No dia 12 de janeiro de 2013, Klaus Meine,
vocalista do Scorpions, concedeu uma entrevista exclusiva ao Scorpions Brazil e falou sobre a polêmica decisão de não encerrar a
carreira. O cantor foi categórico ao afirmar que não foi estratégia de
marketing, eles realmente vão parar com as grandes turnês e deram uma série de
exemplos para justificar a decisão que tomaram e, além disso, falou sobre o
Brasil, sobre a guerra fria e sobre a sua visão do mundo desde aquela época até
os dias de hoje e conta mais algumas coisas sobre a vida dele. A partir de
agora se acomode na sua poltrona e confira esta excelente matéria com um dos
maiores vocalista da história do rock.
Scorpions Brazil: Olá, galera do Scoprions Brazil, nós estamos aqui com Klaus
Meine, vocalista do Scorpions (e alguém tem alguma dúvida de que
esta é a melhor banda de rock alemã?). Nós entrevistamos o Klaus em 2010 quando
eles anunciaram o fim da banda, deixando muitos fãs desolados. Mas aqui está o
Klaus mais uma vez para falar com a gente e parece que, felizmente, a banda
desistiu dos planos de aposentadoria. Vamos saber um pouco mais sobre isso?
Olá, Klaus! Como vai?
Klaus Meine: Olá, Roberta! Como você está?
SB:
Estou bem, obrigada! Então... como você se sente depois desses três anos da
Final Sting Tour?
KM:
Bem, eu me sinto como se isso fosse um pouco surreal, porque, por um lado, eu
me sinto ótimo, pois nós terminamos a turnê no fim de dezembro, antes do natal,
com um show fantástico em Munique, muitos fãs vieram de toda a Europa e
acredito que do mundo todo. É maravilhoso estarmos fortes na ativa, chegando ao
fim da linha de certo modo... mas então depois de umas duas semanas agora, eu
me sinto como... eu quero fazer a minha mala de novo, sabe? Aonde vamos agora?
(risos) É um pouco estranho, e diferente!
Mas é claro que eu aproveito o tempo que passo com a minha
família, eu aproveito que temos o momento para dar uma boa respirada e nos
darmos conta de tudo o que passamos nos últimos anos e isso é maravilhoso, é
uma ótima sensação saber que tivemos uma turnê fantástica, de muito sucesso,
com tantos fãs ao redor do mundo, são tantas memórias! É como um filme na minha
cabeça, essas imagens vêm a mim, e claro, quando eu olho para os shows que
fizemos no Brasil, tantos lugares em todos esses anos... nós começamos no
primeiro Rock in Rio, tocando no Rio de Janeiro, em 1985, até chegar 2012...
tem sido uma longa estrada, é muito empolgante! Nós nos divertimos muito
voltando à América Latina, e nossos fãs no Brasil nos tratam sempre como... é
incrível voltar ao seu país!
SB:
Oh, isso é muito bom! E o que você sente sobre o Scorpions sendo comparado a bandas como o Kiss,
que já desistiu da aposentadoria várias vezes, e também sobre as críticas que
dizem que os seus planos de parar foram apenas uma estratégia de marketing. As
pessoas têm dito coisas como essas, o que você pensa sobre isso?
KM:
Bem, vou te dizer a verdade, quando nós terminamos o Sting in the Tail, nos o
gravamos a maior parte bem aqui no estúdio, e todos nós sentimos, antes que
fosse lançado, que era um álbum no qual nós realmente encontramos o DNA do Scorpions,
e nós sentimos que fizemos isso, que gravamos um álbum que nossos fãs estavam
esperando há muito tempo, nós realmente encontramos a pegada do Scorpions
que muitos fãs procuravam ao redor do mundo e, com os nossos produtores Mikael
Andersson e Martin Hansen, nós fizemos exatamente isso.
O sentimento foi... quem sabe se, depois de tantos anos, nós
pudéssemos aliar esse tipo de ‘vibe’, se pudéssemos fazer novas gravações com a
mesma qualidade, a mesma energia, o mesmo tipo de música, com o mesma força de
material... e quando nós falamos sobre isso, nós sentimos que é um excelente
álbum, ele poderia ser, de bom modo, depois de tantos anos, depois de 40 anos
com o Scorpions,
para terminar e dizer “então é isso, adiós”, com um ótimo álbum, uma ótima
turnê que nos levou ao redor do mundo mais uma vez, 3 anos... e foi o que
fizemos!
Mas falar é uma coisa... ano após ano, depois de cada show
chegando perto da do final da contagem regressiva... nós percebemos que uma
coisa é falar “então é isso, nós vamos acabar com a banda”, mas é praticamente
impossível para nós, como uma família, a “family of spiders” não é apenas com
os fãs ao redor do mundo, mas também dentro banda. Nós temos a nossas famílias,
mas com o Scorpions nós temos a nossa família do
rock’n’roll, e depois de muitos anos isso se tornou cada vez mais emocional
para todos nós e, vendo entrevistas, foi como... bem, eu estava vendo o que o
Matthias dizia em entrevistas, vendo o que eu dizia em entrevistas e nós nem
mesmo pesávamos de fato sobre aquilo, foi mais como... cada palavra era mais
como “bem nós precisamos parar com essas turnês exaustivas, nas quais fazemos
entre 60 e 100 shows pelo mundo ano após ano após ano... sem ter uma boa
parada, sabe... apenas precisávamos algo como uma pausa mesmo, nós tínhamos que
mudar esse tipo de rotina.
Essa decisão foi crescendo, especialmente nos últimos 12 meses,
quando nós percebemos... “bem, essa turnê de despedida está chegando ao fim” e
então nós dizemos “é isso, adeus”, quero dizer, todos nós estávamos atrás dessa
decisão que era “essa vai ser a última turnê”, mas todos nós estávamos checando
nossas emoções e, mais perto desse ponto... e, claro, o fato de que tantos fãs
ao redor do mundo diziam “Scorpions, vocês estão loucos? Por que vocês querem
acabar com a sua carreira? Por que vocês querem parar de fazer álbuns? Por que
vocês querem parar de sair em turnê e tocar entre a Rússia e L.A., entre Moscou
e L.A., Paris e São Paulo... por quê?”
E o fato é, também, que nós temos tantas crianças, tantos fãs
jovens em frente ao palco todas as noites, nos temos toda uma nova geração de
fãs do Scorpions nessa última turnê e eles estavam nos
vendo tocar ao vivo pela primeira vez na vida deles, e isso foi... quero dizer,
havia tanta energia que vinha da audiência, não só daqueles que estavam nos
apoiando desde os primórdios mas também toda essa geração jovem de fãs do Scorpions...
e isso foi realmente tocante, um sentimento maravilhoso saber que estávamos
alcançando o coração desses jovens pelo mundo e, juntando tudo isso, no fim do
ano, através dos dois últimos meses, nós chegamos a uma conclusão dizendo “Bem,
vamos finalizar essa turnê em grande estilo e com o grande clímax e dar uma
profunda respirada e ver então o que a vida nos traz”.
Então nós não vamos acabar com a banda... na verdade eu nunca
disse que nós íamos acabar com a banda, eu disse que pararíamos com as turnês,
há muito trabalho para todos nós fazermos e, claro, depois de 40 anos da nossa
carreira, é impossível voltar para casa sem ter um trabalho artístico esperando
por você... há muito trabalho, nós estamos fazendo um filme, há muita coisa, e
se pararmos agora não da pra fazer tudo... há realmente muito trabalho para nós
agora no qual ainda estamos todos envolvidos, então... esse é o outro lado, mas
não há nada mais doce do que o sucesso, e eu sei que vai ter gente dizendo “Ah,
qual é, caras, isso foi um plano desde o começo...”, não, não foi um plano, não
mesmo! Eu sei, nós não somos os primeiros artistas a dizer “Então é isso” num
dado momento, e depois voltam e continuam para sempre, mas... eu não sei o que
será da história do Scorpions no fim das contas, mas eu sei que, de
coração, nós acreditamos que esse é o passo certo, e começaremos a partir dele,
e agora eu te digo, não há planos para shows agora, é diferente.
Você me perguntou no começo como eu me sinto e eu digo que é um
pouco estranho porque não há plano para shows, quando nós estamos por ai
vendendo ingressos, tocando em shows ao redor do mundo, como há um ano. Em
janeiro, havia uma enorme quantidade de shows quando tinham muitos shows pela
frente nos Estados Unidos... e nós estávamos de alto astral. E, neste momento,
não tem nada, nós podemos fazer um show aqui e ali... participando de eventos
especiais, mas não tem nada planejado. Nós costumávamos saber sobre os shows, e
isso é meio diferente agora.
Eu acho que, de certa forma, mesmo deixando mais aberto do que
estava planejado, ainda parece como uma pausa, nós todos concordamos que não
queríamos que a coisa continuasse da forma como estava sendo feita esses anos
todos. Até os Stones, que são uma geração à nossa frente, tinham as suas
pausas. Eles tiravam um tempo pra eles, e eles voltaram a fazer shows agora,
mas havia cinco anos que eles não tocam ao vivo. Com Scorpions sempre foi estar no estúdio ou fora em
turnês ou de volta ao estúdio... e estamos fazendo isso há quarenta anos, é
claro espero que todos possam compreender que chegamos num ponto que temos que
parar essas turnês massivas. Qualquer coisa que faremos no futuro será como um
trabalho extra e, o mais importante, será mais como “vamos nos divertir,
rapazes! Vocês querem fazer isso? Oh, que bom! Por que não? Querem voltar ao
Brasil? Que tal? Sim, poderia ser pra abertura da copa. Você tá brincando??
Claro que voltaríamos ao Brasil!”
Nós também ouvimos rumores sobre a copa no Brasil. Sei que havia
pessoas falando que seria ótimo se os Scorpions viessem em 2014 e tocassem na
abertura ou fechamento, não importa, participar na copa. Nós somos fãs de
futebol, nós amamos futebol e isso é ótimo já que agora com nossa nova agenda,
eu posso assistir jogos do meu time favorito, o Hannover 96 e ir ao estádio me
divertir e torcer pro meu time. Nós adoraríamos ser parte de um evento mundial
como a copa no Brasil em 2014, mas nesse ponto nós não podemos planejar com
antecedência a não ser que haja uma oferta oficial. Então o que quero dizer é
que são muitos rumores. Seria maravilhoso, sem dúvidas, mas é isso o que posso
dizer por enquanto.
Nós estamos sempre abertos para este tipo de coisa, pois temos a
mente bem aberta e este é o motivo pelo qual nós fazemos projetos, como aquele
com a Filarmônica de Berlim, e estamos sempre abertos para coisas diferentes,
então se houver ofertas e projetos para o futuro, eventos especiais por vir,
nós daremos uma olhada. Se parecer legal, então diremos sim, “sim, vamos fazer
isso. Vamos nos divertir, rapazes!”
Essa é a situação, é diferente do que estamos acostumados a fazer
por todos esses anos e com essas turnês intermináveis ao redor do mundo. Sabe,
isso é tipo uma pausa séria, uma mudança séria de nossas vidas como artistas e
músicos. Mas posso te dizer algo diferente, se você me perguntasse daqui a 6
meses o que rolaria, a resposta poderia ser totalmente diferente, pois nós não
sabemos. Nós já tivemos muita experiência, muita experiência mesmo, e assim
como o Matthias costumava dizer: “Como será terminar a carreira? Não tocar mais
por aí?” Nós não sabemos como será. Em poucos meses, todos provavelmente
ficariam muito tristes e dizendo que sentem muita falta da turnê, sabe? “Vamos
voltar!” Eu não sei, mas não posso culpar vocês pelas críticas ou por dizer
“Ah, qual é, rapazes. Isto foi um plano, uma estratégia ou algo assim”. Eu só
posso dizer como eu me sinto de como eu me sinto ao que vivemos estes últimos
dois anos e meio, foi maravilhoso, e se a vida abrir as portas amanha... e não
poderemos agradecer por todos estes anos que tivemos como artistas, e a maneira
que estamos conectados com o mundo todo, isso é algo que ninguém poderá tirar
de nós.
SB:
Ok, eu só posso dizer que...
KM:
Foi uma longa fala, não?
SB: O
quê?
KM:
Foi uma longa resposta (risos)
SB:
(risos) Ah, sim, e você já respondeu algumas perguntas que eu ia fazer como a
Copa do Mundo... essa era uma pergunta que eu ia fazer!
KM:
Então é isso? (risos) Obrigado Roberta, foi um prazer te ver...
SB:
Não, não! Ainda há mais algumas perguntas... Por favor não vá ainda! (Risos)
Bom, eu estou muito feliz que vocês decidiram não parar, os fãs estão muito
felizes. E você está no seu estúdio agora, certo?
(Originalmente publicada no site Oficial Scorpions Brazil, para acessar clique aqui)
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