No ano de 1971, Eric Clapton
era aclamado mundialmente como o melhor guitarrista vivo do mundo, levando-se
em conta que Jimi Hendrix partira dessa para melhor no ano anterior, porém sua
vida pessoal estava de ponta cabeça. Clapton estava apaixonado pela esposa de
George Harrison, seu melhor amigo – com quem viria a se casar em 1979 – e
estava afundando no vício em heroína e no alcoolismo. Sua banda, a fenomenal
Derek and the Dominos, se dissolveu em abril, logo após o lançamento de um dos
álbuns mais incríveis de toda a carreira de Clapton, o fabuloso Layla and Other
Assorted Love Songs.
Em agosto, Clapton se
apresentou ao lado de George Harrison e outros no Madison Square Garden em Nova
York no famoso Concert for Bangladesh e depois sumiu do mapa, se refugiando
como um ermitão em sua casa para um longo período de inatividade e isolamento.
Eric não atendia o telefone ou a campainha, salvo para seus traficantes ou um
que outro amigo mais próximo, e dormia o dia todo após passar noites em claro
tocando guitarra e injetando heroína, esperando que a morte viesse lhe buscar.
George Harrison aparecia de vez
em quando e ambos tocavam guitarras por horas, porém Clapton sentia-se
desconfortável por desejar roubar a mulher do seu melhor amigo, justamente o
cara de quem ele gostava como se fosse um irmão. Outro dos poucos amigos que
apareciam regularmente era Pete Townshend, guitarrista do The Who, com o
pretexto de ajudar Clapton a finalizar algumas faixas inacabadas dos Derek and
the Dominos. Eric agradeceu a Pete pela ajuda, mas havia perdido o interesse
pelo projeto e se entregado a total inércia. Townshend então chutou o balde e
disse que sabia que Clapton estava com sérios problemas com a heroína e que já
havia inclusive conversado a respeito com Harrison e Steve Winwood para acharem
uma forma de ajudar o amigo e salvá-lo da morte certa. Clapton ficou chocado e
horrorizado. Não imaginava que seus amigos soubessem da sua condição. Eric
sentiu-se constrangido, confuso e embaraçado pelo fato das pessoas estarem
preocupadas com ele, mas não ofereceu resistência. “Se você acha que pode me
ajudar, vá em frente.” A conversa reacendeu um pouco do senso de vergonha do
guitarrista, mas no momento ele era um prisioneiro do vício, um escravo inerte.
Nos últimos meses de 1972, Pete
Townshend foi convidado para tocar em um concerto como parte da “Fanfare for
Europe”, uma grande celebração para comemorar a entrada da Grã-Bretanha no
Mercado Comum Europeu. Pete redarguiu que o The Who não iria se apresentar, mas
se comprometeu a formar outra banda para o evento. Townshend viu que seria uma
oportunidade perfeita para trazer Clapton de volta ao palco ao lado de amigos
para incentivá-lo a retomar a sua carreira e romper com os maus hábitos.
O concerto foi marcado para o
dia 13 de janeiro de 1973 no Rainbow Theathe, no Finsbury Park, ao norte de
Londres. O Rainbow, um teatro pequeno e decadente, era conhecido como Astoria
Theatre nos anos sessenta e em meados da década os Beatles se apresentaram no
local. No início dos anos setenta, bandas iniciantes como Led Zeppelin, Jethro
Tull e Yes tocaram por lá, mas o local era geograficamente de difícil acesso
aos fãs de rock, numa zona desprovida de atrativos, e o outrora glorioso
interior do teatro lembrava um velho cinema necessitando de uma redecoração e
uma nova pintura.
Pete Townshend não mediu
esforços para ajudar o amigo e, com o auxílio de Harrison e Winwood, montou a
banda de brothers que iria acompanhar Clapton no Rainbow. Para as guitarras,
além do próprio Pete e obviamente Eric, Pete chamou o guitarrista dos Faces,
Ronnie Wood. Steve Winwood, líder do Traffic, que havia sido colega de banda de
Clapton no Blind Faith, assumiu os teclados e chamou seus colegas de Traffic
Rick Grech (também ex-Blind Faith) para o baixo, Jim Capaldi para a bateria e
Rebop para as demais percussões. O baterista Jimmy Karstein foi convocado para
a segunda bateria. A banda foi batizada com o nome The Palpitations. Os ensaios
foram marcados para dezembro na casa de Ronnie Wood em Richmond.
No tempo em que permaneceu
recluso, Eric escutou música e tocou guitarra diariamente, mas para desenvolver
sua habilidade com plenitude era preciso interagir com outras pessoas, e desde
o concerto para Bangladesh ele não tocava com outros músicos. No primeiro
ensaio na casa do futuro Rolling Stone, Clapton tentou tocar e participar, mesmo
em um nível limitado, mas se sentiu tímido ao constatar sua deficiência em
tocar, vendo que seus dedos não obedeciam ao que seu cérebro mandava. Steve
Winwood o encorajou e lhe transmitiu confiança, e aos poucos os ensaios
evoluíram consideravelmente.
Na noite do show, Clapton
chegou ao Rainbow atrasado e chapadíssimo, deixando Pete Townshend de cabelo em
pé. Na plateia, além dos fãs, uma constelação de rock stars se fazia presente
para testemunhar o retorno de Clapton aos palcos. Logo na primeira fila, estavam
George Harrison e Ringo Starr, sentados ao lado de Keith Moon, Joe Cocker,
Elton John e Jimmy Page, que àquela altura era o mais celebrado astro do rock
da atualidade, com sua banda atingindo níveis estratosféricos de popularidade.
O show abriu com “Layla”. A
banda estava tão entrosada que tudo soou perfeitamente, embora Clapton tenha
declarado posteriormente que ainda estava “quilômetros fora da rota”. A segunda
canção da noite foi “Badge”, uma parceria de Clapton e Harrison composta para o
último álbum do Cream. Eric, Pete e Ronnie fizeram sinal para que George
subisse ao palco, mas esse preferiu continuar assistindo o espetáculo em sua
poltrona na primeira fila. Na sequência tocaram as ótimas “Blues Power” e “Roll
It Over” e a cover para a balada “Little Wing”, de Jimi Hendrix, que Clapton
gravou magistralmente no álbum do Derek and the Dominos, dando uma nova carga
de emoção à canção originalmente lançada no disco Axis, Bold As Love do The
Jimi Hendrix Experience.
A
incrível recepção da plateia foi comovente para Eric. Todos os presentes sabiam
que estavam testemunhando um momento único, um grande show de uma banda
absurdamente boa. O show teve prosseguimento com canções do excelente primeiro
disco solo de Clapton (“Bottle of Red Wine”, “After Midnight”), músicas do
álbum dos Dominos (“Bell Botton Blues”, “Tell the Truth”) e “Presence of the
Lord”, do Blind Faith, já que três quartos do Blind Faith estava no palco.
Steve Winwood então assumiu os vocais na faixa “Pearly Queen”, do segundo álbum
do Traffic, já que quase todos os membros da banda estavam presentes na
empreitada. Clapton então tocou o clássico do blues “Key to the Highway”, há
tempos incorporada em seu repertório, e encerrou a primeira parte do concerto
com uma versão sublime de “Let It Rain”. No bis, a banda tocou uma endiabrada
versão de “Crossroads” de Robert Johnson, que Clapton já havia gravado com o
Cream. Foi um final apoteótico para um dos mais memoráveis concertos já
realizados.
Logo
após o concerto no Rainbow, Clapton voltou a se esconder e a “afundar em novas
profundezas”, consumindo quantidades imensas de heroína e bebendo duas garrafas
de vodca por dia. O guitarrista sentia-se muito grato aos amigos,
principalmente a Pete, por terem se preocupado e ajudado a colocá-lo de volta à
cena musical, mas simplesmente sentia que ainda não estava pronto. Somente mais
de um ano mais tarde Clapton formou uma nova banda e retornou a atividade com o
álbum 461 Ocean Boulevard. Ainda
em 1973 foi lançado o álbum ao vivo do concerto, intitulado Eric Clapton’s
Rainbow Concert, contendo apenas seis canções. O lado um trazia as faixas
“Badge”, “Roll It Over” e “Presence of the Lord”. O lado dois apresentava as
músicas “Pearly Queen”, “After Midnight” e “Little Wing”. Recordo que quase
furei os sulcos do vinil de tanto ouvir esse disco em minha adolescência.
Em
1995, vinte e dois anos após o concerto, eu trabalhava em uma conceituada loja
de discos quando recebemos uma leva de novos Cds importados. Entre eles, estava
uma nova edição em CD do Rainbow Concert, que me chamou a atenção de imediato
por trazer uma capa diferente do LP, com uma nova foto e novas cores. Porém, a
grande e grata surpresa se deu mesmo quando fui conferir a contracapa e vi que
não estavam apenas as seis canções do vinil, mas as quatorze músicas que foram
apresentadas naquela gloriosa noite. Finalmente as outras oito faixas foram
desengavetadas e estavam a nossa disposição após mais de duas décadas. Que
deleite! Esse
registro ao vivo somente existe porque o engenheiro de som e produtor musical
Glyn Johns, notório por seus trabalhos ao lado de artistas como Beatles,
Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin e do próprio Eric Clapton, resolveu
gravar o show em uma fita de rolo para a posteridade. Infelizmente o show não
foi filmado – ao menos até hoje não apareceu nenhuma imagem do evento - mas nos
contentamos com o disco, absolutamente histórico e colossal.
Texto
retirado do Mercado livre cujo autor é desconhecido*
Track
List:
1.
Layla - Previously Unreleased
2.
Badge
3.
Blues Power - Previously Unreleased
4. Roll
It Over
5.
Little Wing
6.
Bottle Of Red Wine - Previously Unreleased
7.
After Midnight
8. Bell
Bottom Blues - Previously Unreleased
9.
Presence Of The Lord
10.
Tell The Truth - Previously Unreleased
11.
Pearly Queen
12. Key
To The Highway - Previously Unreleased
13.
Let It Rain - Previously Unreleased
14.
Crossroads - Previously Unreleased
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