22 de novembro de 2013

Livros: Aldous Huxley - Admirável Mundo Novo (1932)


Lançado em 1932 antes do nazismo e a segunda grande guerra tornarem-se realidade, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley olhava para o futuro e parecia adianta-lo em décadas. Claro que algumas “previsões” de sua magna opera se confirmaram de acordo com o desenvolvimento tecnológico e outras não, porém independente daquele mundo ser real ou não e os personagens serem ou humanos é que a obra tornou-se indispensável e obrigatória para entender a sociedade moderna e suas celeumas.


O enredo do livro é o seguinte: Tratava-se de uma sociedade dividida em castas (Alfa+, Alfa, Beta+, Beta, Delta, Gama e Épsilon) e altamente industrializada cuja ciência era a mola propulsora do desenvolvimento, da produção, da vida. A ideias de família tradicional, religião entre outros já eram ultrapassadas por isso dispensadas dos usos sociais. Os nascimentos aconteciam  em encubadoras onde ocorriam a gestação e a alimentação (que acontecia via sondas) e a educação básica (condicionamento) desses cidadãos acontecia através da hipnopedia (através do sono), ou seja, cada casta recebia os conhecimentos rudimentares destinados a suas funções sociais. A máxima: "Comunidade, Identidade, Estabilidade" era garantida pelo consumo desenfreado e pelo soma (uma droga sintética)distribuído livremente pelo Estado. Caso acontecesse do individuo mostrar qualquer sinal de descontentamento com a realidade lá estava o soma para dar-lhe o suporte necessário para ele ficar feliz e retomar a ordem e garantir o progresso da sua comunidade. A ordem do Estado era alienar (que significa impedir qualquer lampejo de criatividade dos seus subordinados) para garantir o funcionamento das suas engrenagens sem que nada fosse alterado.

Porém, toda sociedade tem os seus desviantes, ou seja, aqueles que rejeitam todas as regras e convenções sociais e passam agir de modo contrário a tudo e a todos dentro da comunidade onde estão inseridos. O protagonista desta utopia em forma de livro, Bernard Marx membro da mais alta classe, ou seja, do topo da pirâmide social, que nasceu com defeito (corpo atrofiado) começa a questionar a ordem estabelecida (negando o consumo e o soma). Nessa sociedade ter filhos pelos métodos tradicionais, ter religião e fora dos padrões era considerado uma aberração, ou seja, desrespeito a sociedade. A família tradicional não existia e os relacionamentos entre homens e mulheres eram livres das convenções sociais cuja principal é o casamento. A oposição entre o mundo desenvolvido e sofisticado e o velho aparece quando o protagonista descobre, que o um dos seus superiores e também um inimigo havia viajado com sua amante (chamada Linda) para uma reserva onde vivia-se a moda antiga (equivalente os indígenas) e lá teve com ela um filho a moda antiga e por isso apenas ele voltou e a mulher ficou o garoto nascido chamado John, que é o "selvagem".  

Bernard Marx de posse dessa informação valiosa para si começou a pensar e a querer ganhar respeito social já que não possuía as qualidades físicas de sua casta por nascer com defeito devido a um erro de alimentação e por isso enfrentava problemas até com as castas inferiores. Então na companhia de Lenina, ele parte para a reserva e encontra-se com John e Linda e resolve levá-los de volta a sociedade. Ao serem apresentados Linda por ter sido descuidada é rejeitada porque concebeu de modo tradicional uma criança, enquanto John seu filho causa certo furor na sociedade por ser a ponte entre o novo e o velho, porém não deixará de ser o "selvagem". John começa a conviver com a nova sociedade e começa a conflitar com os valores diferentes dos seus e coloca em xeque o que se considerava uma sociedade perfeita, fato que levou os outros habitantes a procurarem por novas experiências. 

Mas qual é a lição de Admirável Mundo Novo? O que essa Utopia quis e quer mostrar? Afinal de contas qual é a sua mensagem? Não dá para dizer que Aldous Huxley é um vidente ou algo tipo, porém pode-se dizer que ele conseguiu matar a charada do desenvolvimento capitalista, da revolução industrial em sua época. O que está em admirável mundo é uma visão do futuro, uma utopia que poderia se concretizar, mas sem adivinhações ou fórmulas mágicas, mas que partiam do já conhecido, existente em sua época. Notem os avanços e as transformações que a revolução industrial trouxe do ponto de vista material e poderão ver que existiu um efeito colateral, que no caso foi um rastro monstruoso de miséria e o acentuamento definitivo entre os ricos e os pobres. Primeiramente: a revolução industrial havia prometido libertar o homem, mas só que o tornou escravo de suas criações, as máquinas. 

Nos tempos atuais como pode-se enxergar essa utopia? O que se realizou e o que não se realizou na prática? O que podemos dizer sobre a nossa sociedade sobre essa perspectiva? A divisão de castas pode ser considerada a nossa divisão de classes sociais, que são educadas e condicionadas ao seu lugar social, ou seja, ao trabalho que cada um irá executar na contínua divisão social do trabalho (o fordismo) em nome técnica que permitirá a sociedade obter conforto pleno e aperfeiçoamento notável, mas na verdade não resolverá todos os problemas como se pensa. Os desejos poderão ser saciados, mas o preço a se pagar é a conversão dos homens máquinas, o fim da razão de ser e se tornaram máquinas e própria condição humana desaparecerá. A ordem e o progresso significam a plena obediência, alienar-se do processo de produção e concentrar-se apenas na continuidade do sistema capitalista. As informações e o controle exercido sobre elas é uma outra maneira, ou seja, através de mensagens subliminares muito bem construídas pelas empresas anunciantes a fim de garantir os seus lucros em cima de seus clientes muito bem adestrados, pois aqui o soma é o consumo. 

O valor de liberdade está alicerçado em cima do consumo, mas ele oculta a verdade sobre uma série de irrelevâncias que são jogadas pela imprensa de forma mal intencionada visando encobrir a verdade. A construção desses sistemas são tão bem elaboradas, e as ilusões, que elas prometem cujo consumo imediato de quinquilharias cheias de valores ludibriam as pessoas junto com o bombardeio de propagandas, impedem uma reflexão mais profunda que faça-os negar esse sistema. Para aqueles que ousam desqualificar e bater de frente logo são desacreditados e rotulados como pessoas caretas, chatas e passam ser desprezados e tidos como loucos que deveriam estar guardados nas celas de qualquer manicômio. O consumo legitima o desenvolvimento tecnológico vice e versa, mas também de forma disfarçada elimina a democracia e abre caminho para a instalação de um ditadura que aos poucos vai se apossando de tudo sem que as pessoas percebam. Outro mecanismo de legitimação desse sistema é constante comparação entre o passado e o presente e a desqualificação e demonização do passado como se ele fosse um lugar de bárbaros atrasados, que nada sabiam.Para finalizar, a mensagem da obra fica por conta das palavras do autor dizendo que: "A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os escravos não sonharam sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumismo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão".  







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