Na Inglaterra assim como surgiu o heavy metal, hard rock, o progressivo e muitos outros estilos marcantes guardava nos seus porões, nos pubs enfumaçados um outro estilo que floresceria para mostrar novos caminhos e também assinalar mudanças, arejar a música, porém era mais agressivo, revoltado e insatisfeito com a cena política, cultura de seu tempo. É do punk que estou falando, que foi cuidadosamente gestado nos EUA através de bandas como: MC5, The Stooges, New York Dolls, Ramones e mais uma galera que mostrou como é que fazia um som direto sem frescuras, mas de visual extravagante e com forte apelo sexual, chapado com tudo o que tem direito.
O embrião do que viria a ser o Sex Pistols começou a ser modelado bem no início da década de 1970 por Malcom McLaren. Em 1971, ele abriu uma loja de roupas chamada Let It Rock para atender aos Teddy Boys e tal feito acabou por torna-lo uma celebridade entre os músicos das redondezas. Em 1973 torna-se o empresário do New York Dolls, mas essa história não dura muito tempo, pois os problemas de bebedeira, drogas e fato do grupo já estar ultrapassado o fez repensar e meter os pés dentro de um avião para Londres e adeus a todos. Essa aventura pela terra do Tio Sam rendeu a ele lucros, mas não financeiros, pois as ideias que pululavam freneticamente em sua cabeça iluminada determinaram que ele montaria uma nova banda, mas sobre padrões mais modernos é claro, afinal de contas os tempos eram outros em 1975.
A loja é reaberta e o nome passa a ser SEX, e a parceria com a estilista Vivienne Westwood seria definitiva para o vulcão que estava prestar a entrar em erupção em breve. O próximo passo seria começar a recrutar os músicos, mas isso não foi difícil e não muito obstante, ou seja, olhando ao seu redor, ele encontrou parte dos músicos, que eram frequentadores e um funcionário do loja e a primeira dupla eram o Steve Jones e Paul Cook (baterista e guitarrista) e no baixo encontrou Glenn Matlock, mas isso não era tudo ainda faltava o vocalista e inclusive Richard Hell (ex-Television) e Nick Kent (jornalista, crítico musical) foram testados, mas não deu certo não eram o que Malcom tinha em mente. As solução para o seu problema apareceu rapidinho e o testado foi John Lydon (e a vaga foi conquistada cantando por cima de uma jukebox e principalmente por causa do comportamento anti social e mais tarde passaria a chamar-se Johnny Rotten (nome devidamente apropriado) e então começam a ensaiar entusiasmadamente.
Como toda boa família tem suas diferenças e atritos, as bandas tem as suas divergências entre os seus integrantes e no caso do Sex Pistols, elas rolavam com o baixista Glenn Matlock, pois a relação entre ele e Johnny Rotten por causa do ego vocalista então Matlock resolve abandonar a banda e botar o pé na estrada e para o seu lugar foi recrutado um amigo de Rotten e no caso essa persona é Sid Vicious (segundo o vocalista o último verdadeiro fã da banda). O baixista tornaria-se não apenas o ícone da banda, mas o ícone, o produto máximo do punk rock tanto em termos de visual quanto comportamental, atitudes entre outros. O próximo era obter um contrato para gravação porque afinal de contas um bom álbum era fundamental para promover o grupo. Arranjar um contrato não era nada fácil, porém depois de vais e vens estava as vésperas de consegui-lo junto a A&M Records, em março de 1977.
Anteriormente a essa "conquista", a banda, já encontrava-se no Wessex Sound Studios com o produtor Chris Thomas e o engenheiro de som Bill Price desde 1976. E o primeiro problema que apareceu foi o fato do novo integrante, Sid Vicious, não ter habilidades suficientes para gravar o disco completo (mas tocou em Bodies) e para as gravações continuarem o jeito foi recorrer ao antigo baixista que por sua vez disse que faria o serviço, mas queria receber o pagamento adiantado e como não viu a sua cor acabou se mandando e o serviço foi executado pelo guitarrista Steve Jones. Durante as gravações, a A&M Records pulou fora e deixou a banda na mão, mas Malcom McLaren disse para os caras ao continuarem e foi correr atrás do prejuízo e as portas se estreitaram absurdamente, pois as majors como CBS, Decca e Polydor rejeitaram a banda, porém a Virgin Records resolveu remar contra a maré e resolveu apostar na banda e pronto contrato conquistado e assinado com a banda.
As seções de gravação terminaram em agosto de 1977 e o lançamento do álbum rolou em outubro do mesmo ano, na Inglaterra. Os preparativos para o lançamento de Nevermind the Bullocks, Here´s the Sex Pistols começaram com o lançamento do single "Hollydays in the Sun" (porque o set list ainda não estava completo e definido, ou seja, ainda não havia sido completamente gravado), mas este single não se saiu bem sucedido como os outros (God Save the Queen, Anarchy in the U.K, Pretty Vacant) e saiu fora das paradas rapidinho. O álbum acabou tendo duas versões uma com 11 faixas e a outra com 12 faixas e nesta versão a faixa a mais é "Submission". O conteúdo do álbum, ou seja, as letras da músicas tratavam da insatisfação social e falavam abertamente dos tabus, dos problemas sociais, enfim cantava-se, protestava-se contra aos aspectos políticos e sociais conservadores da Inglaterra naquela época. O Punk nasceu para contestar, lutar contra opressão e o Sex Pistols fez isso de forma bruta e impiedosa e jogou esse conservadorismo com violência na cara da sociedade inglesa. O movimento marcou indelevelmente a cultura ocidental em especial na sua terra natal e ficou raízes cujas sementes foram carregadas pelos ventos para bem longe e dando seqüência na revolução punk rock mundo afora.
Toda a bagagem acumulada das influências adquiridas nos EUA transmitida por bandas como Ramones, New York Dolls, Television e da poeta Patti Smith estavam ali reunidos sobre a máxima espraiada por ela e que tornara-se lema do gênero: Faça você mesmo! O álbum abre furiosamente com "Hollydays in the Sun" que vem despejando impiedosamente o seu veneno sonoro e recheada de críticas ácidas ao sistema. Na seqüência vem "God Save the Queen" e mais críticas pesadas apoiadas no niilismo, pois uma das principais características do punk é a constante negação dos aspectos burgueses da vida social. Nevermind the Bullocks, Here´s the Sex Pistols era pura nitroglicerina, dinamite, enfim chame como você quiser, mas este álbum era um explosivo altamente destrutivo e também incendiário, entende? Ele pode ser considerado a obra máxima, que definiu e deu cara ao punk e coloca na baila sua importância cultural. Ao contrário do que as bandas de progressivo faziam para passar as suas mensagens, o punk nesse aspecto era mais radical, direito e através de dois, três ou pouco mais de quatro minutos nos casos excepcionais passavam a sua mensagem, porém com mais brutalidade.
Em "Bodies" continua o protesto, mas também fala-se de tabu - que sobrevive e causa polêmica até hoje em qualquer país cristão - e no caso é sobre o aborto que se fala nesta faixa. Enfim, o set list é uma profusão de músicas clássicas do punk rock e "No Feelings" ataca a falta de sentimentos de uns para com outros e remete a psico e sociopatia. Já liar é uma pancada sonora e a sua mensagem para os políticos contadores de histórias e que na hora "H" só fazem as pessoas sofrer por causa de suas mentiras. "Problems" é um verdadeiro hit e ao mesmo tempo um transmissor incontrolável de raiva, inconformismo numa onda descontrolada de violência. Agora a bola da vez é "EMI" que é uma "homenagem" para a gravadora que os rejeitou. Em "Seventeen" a letra é explicitamente de cunho sexual. Em "Anarchy in the UK" é a proclamação do anarquismo e que este seria o túmulo do sistema capitalista e que tudo seria destruído e devemos nos lembrar que o anarquismo é uma ideologia seguida pelos punks e por isso chamam-se anarco-punks. Em "Submission" é uma excelente canção punk rock daquelas para ficar agitando sem parar e "New York" é uma saraivada de impropérios dos mais cabeludos que se possa imaginar para uma garota que sabe-se lá quem foi.
A promoção do álbum foi marcada pela primeira e última turnê do grupo rumo a terra do Tio Sam para mostrar a revolta, a revolução que os britânicos estavam preconizando naquele momento historicamente importante para a cultura e para o próprio gênero que se imortalizara naquelas quatro figuras apocalípticas que despejavam toda sua fúria, inconformismo contra os padrões da sociedade de cima a baixo sem poupar nada e nem ninguém e isso ficou claro quando o movimento ganhou força e foi as redes televisão da Inglaterra e em horário nobre e no programa de maior audiência a palavra "fuck off" foi disparada por Johnny Rotten e tal ato era uma declaração de guerra e partir daí 50% passaram a gostar e outro 50% por cento passaram a odiar e a imprensa por sua vez também não viu graça e os atacou também taxando-os de oportunistas, o que não era verdade.
Mesmo depois de extinto, o Sex Pistols, continuou fazendo barulho através do álbum que sobreviveu ao famoso e implacável teste do tempo e por isso ainda caminha com toda liberdade e poder pela terra conquistando legiões de novos admiradores, seguidores influenciando-os inclusive a pegar em instrumentos e formar os seus grupos. Em 2012, Nevermind the Bullocks ganhou uma edição deluxe pelos seus trinta e cinco anos e no material além do disco original tem mais um ao vivo que captura e permite o ouvinte compreender a energia da banda no palco naqueles dias e vibrar como um louco.
Lista de Músicas
A1 Holydays in the Sun
A2 Bodies
A3 No Feelings
A4 Liar
A5 Problems
A6 God Save the Queen
B1 Seventeen
B2 Anarchy in the UK
B3 Submission
B4 Pretty Vacant
B5 New York
B6 EMI
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