19 de junho de 2012

Classic Hard: Deep Purple - Come Taste The Band (1975)


A verdade sobre o Deep Purple é que além ser uma banda clássica e fundamental para o Hard Rock, ou seja, fundamental para a criação de suas bases é que a banda sempre foi subestimada e resumida apenas a música Smoke On The Water em alguns casos ligeiramente melhores alguns voltam seus olhos e ouvidos apenas para o MK II e para os que tem a cabeça mais aberta ainda param para escutar o primeiro álbum do MK III, o Burn (1974) e quando o assunto é o Stormbringer (1974) já torcem o nariz dizendo que aquele não era o verdadeiro Deep Purple e no caso MK IV que apenas gravou um único trabalho a coisa fica estranha, pois também divide a opinião dos fãs.



Como todos sabemos no final da turnê de promoção do álbum Stormbringer (1974) Ritchie Blackmore insatisfeito com os rumos que grupo estava tomando abandona a banda e vai montar o seu Rainbow e para o seu lugar foi chamado um velho amigo de David Coverdale o guitarrista Tommy Bolin (ex-James Gang) que já chegou impressionando no ensaio (ouça o disco duplo Days May Come and Days May Go, que trás os ensaios de gravação do álbum em questão) e de pronto já conquistou a vaga. Tudo parecia perfeito principalmente para Glenn Hughes, pois encontrou um parceiro que se encontrava com os mesmos problemas com drogas, mas no caso as substância eram diferentes.

Portanto é justamente com este novo line-up o Deep Purple vai gravar o último de estúdio da década de 1970, pois em 1976 a banda encerraria as atividades, mas antes do fim o grupo entrou no Musiclands Studios e a produção foi assinada em parceria da banda com Martin Birch e os trabalhos de gravação do décimo álbum começaram no mês de agosto e terminaram no primeiro dia de setembro e o disco foi lançado em outubro de 1975 e ainda continuava a causar reações negativas dos fãs mais radicais que ainda continuavam a afirmar que aquele não era o verdadeiro Deep Purple.


O álbum Come Taste The Band completa o período de transição que começou com Burn (1974), quando a banda pela primeira vez ousou experimentar utilizando suas influências de soul/funk trazidas pelo baixista Glenn Hughes, mas neste primeiro momento elas aparecem sim e apesar de serem tranqüilamente detectaveis ficaram em segundo plano, pois o hard rock falava mais alto naquele momento, pois a banda necessitava de um álbum de impacto daqueles arrasa quarteirão e de fato conseguiram e provaram que a nova formação se encaixava perfeitamente na banda e que não precisava mais provar na para ninguém e dali para frente era seguir o seu caminho lançando seus álbuns regularmente.

Com a sonoridade renovada resolveram cair de vez na sua faceta mais experimental e lançaram o segundo álbum dessa nova formação o excelente Stormbringer também lançado no mesmo ano que o primeiro, mas desta vez o grupo mergulhou fundo nas suas influências de soul/funk sem deixar de lado o Hard Rock apostando numa sonoridade mais tranqüila e os duetos feitos entre o baixista e o vocalista destacavam nitidamente como no anterior, mas essa mudança deixava claro que dali para frente não haveria mais volta e banda conseguiu finalmente achar o seu ponto de equilibrio e o teste havia dado certo do ponto de vista dos músicos (que pensam totalemente diferente de um fã que apenas pega o trabalho pronto e ouve e depois apenas só emite sua opinião dizendo se gostou ou não).

Portanto neste álbum, todos haviam encontrado as suas principais carateristicas que seriam exploradas no álbum seguinte (e nas suas carreiras posteriores ao fim do grupo), e é, justamente em Come Taste The Band que o Deep Purple completa o processo de transição e reúne o melhor dos dois álbuns anteriores, revelando Tommy Bolin como a escolha certa para fazer esse trabalho, pois guitarrista prodígio desfilou todo o seu talento que pareceia inesgotável, enfim uma fonte sem fim de habilidade e criatividade que podem ser conferidas neste álbum.


Os outros membros também merecem destaque e comecemos por Ian Paice o cara não tem tempo ruim, mostrando toda a sua versatilidade justificando porque é considerado um dos melhores bateristas de rock de todos os tempos  e os teclados de John Lord voltaram a funcionar como uma segunda guitarra e as vezes chegando até a confundir e o baixo também se destaca, pois apesar de Glenn Hughes atacar de vocalista, também comanda os grooves, swingando com destreza digna de um verdadeiro mestre do instrumento e David Coverdale novamente dá um show a parte desfilando sua bela voz embalado pelas suas principais caracteristicas, enfim um exímio vocalista de hard rock.

E os destaques que comandam o álbum já começa de cara com Comin' Home cheia de melodias comandadas pelos magnificos teclados de John Lord, acompanhados pelas veloses guitarras de Tommy Bolin recheadas de solos virtuose, contando ainda com excelentes linhas do baixo pulsante de Glenn Hughes e as linhas vocais de David Covardale sempre precisas mesclando perfeitamente a melodia e agressividade. Em Lady Luck o baixo swingado de Hughes toma conta e Ian Pace desfila com maestria suas quebradas e viradas para lá de precisas e a guitarra melódica e também swingada da conta do recado perfeitamente e os refrões são de fácil assimilação.

Em Gettin' Tighter o swing domina as linhas de baixo, o teclado, a guitarra somados ao dueto caem muito bem e mostram perfeita sintônia do conjunto que esbanja talento individual revelando-se verdadeiros mestres principalmente na parte onde a guitarra swinga através de pequenos solos e os coros não deixam por menos e os refrãos também grudam e não saem mais da cabeça tipico daquelas faixas que você canta sem perceber, Já em Dealer a levada instrumental já apresenta o andamento cadenciado com destaque de 100% para a guitarra com seus riffs e solos demolidores e para o feeling dos vocais de Coverdale que mais uma vez detonam sem piedade.


Na quinta faixa I Need Love o swing volta a aparecer em grande estilo sempre comando pela  guitarra e pelo baixo que oras se revezam nessa função e os riffs e solos despejados a todos os momentos revelam que Bolin foi a decisão correta, pois mostrou-se perfeitamente adequado ao processo criativo fazendo uma excelente parceria com Glenn Hughes nos momentos mais swingados que as as vezes parecem um espécie de duelo deixando as músicas mais pesada como neste caso onde este lado se sobresaiu. Drifter começa arrasadora com belos riffs acompanhado pelo groove da cozinha num ritmo mais cadenciado e pesado onde Covaerdale mais uma vez impõe seu estilo vocal e simplesmente passeia pela música com excelencia descomunal para brilhar nos refrãos, acompanhado de belos coros.  

A faixa Love Child segue na mesma linha de Drifter mas o destaque agora fica com os teclados de John Lord que também entram swingando, e no caso de This Time Around que é uma balada os méritos ficam para os arranjos de piano e os vocais soul de Glenn Hughes, que é sucedida pela instrumental Owned to G mostra que a banda do ponto de vista instrumental estava perfeitamente entrosada e Tommy Bolin manda ver solos caprichadissímos, virtuose pura e pode-se tranqüilamente comparar ao grande mestre Ritchie Blackmore. E fechando o álbum vem Keep On Moving outra faixa cadenciada que conta um belissimo dueto vocal um dos melhores já feitos na história do rock e o resto é aquilo que já conhecemos Bolin arrasando nos solos, John Lord participando com grandes melodias dos seus teclados e a bateria sempre precisa de Ian Pace e o baixo pulsante sempre marcando presença e é assim que o Deep Purple encerra esse grande álbum.

Mas o álbum não fica restrito apenas as músicas, pois não podemos nos esquecer das letras, parte importante  porque é através delas que o artista expressa a sua mensagem, no caso desta quarta formação (e anterior também), apresentavam uma melhora significativa refletindo maior maturidade em relação a formação clássica o MK II, ao passar suas mensagens através de suas músicas cuja as letras nem sempre acompanhavam o talento dos musicos e algumas letras eram verdadeiramente mastodônticas e isso talvez ajude a explicar porque o Deep Purple foi tão subestimado considerando que na década de 1970, boa parte dos jovens refletiam sua insastifação com as instituições sociais através das letras, das músicas.   


Para promover este álbum e também para manter a máquina girando portanto faturando alguns milhões de dólares mundo afora caíram na sua última turnê a derradeira, pois como todos sabemos as turnês são lugares privilegiados para os músicos extravasarem, ou seja cometerem seus excessos (drogas, álcool e sexo), e com o Deep Purple não foi diferente e foi justamente ai que os problemas que levariam a banda ao fim precoce se afloraram, pois como bem sabemos o baixsta Glenn Hughes era viciado em cocaína e o guitarrista Tommy Bolin era viciado em heroína e costuma apresentar-se em total estado de embriaguez e mal conseguia tocar pelo fato do braço estar paralizado (pelo fato de tal substância ser consumida pelas vias intravenosas), fato que tornava as apresentações instáveis devido ao estado em que o músico se apresenta para a realização do show.

A turnê foi realmente um estouro, começando pelo Reino Unido e além dos os problemas a tour se extendeu para o continente asiático e além dos problemas já citados a banda teve a infelicidade durante a parte ásiatica com data na Indonésia na cidade de Jacarta onde ocorreram sérios problemas com a morte de um membro da equipe técnica fora outros incidentes com a polícia que pôs fim a um show onde as pessoas tentavam dançar e pelos várias quebra-quebras promovidos pelo público. O fim da banda finalmente aconteceu em 1976 porque os problemas com as drogas de Glenn Hughes e Tommy Bolin ficaram insustentaveis e não houve outra maneira para resolve-los ou pelo menos para contorná-los, mas podem ser conferidos  nos seguintes registros desse período conturbado, devidamente registrados no álbum ao vivo Last Concert In Japan (1977) e no documentário Pheonix Rising (2011).

O fim do Deep Purple marca o fim de uma era brilhante, pois o MK IV é o testemunho de uma época incrivel não apenas do grupo, mas de um tempo memorável do rock pesado que terminava precocemente para o quinteto inglês que deixava seu legado como prova irrefutável de que esta formação era sim, um dos gigantes que infelizmente sucumbiu aos excessos, cujo o falecimento também precoce do guitarrista Tommy Bolin reafirmava toda a situação pela qual o grupo havia passado no pequeno espaço tempo que esteve junto extremecendo as pláteias mundo afora, mas deixa um ponto de reflexão, seria essa formação tão inferior aqueles que lhes precederam? Essa é uma resposta de foro íntimo que só você leitor poderá responder, quando fizer como eu e aceitar o convite para sentir o sabor do som deste disco, que assim como o vinho a cada ano que envelhece fica melhor ainda, ou seja imperdível.         

2 comentários:

  1. Se esse disco não é meu favorito, certamente é um dos... A combinação Coverdale/Hughes é incrível.

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  2. Para mim não só esse como os anteriores sãos os meus preferidos do Deep Purple.

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