Em
1968, o Cream entra na reta final de sua breve carreira sem sabê-lo. Tudo
parecia ir muito bem com o sucesso do álbum Disraeli Gears em 1968. O grupo
estava entrando no auge de sua criatividade e explorando os terrenos férteis do
psicodélico ao máximo. É até clichê dizer que se trata de uma reunião gênios,
um super grupo entre outros, pois os álbuns, as apresentações ao vivo do Cream
falavam por si só, o que era a banda de fato. A verdade é que o Cream estava
construindo uma ponte sólida para a década de 1970 e principalmente aos poucos se
transformava em referência para a nova geração de bandas que estava por vir.
As
gravações de Wheels of Fire aconteceram em 1967, à produção ficou novamente sobre
a responsabilidade de Felix Pappalardi e a banda fez uma peregrinação de julho
de 1967 a fevereiro de 1968 passando pelo IBC Studios, em Londres e terminando
no Atlantic Studios. Em agosto o álbum saiu, mas tinha uma novidade até então
nunca explorada por outras bandas, o disco tinha um disco de estúdio com nove
faixas e outro disco com quatro faixas ao vivo cuja origem é do show que a
banda fez no The Fillmore, em San Francisco, em 1968.
Wheels
of Fire é um disco que faz jus ao nome e as ruas realmente pegam fogo do
primeiro ao quarto lado. O maior hit, “White
Room” é o responsável pela abertura do disco e já vem incendiando tudo com sua
pegada pesada e psicodélica. A sequência do disco obedece à época e mergulha
profundamente nas águas lisérgicas e vem com mais um hit “Sitting On The Top Of
The World” um belo blues rock, (que é um cover de Walter Vinson e Lonnie
Chatmon), mas a versão gravada neste álbum é que foi gravada pelo bluesman Howlin’
Wolf, em 1957. Na terceira posição vem “Passing The Time” que na verdade é uma
viagem colorida cheia de improvisos do power trio. Fechando o lado A entra em
cena “As You Said”, mas é uma peça acústica e bem lúgubre, porém cativante.
Abrindo
a lado B mantendo a pegada psicodélica vem “Pressed Rat And Warthog” conduzindo
o ouvinte para lugares totalmente desconhecidos e também mostra o lado multi
instrumentista de Ginger Baker e Jack Bruce que tocaram vários tipos de
instrumentos e solo de Clapton é incrivelmente arrebatador. Outro hit potente,
quente é “Politician” com um ritmo cadenciado com uma pegada blues fazendo
críticas aos políticos. Os solos e os riffs de Clapton se destacam de tudo, ou
seja, são o ponto alto da faixa, que
deve ser ouvida no último volume. Em “Those Were The Days” é um rock bem bacana
com refrãos grudentos e sinos tocando dando um clima tranquilo para derrepente
cair numa pancadaria improvisada de solos instrumentais. Outro cover é a faixa “Born
Under A Bad Sign”, porém a versão gravada é do álbum Homônimo de Albert King
lançado em 1968 também, mas a versão do Cream é bem mais hard, pesada. Fechando
o primeiro disco temos “Deserted Cities Of The Heart” que mantém a mesma pegada das demais faixas e
faz o seu serviço com maestria.
O segundo disco apesar de ser ao vivo resume bem o que era a banda em cima do palco, pois é um resumo perfeito desse power trio e da técnica e do ego de cada um deles, que viviam o máximo da perfeição dos talentos individuais. O Lado C começa com Crossroads uma versão definitiva para este cover de Robert Johnson, cujos arranjos são de Clapton que se destaca nessa música arrebentando com tudo. A faixa "Spoonful" é um cover de Willie Dixon e foi gravada no primeiro álbum do grupo, Fresh Cream (1966). É outra versão definitiva lotada de improvisos comandados pelo trio que não perdoa massacra os seus instrumentos insanamente. No lado D quem abre a parte final da festa é "Traintime" uma composição de Jack Bruce e ele arrebenta no solo de gaita é o destaque solitário da faixa. Fechando definitivamente o disco vem "Toad" uma composição de Ginger Baker e o cara massacra, destrói seu kit sem piedade num solo de bateria de louco e mostra que o baterista é mais que o cara que fica no fundo do palco. Enfim, esse disco poderia tranquilamente ter sido lançado sozinho como um terceiro volume do Live Cream, ele tem força para isso sossegado.
O sucesso do álbum foi tão monstruoso quanto o do seu predecessor e acumulou outro feito inédito ganhou um disco platina com um álbum duplo. Duas faixas foram extraídas para impulsionar as vendas do álbum. A faixa "White Room" um dos singles e o de maior sucesso também alcançou a 6º posição no Billboard Hot 100 e nos charts de sua terra natal atingiu a 28º posição enquanto a faixa "Crossroads" entrou apenas no Billboard Hot 100 e não saiu da 28º posição, mas o álbum atingiu o topo de cara, ou seja, foi direto igual a um gancho no queixo ficando com a 1º posição, no Billboard 200 (o mais importante,pois é a lista dos mais vendidos) e no Billboard R&B Albuns ficou na 11º posição, enfim um nocaute arrebatador na terra prometida rock e na sua terra natal ficou na 3º posição e no resto do planeta também alcançou ótimos índices nas paradas fazendo muito bem o seu trabalho de conquistar.
Outro
assunto que é comum às bandas de rock é o relacionamento interno entre os integrantes
e no Cream isso pegou profundamente entre Ginger Baker e Jack Bruce e virou um
caminho sem volta. O ego dos integrantes aparece nos improvisos ao vivo, pois
cada um aproveita para mostrar a sua técnica e querer sobressair-se sobre os
demais e claro que isso levou o trio a se distanciar cada vez mais e acirrar
ainda mais as brigas e o jeito para tentar contornar a situação foi anunciar
uma pausa e isso aconteceu em dois anos de banda na ativa fazendo sucesso. Só que os fatos acabaram desencadeando o fim precoce do grupo, que acabou antes de mesmo de lançar o álbum como havia dito o empresário do grupo Robert Stigwood, ou seja, uma banda promissora que tinha um futuro brilhante pela frente encerrou as atividades antes da virada da década.
Lista de músicas:
A1 White Room
A2 Sitting On The Top Of The World
A3 Passing The Time
A4 As You Said
B1 Pressed Rat And Wathog
B2 Politician
B3 Those Were The Days
B4 Born Under A Bad Sign
B5 Deserted Cities Of The Heart
C1 Crossroads
C2 Spoonful
D1 Traintime
D2 Toad
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