10 de abril de 2014

Rock Brasil: 10 obras primas, das décadas de 1960 e 1970, para você delirar


O Brasil na música sempre foi um país muito criativo e, portanto, não é verdade que só temos samba, pagode e axé. Temos por aqui rock do bom, mas o que me interessa nesse caso é aquele do passado que figurava nos anos 60. A beatlesmania saiu da pequena ilha de Albion e se espalhou como um vírus e foi infectando a juventude e no Brasil não foi diferente e uma série de bandas começaram a pipocar. Era uma época em que as garagens exportavam talentos que deixaram atrás de si uma discografia impecável e mesmo que as vezes essas se resumissem de um a dois álbuns estes sempre impressionavam. 



Os frutos das influências externas a nós foram resignificados, ou seja, ao invés dos nossos artistas apenas reproduzirem aquele rock n roll vibrante aqui o lance deu a famosa abrasileirada e ai rolou aquela miscelânea musical que podemos conferir nos diversos discos de rock brazukas. Eu pessoalmente falando sempre tive uma resistência, mas não por preconceito, mas musical porque achava leve demais e por isso não ouvia e passava longe mesmo preferia o som do Deep Purple, Black Sabbath e Led Zeppelin não por eles serem ingleses, mas porque faziam um som que mesclava feeling e técnica e isso resultava em discos pesados de arrasar o quarteirão inteiro sacou? 

Depois que eu fiquei mais velho é que os meus ouvidos e mente foram amolecendo e permitiram ter a necessidade de ouvir as bandas brasileiras das décadas de 1960 e 1970, e depois de audições bem detalhadas pude conferir rock, samba, jazz, folk, pequenos elementos de blues que forjavam sonoridades poderosas e ainda por cima psicodélicos com letras super bacanas e viajantes, enfim super chapadas de qualquer coisa. Agora depois de ter dito que eu disse o que posso lhes dizer é que vocês devem sempre ter a mente aberta para tudo ao que está ao seu redor é uma maneira de aprender e olha que nestes últimos não me faltaram lições e desafios novos e você o que aprendeu ou quer aprender? 



Os Mutantes - Os Mutantes
Data de lançamento: Junho de 1968 
País de origem: Brasil 
Estilo: Rock 
Line-up: Rita Lee (v), Arnaldo Baptista (g, v) e Sérgio Dias (g, v).
Premiação: Desconhecida 
Produção: Manoel Barebein     



Este é um daquele discos que você ouve e não acredita no que está ouvindo e dúvida, pensa, pensa e pensa e mas depois que caí na real quando se dá conta que para esse super trio brasileiro não existe limites e barreira musicais era algo desconhecido nesse período da música não apenas aqui. E neste disco encontramos rock psicodélico, sertanejo, os elementos da tropicália e o experimental funcionando na mais perfeita harmonia e o som é um suave deleite. 

Participam do disco artistas como Gilberto Gil que aparece em "Bat Macumba" tocando a percussão e também co-autor da faixa. A faixa "Minha Menina" é de autoria de Jorge Ben e ele participa tocando guitarra acústica e fazendo vocais também, enfim é um dos hits do disco (tema do seriado Tapas e Beijos). Panis et Circensis (Pão e Circo) é o grande hit do álbum e foi composta pela dupla dinâmica Gilberto Gil e Caetano Veloso e nas mãos dos Mutantes ela ganhou uma versão matadora, mas o que vale é a crítica para os generais do regime militar. O experimentalismo dá as caras na fantasmagórica "Trem Fantasma". Para quem gosta de rock psicodélico e não conhece a melhor brasileira está aqui um convite. 

Novos Baianos - Acabou Chorare 
Data de lançamento: 1972 
País de origem: Brasil 
Estilo: Rock/Mpb 
Line-up: Baby Consuelo (v, p), Paulinho B.C (v, p), Pepeu Gomes (g), Morais Moreira (v, v), Dadi Carvalho (bx) e Jorginho Gomes (bt)
Premiação: Desconhecida 
Produção: Eustáquio Sena, João Araújo 



Esse é outro disco brasileiro que nasceu clássico e é brasileiro com "B" maiúsculo. A banda pode ser o time de futebol que eles mesmo diziam e podiam também ser uma família daquelas bem grandes que anda para cima baixo juntos e que sempre juntam para todas as festividades.  Aqui começava a fabricar-se nomes de peso da cena musical brasileira como Pepeu Gomes, Baby Consuelo e Morais Moreira que na década de 1980 emplacaram carreiras consagradas em gêneros diferentes do começo. 

Em Acabou Chorare temos mpb, samba e baião dialogando com a música popular brasileira resultando numa sonoridade única, que encanta e emociona o ouvinte e o torna uma dependente deste material, mas aqui pode-se tranquilo porque este tipo de substância "química" é licita e saudável por isso quando você coloca o disco para trabalhar pode escutar lindas melodias que inclusive dão uma perambulada pelo free jazz, enfim estamos falando de um disco caseiro para os finais de semana quando você só quer descansar a cabeça depois de uma semana estafante e para isso deixe o álbum penetrar a sua mente e fazer a sua cabeça você não se arrepender, eu pelo menos não me arrependi. 

Ronnie Von - A Máquina Voadora 
Data de lançamento: 1970 
País de origem: Brasil 
Estilo: Rock Psicodélico 
Line-up: Ronnie Von 
Premiação desconhecida
Produção: desconhecida 



Muitos vão estranhar e vão perguntar, reclamar e não aceitar e ser contra a inclusão deste disco, mas escondidos atrás de seus pré-conceitos e preconceitos, ou seja, completa falta de conhecimento não sabem que o Ronnie Von é um dos precursores do rock no Brasil é isso mesmo galera. Fã inveterado de Beatles, o cara leu a cartilha de "A" a "Z" e entrou no estúdio misturou a personalidade dele na bolacha e saiu de lá com a máquina voadora dele para mostrar a sua potência ensurdecedora. 

O disco é totalmente influenciado pela fase psicodélico dos garotos de Liverpool e ainda por cima é conceitual cujo tema é a aviação e tem como base intelectual, os livros de Antoine de Saint Exupéry, porém o principal é o Pequeno Principe. O disco não foi um sucesso de vendas muito pelo contrário foi um fracasso, mas é a trilha sonora para você pegar a estrada nas férias rumo a praia ao som de "A Máquina Voadora", "O Verão nos Chama" e também permite uma viagem lá nos confins da história em "Civilizações e Continentes" e tem também o seu clima romântico em "Seu Olhar no Meu", enfim é um disco para ouvir calmamente tomando uma breja totalmente relaxado na poltrona.   

Secos & Molhados - Secos & Molhados
Data de lançamento: 1973 
País de origem: Brasil 
Estilo: Rock/Mpb 
Line-up: Ney Matogrosso (v), João Ricardo (vl), Gerson Conrad (vl), Marcelo Frias (bt), Sérgio Rosadas (f), John Flavin (g), Zé Rodrix (p), Willi Werdaguer (bx) Emilio Carrera (bt). 
Premiação: Disco de platina (ABPD) 
Produção: Moracy do Val 

Para mim este é um maiores discos de todos os tempos da história musical é uma obra prima sem igual, pois ele é rock, psicodélico, folk e tem baião e dá uma bola com o Glam Rock enfim é um som chapado de fábrica. Imagine três caras de caras pintadas e um deles o vocalista é um cara andrógino no mesmo gênero de Ziggy Stardust e é tão refinado, clássico como este e principalmente com identidade própria cantando músicas que te tocam no fundo da alma e te afagam o coração. 

Músicas como "Sangue Latino", "Patrão Nosso de Cada Dia" e "Rosa de Hiroshima" são de uma beleza incomparável, eles respiram o que é ser brasileiro, latino e te levam para passear dentro de um Brasil que você talvez pensou conhecer, mas que infelizmente não conhecia até então. Ney Matogrosso e os seus comparsas deram o tiro certo lá bem no meio do alvo e de tabela também me pegou em cheio bem no meio da minha cabeça e deram uma substancial mudada na minha vida deixe esta bala também te atingir. 


Som Nosso de Cada Dia - Snegs 
Data de lançamento: 1974
País de origem: Brasil 
Estilo: Rock Progressivo 
Line-up: Manito (t, sx, f) Pedrão (g, bx) e Pedrinho Batera (bt) e Marcinha (c) 
Premiação: Desconhecida
Produção: Júlio Nagib 


O Brasil na década de 1970 teve uma ótima produção de álbuns no campo do Rock Progressivo. Bandas como Yes e Pink Floyd lideraram o gênero por toda década de 1970 e naturalmente tornaram-se o espelho para quem vinha atrás e o Som Nosso de Cada Dia foi tragado para dentro desse furacão. Os caras fizeram um disco com um som clássico e brasileiríssimo e no mesmo ano de lançamento de Snegs os caras abriram todos os shows da turnê brasileira, do Alice Cooper. A capa do álbum é super sugestiva e encontra uma faixa falando sobre o trago do suco elétrico que leva ao "paraíso". 

Resumido a sete faixas, Snegs é pura viagem, alucinação por um mundo paralelo onde as pessoas encontram-se com um mundo de variadas matizes. Faixas como Sinal da Paranóia, Bicho do Mato, Snegs de Biufrais e a Som Nosso de Cada Dia são os hinos de todos viajantes da alma no tempo e no espaço em busca de um sentido para vida e para quem ouve não o confunda com um livro de auto ajuda, mas espere dele muitas outras coisas e uma delas é fazer a sua cabeça daquele jeito com aquelas coisinhas que todo mundo gosta, mas não assume.  

O Peso - Em Busca do Tempo Perdido 
Data de lançamento: 1975
País de origem: Brasil 
Estilo: Hard Rock 
Line-up: Luís Carlos Porto (v), Gabriel O´meara (g),Constant Papinianu (t), Carlinhos Scart (bx) e Geraldo D´arbilly e Carlos Graça (bt)
Premiação: Desconhecida 
Produção: Guti Carvalho   

Já mostrei discos de rock brasileiro de vários matizes e agora está na hora de mostrar o hard rock pegado no blues para ser escutado no talo, ou seja, é para você ligar o toca discos e virar o volume no último e que se dane que não gostar do som. O Peso é um dos nossos representantes do Hard Rock e uma das bandas mais importantes da década cujo seu primeiro e último álbum Em Busca do Tempo Perdido mostra e comprova o talento que o Brasileiro tem para música nos mais variados estilos e é uma pena que o rock pesado não seja valorizado como merece. 

Neste disco, o grupo caprichou na sonoridade arrojada e bem equilibrada com guitarra pesada falando o idioma corrente dessa vertente sonora e com os demais integrantes afiados exprime no álbum a essência do rock que você pode conferir em "Sou Louco por Você", "Blues", "Lúcifer", "Cabeça Feita" e na faixa título. Esse é um disco que coloca a tua cabeça para funcionar daquele jeito e é um pecado você deixa-lo de fora de seu aparelho de som e estante.    


Made in Brazil - Made in Brazil 
Data de lançamento: 1974 
País de origem: Brasil 
Estilo: Hard Rock 
Line-up: Celso "Kim" Vecchione (g), Osvaldo Vecchone (bx), Cornelios Lucifer (v), Rolando Castelo Júnior (bt), Fenilli (p) e Scavazini (t)
Premiação: Desconhecida 
Produção: Celso e Osvaldo Vecchione 


Uma banda que conta Osvaldo Vecchione e Cornelios Lucifer não pode ser ruim e a maior prova disso é o primeiro álbum do Made in Brazil, os paulistanos já saíram de cara incendiando o cenário rock com um hard rock calcado no blues mostrando faixas rápidas com encantadores riffs de guitarra e um vocalista possuído fã de soul que detonava em cima do palco. A banda dos irmãos Vecchione brilhava mais do que a estrela do baixo do Osvaldo e esse brilho refletia nas canções bombásticas no estilo Zeppelin. 

Pouquíssimas bandas tiveram o mesmo poder de sedução que esses paulistas tiveram e um dos segredos era saber escrever letras em português que combinassem com a sonoridade pesada, elétrica e distorcida do rock. Se você ainda não conhece, mas se conhece resiste ao som dos caras por não gostar do lance em português reveja os seus conceitos e tente procurar um ponto em comum e olhe que ali tem vários. 

A Bolha - Um passo a frente 
Ano de lançamento: 1973 
País de origem: Brasil 
Estilo: Hard/Progressivo 
Line-up: Pedro Lima (g), Renato Ladeira (or, g, v), Arnaldo Brandão (vx, v) e Gustavo Schroeter (bt) 
Premiação: Desconhecida 
Produção: Fabian Ross  


Na década de 1960 estes caras foram o The Bubbles e até se apresentaram no Festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, ao lado de Gilberto Gil. Na década de 1970, o The Bubbles mudou de sonho e virou a bolha. Essa bolha é muito bacana, os caras tem um som descolado o som é uma mistura efusiva de hard e progressivo muito bem tocada. 

Em 1973, eles lançaram o primeiro disco intitulado "Um Passo a Frente". Este álbum é mais do que um passo para frente é uma visão de gênio que se desenrola a medida que este disco vai para frente, ou seja, não tem uma música ruim. As canções são cantadas em português, porém existem algumas cantadas em inglês e ai é que está um dos segredos desse disco, pois para fazer letras em português para um cuja predominância é o inglês exige talento e este você confere em "Um Passo a Frente", "Razão de Existir" e a "Esfera".


Raul Seixas - Gita 
Data de lançamento: 1974 
País de origem: Brasil
Estilo: Rock 
Formação: Raul Seixas (v, g), Luis Cláudio Rick Ferreira, Tony Osanah, Alexandre (g), Luizão, Ivan, Sérgio Barroso, Juan Roberto Capobianco, Paulo César Barros (bx), Mamão, Paulinho, Gustavo (bt), Zé Roberto, Miguel Cidras (t).  
Premiação: Disco de ouro (ABPD) 
Produção: Marco Mazzola

Naqueles tempos o autor da Alquimista ainda não era o xarope que se tornou e por isso a parceria entre Paulo Coelho e Raul Seixas foi bem sucedida e marcou época no rock nacional. Gita é um disco para você ouvir bebendo e fumando o que você quiser, enfim é recheado de pérolas com dois pés em algo sagrado, místico. O ponto alto numa época de tortura e morte praticado por um governo sanguinário através dos aplausos de sociedade alienada é claro que necessitava-se de uma Sociedade Alternativa como válvula de escape e "Faça tudo o que você quiser e será da lei" seria uma alento no meio das trevas. 

Para mim é um dos maiores de todos os discos de rock de todos os tempos. O baiano nada em outras praias além do rock e é ai que o disco se sobre saí, pois o cara vai buscar o folk, o baião, bolero, progressivo e monta um algo genuinamente brasileiro transbordando originalidade. Quando você bota o disco para rodar é de cair o queixo do começo ao fim, e diga-se de passagem a faixa título é maravilhosa tanto na letra quando na melodia. Bom agora vou tomar "O trem das 7" para ir para casa ouvir este disco boa noite.    


Terreno Baldio - Terreno Baldio 
Data de lançamento: 1976
País de origem: Brasil 
Estilo: Rock Progressivo 
Line-up: João Kurk (v, f, p), Mozart Mello (g), Roberto Lazzarini (t), João Ascenção (bx) e Joaquim Correia (bt, p)
Premiação: Desconhecida 
Produção: Cesare Benvenuti e Arnaldo Sacomani  


Essa para mim é uma das melhores bandas que já surgiram no progressivo em todos os tempos. A estreia é clássica tanto musicalmente quanto liricamente falando. Esses caras já faziam algumas críticas interessantes ao mundo moderno e também concordo quando dizemos que a automatização do mundo e das pessoas produz pessoas cada vez mais robotizadas no sentido pleno, mas voltemos ao que interessa, a música desse baita álbum onde os caras se equiparam a trovadores é só conferir a balada "Loucuras de Amor". 

Para sair do ar e entrar no Terreno Baldio ouça "Grito" essa faixa captura a essência do rock progressivo e é mais do que um grito simples é o grito no estilo de Edward Munch, ou seja, no desespero social do caos e da lama nos levando a vida nas várias forma de violência. As demais são pequenas pérolas e você pode se abrigar nas "Asas Azul" e sair pelos céus de verão curtindo os raios do sol e tranquilidade da brisa fresca e para relaxar fique em paz ao som de "A Volta", "Este é o lugar".   



       



Nenhum comentário:

Postar um comentário