, o Jazz, os toques do progressivo e do hard rock criando um som poderoso e único, honesto e verdadeiro que refletia uma banda batalhadora que visava a todo instante mesmo que não soubesse de fato o que estava fazendo e quais seriam os resultados desse novo trabalho que acabou definindo o que era a banda em pouco mais de trinta minutos de puro rock pesado, heavy rock, heavy metal ou hard rock, pois não importava o rótulo porque as faixas que ali estavam eram fruto da cooperação mutua de excelentes e virtuosos músicos que deixaram de lado as pressões e foram laborar de forma espontânea. 

O Deep Purple era uma banda que se completava, ou seja, os músicos se encaixavam de maneira espetacular desde o orgão e a guitarra se equilibrando passando pelos vocais melódicos e repleto de harmonias que cativavam diretamente o ouvinte levando-o por uma viagem sobrenatural que os colocava de cara com o centro do furacão que vinha atropelando tudo pela frente como se fosse um caminhão sem freios numa descida e ai está a razão do sucesso do grupo. 

Machine Head era nitroglicerina pura e o sucesso é lógico que vinha atrás o primeiro single para provê-lo foi a faixa justamente a faixa "Never Before", mas não foi bem sucedida já Smoke On The Water não pegou de imediato só depois de ser tocada várias e várias vezes nas rádios norte americanas é que finalmente pegou e se tornou o grande hit do disco. Além disso o sucesso foi tão grande que o ritmo de trabalhou dobrou e naturalmente sobrecarregou o grupo e o espírito de camaradagem logo começaria a ruir e acabaria separando o grupo, mas isso é história para outro dia. O impacto de Machine Head foi grande, pois a influência e o fascínio que ele exerceu e exerce até hoje não se escreve em poucas linhas e Ritchie Blackmore entrava para o panteão dos Deuses da guitarra e em breve seria considerado um o precursor dos guitarristas neo clássicos pela sua performance arrebatadora nesta magnum opus.

O álbum é o mais bem sucedido comercialmente falando do grupo, pois rendeu ao quinteto discos de ouro na EUA, na Inglaterra ganhou um disco de ouro e na França ganhou o certificado de ouro três vezes. E também foi possível ao Deep Purple entrar definitivamente para o hall dos grandes nomes do rock pesado setentista e ao lado do Led Zeppelin e Black Sabbath formar a tríade sagrada do heavy rock. E agora fica uma dica para quem não conhece principalmente por se tratar de uma obra história cuja influência é ilimitada e por isso o torna obrigatório, corra já atrás do seu e ouça-o como se fosse a última vez, pois nunca se sabe se haverá outro amanhã.            
       











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