19 de agosto de 2012

Resenha de cd: Testament - Dark Roots of Earth (2012)


O que significa ser uma banda de Thrash Metal? esta é uma pergunta que o Testament pode responder com louvores, pois trata-se de uma banda que ao contrário de muitas manteve-se fiel a suas raízes fez algumas experimentações aqui e acolá, mas jamais deixou a sua identidade escoar pelo ralo. Durante a década de 1990 o Testament viu a sua formação clássica se desfazer, mas a banda capitaneada pelo frontman Chuck Billy continuou firme e forte e o mais importante sem fazer concessões as modinhas que imperam no cenário em todas as épocas, mas no começo do século XXI, para ser mais exato nos anos 2000 viu-se uma série de retornos de várias bandas agitou o cenário do heavy metal e os fãs do mundo inteiro começaram a pedir por esses retornos nem sempre bem sucedidos, mas em alguns casos extrapolavam a expectativas e as bandas estão ai até hoje lanando álbuns excelentes e fazendo seus shows por ai.          



E o Testament aonde entra nessa história? Pois bem, vamos lá este lendário grupo da Bay Area fez a sua fama na década de 1980 período em que o Thraash Metal estava se consolidando bandas como Metallica e Slayer dominavam e nadavam a largas braçadas despejando seus clássicos e as formações desses grupos tornaram-se verdadeiros mitos e na década de 2000, os retornos com as formações originais ou clássicas tinham várias funções embora a principal fosse financeira e acontecia se fosse realmente viável, pois o Thrash Metal começava a ressurgir e as bandas comçaram a tirar as teias de aranha, a poeira e patina de seus instrumentos. O Testament nessa época tinha lançado apenas o álbum The Gathering (1999), um dos pontos de sua carreira, pois os caras apresentavam um som pesado, brutal e mais moderninho vamos dizer assim e no meio do caminho Chuck Billy teve que retirar-se temporariamente a força do cenário porque teve que tratar um câncer e depois de recuperado e mais um tempoinho depois o grupo reúne sua formação original e lançam o ao vivo Live in London (cd/ & dvd), mas como é natural sempre aprecem os rumores envolvendo um novo álbum que se confirmou, mas e a formação original, pois é apenas o baterista não participou, mas enfim o Testament recrutou primeiramente o baterista Paul Bostaph (ex-Forbidden, Slayer entre outros) e lançou o petardo The Formation of the Damnation (2008) e pronto o Testament estava de volta depois de um longo tempo sem apresentar um álbum de inéditas. 

Depois de 4 anos a banda retorna com Dark Roots of Earth e nos apresenta um dos melhores trabalhos de sua carreira, pois temos aqui um álbum forte reivindicativo, pois o Big Four na verdade poderia ter sido Big Five tamanha é força deste super grupo junto aos fãs em todo o planeta, mas infelizmente na vida nem sempre a justiça é feita. O álbum é uma resposta aos que acham que o gênero é apenas aquele arroz com feijão requentado pelas bandinhas retrôs. O conteúdo lírico é uma série de críticas ao próprio país, ou seja, ao sistema político opressor e aos preconceitos raciais e sociais que infelizmente ainda imperam no mundo trazendo na bagagem miséria entre outros males que não se justificam mais em pleno século XXI. Mudanças na formação também marcam esse álbum, pois o baterista Paul Bostaph saí e para o seu lugar a banda mais uma vez chama Gene Hoglan um monstro da bateria que já havia trabalhando com o Testament gravando o álbum Demonic (1997), e sua re-estréia fez muita diferença porque a insanidade veio a tira colo deixando as músicas mais velozes e pesados do que de costume, os vocais de Chuck Billy como sempre agressivos e matadores vêm mais uma vez para anunciar o apocalipse, as linhas de guitarra de Alex Skolnick e Eric Peterson transitam entre os momentos mais e rápidos e cadenciados desfilando uma parede de solos faiscantes uma bela dupla que soube muito bem condensar as suas experiências nos mais variados estilos pelos quais passaram e justamente por isso as composições ficaram mais fortes, poderosas porque vão direto a "X" da questão, ou seja, as melodias certas combinadas com letras igualmente poderosas e inteligentes no lugar e na certa também, brilhante. 

Os caras acertaram a mão, pois olharam para frente e mostram que é possível renovar, ou seja, andar para frente, pois é assim que as coisas funcionam e o Thrash Metal também tem que fazê-lo para fugir da estagnação e para isso acontecer de fato não é requentando fórmulas já azedas que gênero vai sair do lugar e conquistar novos rumos é isso que as bandas novatas já deveriam ter entendido há muito tempo atrás. Melodia, agressividade totalmente bruta, pesada é o que Testament apresenta no seu mais perfeito estado e sem comiseração alguma é para derrubar mesmo, uma missão que não terá dificuldade alguma para atingir o alvo e galgar os seus objetivos é claro. Aqui o Thrash Metal aparece mais robusto, pois os novos elementos fazem a banda soar relevante um fator importante para seguir em frente e ser sempre atual e sem deixar levar pelo lugar comum como muitos disco que rodam por ai não se cansam de repeti-los.              


A produção do renomado produtor Andy Sneap contribuiu e muito para deixar o som de Dark Roots of Earth redondo, pois ao ouvirmos atentamente aos vocais, as guitarras e a bateria podemos captar todo o peso e a limpidez nos permitem ouvir nota por nota, ou seja, temos um som cristalino pura e genuínamente Thrash Metal com todos os elementos necessários para ele acontecer em seu estado mais puro e absoluto e as suas nove faixas são uma amostra de habilidade, ou seja, pura técnica e feeling se completando e o resultado é que você não enjoa se ouvir duas, três, quatro vezes seguidas ou mais o álbum é viciante causará dependência nos fãs e isso não é ruim muito pelo contrário é bom demais, pois este álbum é mais do simplesmente uma aula de Thrash Metal é um protesto com o mundo, as pessoas e a formação como elas conduzem a sua vida nas suas zonas de conforto visando apenas a manutenção de seus padrões de vida e privilégios enquanto o mundo se esgota, queima e sangra para satisfazer nossos desejos de consumo mais tolos. 

E os destaques desse álbum resumido a nove faixas? Quais delas se destacam mais ou menos? a resposta é curta e grossa todas elas se sobre saem, pois estamos diante de uma obra de arte que é genuinamente fruto do seu tempo e o reflete muito bem e por isso é atual, relevante e tudo mais que você conseguir detectar, leitor. Justamente pelo teor das letras, das composições inspiram a rebelião e pela sua relevância por levar em consideração os assuntos que estão na pauta do dia e também denunciam injustiças toda as faixas destacam pelas suas peculiaridades e agora entremos não mergulhemos nelas de uma vez por todas. O álbum abre com "Rise Up" e faz jus ao título é para levantar mesmo e a letra é uma crítica as guerras  e contra os seus maleficios, pois quem não sabe essas guerras tem único e exclusivo interesse é salvaguardar os interesses das elites que comandam com mãos de ferro o povo de seus países, pois quando as guerras acabam os poderosos se acertam e o povo paga a conta com o seu sangue e a sua vida, certo?. 

Em "Native em Blood" e seus blast beats da batera de Hoglan exalam a sua experiência no metal extremo (ele tocou no Death e gravou o álbum Individual Throught Patters lançado em 1993), as guitarras perfeitamente alternam-se entre a agressividade e a melodia sem exageros e a letra é um manifesto em favor dos indígenas norte americanos donde o vocalista Chuck Billy descende diretamente, sofrem violento preconceito da sociedade branca anglo saxã fundadora daquele país que vergonhosamente ostenta o símbolo da "liberdade", pois o genocídio dos ameríndios começou por lá com a corrida do ouro no século XIX cujo resultado foi a expansão do território que hoje tem lá suas dimensões continentais. E a faixa título "Dark Roots of the Earth" é um dos pontos altos não só pela artilharia pesada do instrumental e dos potentes vocais de Chuck Billy, mas pela letra apocaliptica que nos faz repensar o modo como tratamos o planeta, tema bem apropriado para este disco. 


        
A faixa "True American"  é outro grande momento deste disco além da letra ser outra crítica ao modo de vida norte americano, pois as pessoas são fantoches do governo e principalmente dos meios de comunicação que volta e meia dissemina o medo como meio de mobilizar e unir as pessoas e o jeito é viver a vida, revoltar-se e implodir as bases da sociedade cujo hiper consumo e a competição sem limites são o carro chefe para garantir a sobrevivência, isso é algo que os países que seguem este modelo deveria urgentemente repensar a sua atitude e olhar para o tipo de sociedade que querem criar, uma boa crítica. A faixa "A Day in the Death" é o chamado para revolução, para mudança e inovação, ou seja,a reinvenção do mundo que conhecemos , pois etá na hora de quebrar as regras e refazer o pacto social chega da exploração pela riqueza que distribui a miséria e a exclusão é hora dizer não aos políticos corruptos que ao longo da história só se alimentaram da carne e do sangue da população e só distribuíram miséria, fome e morte chega de sofrimento está na hora da democracia eclipsar o utilitarismo e unir o povo e a mensagem da banda vem embalada pela raízes do Thrash Metal cadenciado mortal e cortante como ele tem que ser. 

"Cold Embrace" dá uma reciclada em The Legacy com o mesmo clima sombrio, mas só que mais pesado e com bons arranjos acústicos que se misturaram muito bem aos momentos mais pesados, eletrificados uma boa balada que em partes relembra Fade to Black do Metallica e a letra dessa faixa também interessante por falar de morte (pois morte pode significar outras coisas, tipo diferentes não precisa ser necessariamente a morte do corpo e da carne, mas pode ser o início, a passagem para outra fase) e aqui se correlacionam os dois significados, pois tem a idéia de renascimento embutido, mas só que para um nova vida que pode ser muito pior quando nos desviamos dos caminhos corretos e ai sim o sol nunca mais brilhará como antes. Em "Man Kills Mankind" temos um verdadeiro hino contra a ganância e a busca incessante da verdade que deve prevalecer sobre os mal intencionados e a juventude entra pela porta da frente, pois eles são a esperança de renovação e podem fazê-lo contestando essa herança maldita de arrastar os males e os vícios, as paixões mais sádicas e cruéis e para dar tom a essa narrativa sombria e apocalíptica o grupo ataca com solos cortantes que rasgam qualquer tentativa de harmônia ou esperança, pois o futuro que aguarda a raça humana é sombrio e não existe a compaixão que deveria ser uma das grandes virtudes humanas em detrimento da exploração ilimitada do semelhante e as baterias repletas de blast beats que vão massacrando e ajudando a apregoar as críticas e mais críticas e toda instrumental apoiada também nos riffs explodem nos refrões grudentos fáceis de cantarolar.

A faixa "Throne of Thorns" com um instrumental que na verdade é entre o Thrash Metal e o Metal Tradicional super pesado, é outra faixa dedicada a criticar a guerra e mais uma crítica aos seus maleficios e efeitos negativos que elas tem sobre os perdedores que são sub-julgados, são espoliados, roubados no que tange a sua dignidade e como dizia Platão "só os mortos verão o fim da guerra", pois é essa a herança desses conflitos armados que assistimos via televisão todos os dias seja nos Balcãs, no Oriente Médio quem sempre amarga os piores resultados são os perdedores que passam a ser objeto do fruto do interesse das grandes corporações que jogam com as suas vidas como peões num tabuleiro de xadrez para poderem explorar e explorar e os soldados que também são seres humanos e pala idologia militar mantém uma cega obediência e se iludem que estão salvando país, pois mal sabem que o país que eles estão salvando são os privilégios de uma minoria que senta no poder revezando-o, recebendo o epíteto de "líderes". E fechando o álbum vem a faixa "Last Stand for Independence" é o tipico Thrash correria cheio de quebradeiras e tenso demais cuja narrativa pode ser uma espécie de metáfora, um hino que conclama as pessoas a refazerem a sua independência, ou seja, tomarem o seu lugar na sociedade participando das decisões uma volta as raízes, a busca pelo verdadeiro sentido da existência dos EUA, cuja conquista foi feita a custa de muito sangue, suor e lágrimas em batalhas sangrentas e as milhares foram dissipadas em nome da liberdade que hoje na sua forma perversa se transformou no direito dos poderosos em massacrar e torturar as pessoas para manterem o status quo. 



As demais faixas são covers como: Dragon Attack do Queen, Animal Magnetism do Scorpions, Powerslave do Iron Maiden e quarta faixa bônus e uma versão estendida de "Throne of Thorns".  A capa desenhada por Kantor reflete toda o conceito do álbum e é parte de cada canção e tema existentes em Dark Roots of Earth e nos lança uma pergunta que não quer calar quem cultivou e ajudou a cultivar as raízes negras da terra?. O álbum é um verdadeiro manifesto do Thrash Metal que na figura do Testament exprime todos os seus sentidos e abre margem para a resposta do que vem a ser o Thrash Metal, pois ele é isso rebeldia, atitude, contestação e isso já veio explicito quando ele se misturou com o hardcore, pois o espírito punk e a anarquia sempre esteve ideologicamente presente e questionar a sociedade e os seus valores não é marketing é uma questão de demonstrar consciência do que realmente acontece ao seu redor e botar a sua opinião para fora e aqui essa foi a mensagem através de músicas e letras fortíssimas e sobretudo políticas que inspiram reflexões e tiram de cima o peso pejorativo que os fãs de heavy metal carregam no lombo (alienados, marginais e etc.). 

Dark Roots of Evil é digno de destaque porque reflete muito bem a sociedade americana e sem medo nennhum expõe a face mais podre e hipocríta e colocam lá no chão o sonho americano (coisa que nem os escritores Bukowski, Hunter Thompson, Norman Mailer e os Beats fizeram em seus vários livros), e isso é a prova de que o heavy metal tem esse poder transformador, pois ele não é só a música pela música como uma forma estética antes de tudo ele é uma forma de expressão que aqui atinge com maestria todo o seu significado e dá as respostas necessárias e levanta várias outras questões igualmente necessárias por isso até hoje se faz relevante e leva milhares de pessoas conhecê-lo, pois o existe ali é a criação da identidade do artista com o seu fã é um laço que se cria, porque o cara fala através da música o que necessário ser dito e funciona como um porta voz daqueles que se identificaram com ele e é essa missão que Dark Roots of Evil cumpri, pois ele acerta o alvo em cheio. 

Seria bom se os políticos (Barak Obama que pleiteia o segundo mandato, Romney que pretende assumir a Casa Branca e ser o próximo presidente da nação mais poderosa do planeta, Dilma presidente do Brasil a sexta maior economia do mundo, mas que amarga péssimas posições pelo IDH, entre outros líderes tanto dos países em desenvolvimento quando dos desenvolvidos) ouvissem Dark Roots of Earth, pois talvez eles se lembrassem que a suas prioridades são o povo que os elegem e garantir sim os interesses da população em detrimento dos grandes grupos econômicos e seus interesses espúrios que historicamente transformaram a democracia numa espécie de "santa de altar" como dizia o celebre escritor português José Saramago, para se invocada para atender aos interesses dessas classes sempre em detrimento do povo e você fã brasileiro que leu este texto se identificar com ele, pois não seria estranho isso acontecer aliás nossa formação como povo, nosso dia-a-dia estão ali indiretamente), você encontrou o seu manifesto sonoro em Dark Roots of Earth do Testament (isso se você gostar de uma banda pelo conjunto da obra, ou seja, gosta de um álbum não apenas por causa da música pela música e também aprecia as letras, a mensagem) por isso corra e ouça e não tenha medo das respostas, cuja a primeira é estamos diante de um clássico dos tempos atuais.

NOTA: 10   

       

Faixas:

  1. Rise Up
  2. Native Blood
  3. Dark Roots of Earth
  4. True American Hate
  5. A Day in the Death
  6. Cold Embrace
  7. Man Kills Mankind
  8. Throne of Thorns
  9. Last Stand For Independence
Bonus:

  1. Dragon Attack
  2. Animal Magnetism
  3. Powerslave
  4. Throne of Thorns


   
     


       


                                   
















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