2 de agosto de 2012

Rock Memories: O dia em que eu conheci a música de Jon Lord


No sábado eu me levantei tarde para variar e já fui tomar aquele banho para poder começar o dia, ou seja, a tarde, pois já passava do meio meio com um belo sol rasgando o céu e iluminando tudo e depois do banho eu pensei: "será que eu fico e almoço, ou para o shopping e almoço em algum fast-food", enfim acabei saindo mesmo e depois do almoço lá fui para uma livraria para comprar meus discos e livros e me dirigi de imediato para a FNAC. Quando eu cheguei lá eu fui direto para a seção onde ficam os discos e ao vasculhar acabei me defrontando com os álbuns do Deep Purple e sem pensar eu já me via segurando os álbuns na mão e para não perder o costume eu fui ouvi-los naquelas maquinas que você passa o código de barra e aciona o disco para tocar desde que ele esteja cadastrado. 





E o primeiro álbum que eu passei foi justamente o In Rock (1970), que foi o primeiro álbum que eu comprei do Deep Puple, e portanto foi a primeira vez que eu ouvi a banda e fiquei encantado e de cara eu me tornei fã por causa do som, os caras tinham um excelente vocalista, um excelente guitarrista, um excelente baixista e um excelente baterista, porém antes de ler o encarte do disco eu não sabia que eles tinham um tecladista, porque o instrumento que é um Hammond (que foi adaptado para receber a distorção), parecia uma segunda guitarra e isso me chamou muito a atenção e eu comecei a admirar ainda mais a banda, pois todos os outros artistas que eu já tinha escutado tocando teclados nenhum era tão pesado, melódico e marcava tanto ao passar a emoção de sua música como Jon Lord, um verdadeiro mestre que revolucionou a arte de tocar o instrumento levando ele e a sua música a outro nível inigualável.

Era demais ouvir faixas como; Speed King, Flight of the Rat, Child in Time e Into the Fire e sentir essa energia que fazia vibrar e embora eu estivesse mais ligado nos outros instrumentistas, no caso o guitarrista e o vocalista eu nunca deixei de prestar a atenção nos teclados e depois de pouco tempo passei a compreender a importância dele para o grupo e isso foi ficando cada vez mais claro, porque como eu me tornei um fã da banda eu comecei a colecionar os discos e a segunda aquisição foi o álbum Machine Head (1972), nossa eu pirei naquele álbum todas as faixas tinham a participação direta de Jon Lord aquilo para mim era uma declaração de para o rock não havia limites e ouvir faixas como Smoke on the Water, Highway Star, Space Truckin e Lazy era a glória e a cada audição que eu fazia deste álbum eu me sentia cada vez mais próximo do grupo e uma compra ia me levado a outra e o interesse só crescia. 

E por indicação de um amigo meu eu comprei o maior álbum "ao vivo" da história do hard rock e lá estava eu de posse do álbum Made in Japan, cuja gênese é de três shows feitos no Japão, pois ali finalmente eu me entreguei totalmente nas mãos da loucura daquele quinteto porque o som dos caras era elevado a milésima potência e os improvisos dos instrumentistas não tinham limites, principalmente de Jon Lord que mandava ver no seu Hammond aplicando severamente todo o peso nos meus ouvidos, que ficavam anestesiados e dóceis esperando pela próxima pancada.






Essa próxima pancada tinha um nome, que eu até hoje me atrapalho para pronunciar é o Who Do We Think We Are (1973), apesar de ser um disco que ficou ofuscado por ter sido lançado cedo demais tinha todos os seus encantos que a exemplo dos outros também é mágico e até hoje eu o escuto e fico fascinado ao som das faixas Woman From Tokyo, Mary Longer, Smooth Dancer e  Our Lady e isso me trás a mente algumas lembranças cômicas porque eu vivia defendendo esse disco e sempre argumentava que ele era bom, mas o grupo ainda colhia os frutos do sucesso estrondoso do seu antecessor e ainda me desdobrava dizendo que mesmo que uma banda que tivesse lançado um disco ruim não tinha a qualidade deste álbum.

Quando fiquei sabendo que o Deep Purple tinha outra formação que trazia nos vocais David Coverdale e no baixo Glenn Hughes e essas duas entradas em substituição ao vocalista Ian Gillan e ao baixista Roger Glover, trouxeram novos ares ao grupo que expandiu a sonoridade, pois além do puro Hard Rock a banda adicionou o tempero do funk e do soul e para mim era algo novo naquela época e eu fui abduzido para dentro do clima do álbum Burn (1974), era uma grande viagem que acabava de começar ao som das faixas Burn, Might Just Take Your Life, You Full No One  e Mistreated, enfim um excelente álbum e os teclados de Jon Lord continuavam lá atacando sem limites quebrando qualquer regra. Quando eu peguei o segundo álbum desta formação o Stormbringer (1974) nossa eu vi que a banda estava tentando sair da sombra do MK II, eu fiquei ainda mais empolgado, pois o funk e o soul tomaram conta de vez como mostram as faixas Stormbringer, Love Don't Mean a Thing, Hold On e The Gypsy e para mim isso era o indicio de que a banda estava reformulando a sua sonoridade outra vez, mas pena que não agradou a todos e o guitarrista Ritchie Blackmore se retirou para formar o seu Rainbow. 

O tecladista Jon Lord ficou desconfiado pensou até em sair, mas não havia motivo porque as suas partes ainda mantinham-se de acordo com o som do grupo e participavam de tudo com maestria, ainda bem que ele reconsiderou a sua decisão e manteve-se na banda. Para mim era uma luta conseguir informações sobre o Deep Purple a maioria das coisas que eu sabia era lendo as fixas técnicas dos discos, trocando idéias com os caras mais velhos, mas era chato porque os caras eram cheios de preconceitos e pelo fato de serem fruto daquela época fica difícil, pois sempre repetiam a mesma coisa e preenchiam as informações com alguns folclores, enfim era algo detestável. Eu sempre fiquei curioso, pois quando eu ouvi falar do disco Come Taste The Band (1975) eu fiquei meio fora do ar porque eu descobri o Deep Purple disco por disco em ordem cronológica e eu nem sabia do MK IV, imagine você leitor que no começo da década de 1990, as informações chegavam por meio de revistas ou pelas conversas com os mais velhos e os donos das lojas de discos e imagine isso numa cidade de interior que fica a 300 KM da capital São Paulo era terrível, pois não tinha internet como conhecemos hoje era tudo meio que na raça.

             




Quando eu coloquei esse disco para rodar eu fiquei surpreso com as faixas Comin' Home, Lady Luck, Drifter, Love Child e You Keep On Moving, nossa o som era tremendo um verdadeiro arrasa quarteirão e mais uma vez os teclados de Jon Lord aparecem atropelando e surpreendendo, mostrando a versatilidade do músico que comprovaria não ter tempo ruim para ele e que ele poderia tocar qualquer coisa que ele quisesse. Mas fiquei surpreso quando descobri que aquele foi o último disco do Deep Purple na década de 1970. Mas também descobri que cada integrante tomou rumos diferentes e no caso de Lord ele juntou-se com o seu cunhado e colega de banda o baterista Ian Pace e junto com o seu amigo Ashton com que quem já havia trabalhado no projeto Gemini em 1971 e na gravação do álbum The First Of The Big Band's (1974) e formando em 1976 a banda Paice, Ashton & Lord cujo line completava-se com o guitarrista Bernie Marsden e o baxista Paul Martinez e com esse time gravaram o álbum Malice In Wonderland (1977), e a sonoridade abrangia o rock, o blues, o funk e o  soul e com o tecladista o resultado não poderia ser outro, pois o Hammond funcionava como uma guitarrista distorcido e pesado e distorcido como sempre e as faixas Ghost Story, Malice in Wonderland, Dance With Me Baby e Sneaky Private Lee mostram o outro lado do tecladista e fecham com chave de ouro os anos 70. 


Mas isso não significou o fim, pois logo em 1980 Jon Lord estava em outra banda que ao longo da década de 1980 conquistaria os USA e dominaria as paradas e as FM'S norte americanas o Whitesnake e durante a sua breve passagem pelo grupo ele mostrou que não estava para brincadeiras e deixou um fabuloso legado que eu tive o prazer de poder conferir e numa de minhas famosas peregrinações de sexta-feira ao centro da cidade eu comprei de uma vez só os álbuns Ready An' Willing (1980), Live...In The Heart Of The City (1980) , Come And Get It (1981) e o derradeiro do tecladista Saints & Sinners (1982) e quando eu cheguei em casa totalmente ansioso para conferir os três álbuns eu comecei logo pelo primeiro e tive uma baita surpresa quando ouvi as faixas Fool For Your Loving, Sweet Talker e Ain't Gonna Cry No More eu fiquei de cara com o resultado e cheguei até pensar que esta banda poderia ter sido uma das formações do Deep Purple e quando eu coloquei o ao vivo ai eu pirei mesmo porque todas as características desse músico saíram para fora era um estado acho que de frenesi sei lá explicar o que eram aquelas vibrações e sensações que eu sentia e elas continuaram ainda mais intensas com o segundo álbum dessa formação e chegaram ao ápice quando eu coloquei o último álbum e os hits Crying In The Rain e Here I Go Again, nossa era a glória ter esses álbuns em casa, uma conquista perante os meus amigos que se apinhavam no sofá de casa com suas fitas cassete para grava-los.


               




E a era das descobertas na minha adolescência continuaram fluindo, pois novamente eu me via frente a frente com um "novo" disco do Deep Purple: o Perfect Strangers (1984) nossa eu fiquei surpreso e nem dei bola e já saquei a grana do bolso e o mais incrível é que eu nem quis comprar os discos do Black Sabbath que eu estava a afim de ouvir, ms tudo bem eu não arrependo. pois de qualquer maneira estava levando para casa o disco de uma das minhas bandas favoritas e quando ouvi faixas como Perfect Strangers e Knocking At You Backdoor eu novamente tive um surto, mas o disco claro que não se restringia a essas duas faixas afinal de contas um clássico conforme as regras ele é bom inteiro e além das guitarras de Blackmore, o baixo pulsante de Roger Glover, a bateria bem calibrada e pesada de Ian Paice e os vocais potentes de Ian Gillan eu novamente estava diante de Jon Lord e não tinha como me decepcionar e lá estava ele de novo tocando o seu Hammond de maneira eletrizante e eu me sentia de novo catapultado para dentro da magia desse álbum.


Na época o grupo tinha lançado o Slaves And Masters (1990), mas esse disco eu ignorei porque na época eu estava afim de ouvir músicas pesadas e apesar de ser um fã dedicado e devoto ao Deep Purple, eu já tinha ligação com o metal extremo e intercalava as minhas compras  e por isso ignorei por completo esse álbum, maseu me agarrava ao Perfect Strangers e desejando ver um novo retorno do grupo com a sua formação original era um sonho que eu queria ver se tornar realidade e finalmente aconteceu e o álbum desse segundo retorno formação clássico ascendeu um baita desejo no meu cérebro, e pouco me importava se o disco fosse bom ou ruim, porque eu queria é que a banda pudesse vir ao Brasil para eu poder ver todos aqueles músicos que eu ouvia diariamente e suava a camisa para conseguir nas lojas e sebos da vida. 


Eu me lembro que em 1993, quando finalmente o álbum The Battle Rages On foi as lojas, o Carrefour vendia discos e como ele ficava colado no Shopping Center e toda a sexta-feira era dia de compra de discos e os lançamentos geralmente chegavam primeiro lá, eu esperei a hora da noite chegar e eu nem sei como eu tive forças, pois naquele ano eu estava prestes a completar 18 anos e tinha o vestibular, o tiro de guerra e eu tinha passado praticamente toda a tarde na seleção do tiro de guerra, mas a vontade e desejo de conferir aquele álbum falaram mais alto e lá fui eu, nossa quando eu cheguei nas gôndolas de lp's eu quase tive um colapso, eu comprei naquela noite todas as minhas economias de 2 anos em álbuns e ele estava lá em primeiro lugar eu tive que pegar um carrinho de supermercado e a minha sorte que um amigo meu já era maior de idade e como já tinha habilitação eu tive onde guardar os discos, ou seja no porta malas do carro dele. 






No sábado quando eu levantei meio de ressaca já corri para as sacolas que eram 10 cada uma tinha 8 lp's, ou seja eu tinha comprado 80 álbuns de uma só vez pela primeira e única vez na minha vida, mas quando coloquei o álbum para rolar foi foda aquele reencontro embora o álbum não fosse um clássico como os da fase áurea ele era demais tinha faixas fortes, pesadas e a sonoridade nova condizia com aqueles tempos e as melodias eram matadoras era Hard Rock puro na veia com The Battle Rages On, Anya, Time to Kill e Solitaire e sabia que estava diante de um grande álbum e sabia que ali tinha músicos de grande competência e os teclados de Jon Lord sempre marcantes com o seu pesado e mesclando com as guitarras me faziam lembrar grandes momentos de minha vida que eu vivia naqueles dias e a trilha sonora estava bem ali na minha frente a disposição para as minhas acompanhar as minhas inúmeras bagunças. 


Depois eu acabei me distanciando quando Blackmore saiu pela segunda vez, afirmando que jamais trabalharia com aquela formação outra vez e reativou o Rainbow mais uma vez e depois disso a banda lançou mais álbuns como Purpendicular (1996) e o Abandon (1998) os dois últimos trabalhos de estúdio de Jon Lord que saiu do grupo em 2000 para se aposentar alegando que já não tinha mais prazer em fazer excursões. Para o seu lugar a banda chamou Don Airey um excelente tecladista e com ele a banda gravou o Banana (2003) e o Raptures of the Deep (2005), apesar de serem bons álbuns não eram mais a mesma coisa sem Jon Lord e hoje pensando bem pelo que representou o trabalho deste músico com o grupo é realmente muito estranho ver outro cara em seu lugar. 


Eu fiquei realmente surpreso quando foi anunciado projeto Who Cares de Tony Iommi e Ian Gillan olha que naquele momento eu pensei que seria uma tentativa de recolocar a formação Born Again na ativa outra vez, mas na verdade era o anúncio de uma banda mais leve, ou seja, o projeto consistia em duas faixas cuja a renda obtida pelas vendas iria ser destinada na uma escola de música na Armênia eu já fiquei apreensivo, pois quando anunciara que Jon Lord estaria envolvido eu pensei poxa esse cara estará de volta, mas depois que veio a notícia que ele foi diagnosticado com câncer as minhas esperança mudaram de estação, mas pelo menos o projeto seria um consolo que na verdade também era uma despedida triste e amarga.                           


E no dia 16 de julho a tarde veio o balde água fria enquanto eu escrevia uma matéria para este blog, fui pego de surpresa, pois eu não esperava já que ele vinha reagindo bem ao tratamento a que tinha se submetido para combater o câncer no pâncreas e o jeito foi noticiar essa trágica noticia que abalou o mundo do rock e os músicos claro prestaram as suas homenagens a este grande músico que foi um visionário e revolucionou a música transformando o seu instrumento levando-o a lugares nunca antes explorados e mostrou que o orgão Hammond tinha seu espaço garantido no rock com sua sonoridade suja e pesada que no caso parecia, confundia-se com a guitarra do seu companheiro Ritchie Blackmore. 


Essa perda é irreparável mesmo é um abalo profundo na música, pois jamais será visto e escutado um músico tão original como Jon Lord. Essa situação me fez pensar que infelizmente os músicos não são eternos o que é eterno é legado, ou seja, a música que ficae permite que as gerações posteriores ao longo de décadas ou mais possam ouvir as bases , as origens do rock que é uma música de protesto que proclamava a liberdade e reclamava os desejos das nações de jovens de todas as épocas. 


Infelizmente eu escrevo estas palavras com grande emoção e te digo vá em paz e muito obrigado, por ter participado de minha vida em todos os momentos bons e ruins e hoje com 36 para 37 anos, já fazem 23 anos que eu me emociono e ainda me sinto fascinado pela obra e procuro leva-la para as outras pessoas e o meu luto acaba aqui, mas de maneira tranquila e pacífica, pois a única certeza que eu tenho e que é inevitável é que um dia todos todos atravessaremos para o outro lado e o que mais importará é a dignidade do nosso trabalho então Jon Lord vá em paz e que os seus caminhos sejam iluminados onde quer que você esteja nesse momento.        
























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