10 de abril de 2014

Jornalismo Gonzo: Livros para ler e pirar na estrada


Os livros são a porta de entrada para mundos fantásticos, imagéticos e revolucionários, enfim eles abrem as portas das dúvidas e abrem a mente para os questionamentos. Imagine livros não políticos e nem de ciências humanas ou romances, mas livros escritos por jornalistas que contam as suas peripécias na estrada ao rodarem por ai com os seus entrevistados, enfim antropólogos em campo pesquisando e como diz a própria disciplina coloque-se no lugar do objeto de pesquisa para saber como é. Existem muitos que vão além e incorporam o objeto, mas isso é triste? Não, desde que você saiba seus limites se é que você me entende. Entende? Sim? Não? Então vamos conversar mais? 


Nos anos 1960, Hunter Thompson inaugurou o jornalismo gonzo que preconizava o abandono de uma narrativa no estilo cinematográfico, jornalistica ou qualquer outro tipo. Nesse estilo é dispensável a parcialidade pelo objeto uma vez que o jornalista interage com o objeto diretamente como se fosse um antropólogo (com algumas diferenças). O ideal desse estilo é viver situações extremas de transgressão, enfim é puramente subjetivo. A autoridade acadêmica que vá o inferno!!! O que importa é a diversão que livros como Hell´s Angels, O teste do Ácido do Refresco Elétrico e Paraíso na Fumaça proporciona a nós leitores.

E nas linhas discorridas aqui falaremos algumas coisinhas básicas sobre essa trinca muito louca cuja trilha sonora mais apropriada é o sagrado, iluminado e velho rock n roll nosso de cada dia. Se você depois de ler este texto se interessar por alguma destas obras ou por todas não se esqueça da trilha sonora, ou seja, capriche nela, mas lembre-se é compulsório o rock ter primazia aqui e em outros lugares da vida. Bom, chega de papo furado! Sem mais delongas passemos aos livros! 


Quando você abrir esse livro e começar a ler faça um favor a si mesmo esqueça de tudo o que você já viu sobre esses caras. Todo mundo que fez um filme ou um livro sobre caras mal encarados, arruaceiros que quebram todos os bares, pegam todas garotas e ainda por cima tocam fogo na cidade e fogem alucinados, delirando como loucos. Lembre-se deste livro como fonte de inspiração é isso mesmo, o impacto desse livro na sociedade norte americana daqueles longínquos 1966 foi estrondoso, porém não serviu para desfazer a imagem construída em torno desses homens de barbas longas, trajados em couro, montados em suas Harley Davisons cruzando o país como se fossem piratas no estilo Barba Negra fazendo as suas arruaças coast to coast em busca de doses cavalares de violentas emoções. 

Esses caras violentos, beberrões voltaram dos horrores da Europa nos anos 40 traumatizados pelo que viram e fizeram resolveram viver o sonho americano e conhecer a nova onda em cima de uma motocicleta queimando gasolina e derretendo pneus pelas estradas sem nenhum compromisso com nada e fazendo tudo o que aparecesse pela frente nos seus "rolezinhos" (qualquer semelhança é pura coincidência). 

Loucuras de uma noite verão, tardes de um verão? Viagens patrocinadas por psicotrópicos e abusos de litros e mais litros de Southern Confort ou qualquer Whiskey barato de beira de estrada em qualquer pulgueiro lotados de malandros, drogados e prostitutas pode ser o enredo típico para degenerados que rodam por ai de duas rodas apavorado as "pessoas de bem". Tudo isso e mais alguma estão aqui sobre estes caras violentos, bêbados, drogados, racistas e de baixa instrução estavam completamente a margem da sociedade até que o sistema os achou e os colocou no "céu" a base de muito sensacionalismo e propaganda rasteira a fim de vende-los como um produto da moda parisiense cujos desfiles rolavam pelas estradas. 

O que o gênio de Hunter Thompson coloca na roda para os seus leitores são histórias sórdidas e traça um excelente esquema sobre os anti heróis de duas rodas, que deram muita dor de cabeça para o sistema e amedrontaram cidades inteiras por onde passavam fazendo, aprontado todas as suas. O livro é ótimo e não pode ficar de fora, mas se você pensa que vai encontrar o episódio de Altamont, Acid Tests esqueça não é este o lugar, aqui é um relato profundo aproximado dos trabalhos de campo de um antropólogo com suas devidas diferenças. A trilha sonora é claro que tem que ser o rock não existe outra maneira para ler um livro desses cuja a trilha sonora não seja The Doors, Rolling Stones, Jeferson Airplane, The Who e muitos outros, mas por favor evite os clichês logo de saída porque para tudo nesta vida existem limites muito bem definidos e por isso os exageros, a breguice deve por lei de bem estar ficar longe se é que você me entende.  

Este aqui é o lugar certo para quem quer saber sobre os Acid Tests ou melhor sobre Ken Kesey, o iluminado autor do romance "Um Estranho no Ninho" lançado em 1962 e estrelado por Jack Nicholson nos cinemas, em 1975, cuja direção é assinada por Kubrick. Deixando esses detalhes técnicos de lado vamos para o que interessa, a obra na verdade é uma biografia do sujeito que liderou os Marry Pranksters cujo time era formado por: Neil Cassady, Ken Babbs, Grateful Dead, Stewart Brand e mais uma galera bem louca que montaram no seu mágico tour bus pelos EUA preconizando o uso do ácido através de festinhas lisérgicas muito loucas. 

Esta obra é importante para quem quiser entender a febre psicodélica de 1967, o verão do amor, que deixou marcas profundas ao redor do mundo. Aqui Tom Wolf narra a ascensão e queda deste grupo de malucos liderados por Ken Kesey que singraram desesperadamente as rodovias norte americanas, mas ao invés de santifica-los, o jornalista despejou críticas e mais críticas as contradições e o lado sombrio dos protagonistas desse movimento caliente também não escapou. A ideia do grupo ao distribuir o lsd era mostrar que ele era um agente de transformações, ou seja, que quem o tomasse poderia ter a vida mudada para melhor e de fato abalou as estruturas daquela sociedade, mas só que as coisas tomaram o lado negro da força. 

Este aqui foi escrito por um repórter muito louco também, que trabalha para a High Times que é uma unanimidade entre os maconheiros de carteirinha do fã clube mais chapado da cidade e o lance aqui é o seguinte: Chris Simunek, o autor dessa obra, narra as suas loucas aventuras pelo mundo e nessa jornada insana que durou dois anos, o cara escreveu texto super bacana relatando as suas experiências numa convenção de motociclistas, rave de adolescentes, plantações gigantescas de cannabis e ainda toma doses de anfetamina com outro herói (Lemmy Kilminster). 

Esse é o trampo que qualquer cara gostaria de ter, pois imagine você rodando por ai com tudo pago para escrever suas impressões nos mínimos detalhes por onde andou, mas também entrando em algumas barcas bizarras como fumar um sapo venenoso é isso mesmo veneno e pelo visto do bom que faz a cabeça saca? Esse livro também deve ter uma trilha sonora e aqui você pode até apelar para um reggae já que ele passa pela terra do gênero e também pode deixar rolar, a toda velocidade, no mais alto volume Motörhead, e pode estender para outras bandas como o Black Sabbath e neste caso pode ser Sweet Leaf pode até ser clichê, mas pelo menos não é batida e não tem limites nesse caso já que esse livro é bagulho do bom, mas lembre-se não é para fumar é para ler o livro, certo? 





  

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