Quando um cara chega na casa do sessenta anos todo mundo se pergunta ou pergunta será que não está na hora de se aposentar curtir o netos, já está cheio de grana e portanto não é mais necessário trabalhar. No meio de todos esses pensamentos absurdos ninguém se questiona e o amor pela música e a vontade continuar já que tudo conspira a favor e permite o cara a prosseguir na sua carreira. Bob Dylan é um cara único dentro do cenário e cultuado pelo músico e pela pessoa que é.
O cara viveu intensamente os anos 60 e 70, no engajamento pelos direitos civis, contra a guerra do vietnã suas inúmeras músicas de protesto sobrevivem até hoje porque embora os tempos sejam outros os anseios e os desejos das pessoas ainda são aqueles, mas com pessoas e nomes diferentes. Isso somente isso pode explicar a relevância dele na música e assim como os Beatles e os Rolling Stones ele também pode ser considerado um dos grandes responsáveis pela mudança de paradigma da juventude e sim ele é um contestador. E para aqueles que pensam da forma como descrevi no começo deste pequeno e breve texto e hoje onde estão os contestadores, a modernidade não cumpriu o que prometeu e as sucessivas revoluções industriais deixaram e ainda deixam um grande rastro de miséria por onde passaram.
Embora o tema aqui não seja política e nem história é inevitável não entrar nestes terrenos por vezes espinhosos e olhando para Bob Dylan que é um cara histórico e também político é um dever tanger mesmo que de forma efêmera essas duas disciplinas. Mudando de assunto e voltando ao que de fato interessa ao longo dos anos da carreira o cara acumulou uma série de discos memoráveis, mas em contra partida contratou-se com momentos de baixa com álbuns que não foram bem vistos pelos fãs e etc..
Acontece que o Dylan já está na terceira idade e já está na casa dos 70 anos, e em 2012 o cara surpreendeu ao anunciar de uma hora para outra um novo álbum, eu sinceramente nem esperava que isso fosse possível, mas assim como muitos quebrei a cara, ainda bem! Em 2006 o cara soltou um dos melhores álbuns de sua carreira Moderm Times e o blues e o folk suas marcas registradas estavam lá como sempre para ressoar profundamente na cabeça de nós ouvintes.
Pelo menos da minha parte a expectativa em torno deste lançamento sempre foi muito grande, aliás fã é sempre fã em qualquer ocasião. Quando chegou o dia 10 de setembro, eu já fiquei em polvorosa e como sei que no Brasil os álbuns demoram mais para sair dessa vez eu preferi não recorrer a internet e esperei chegar o original e para a minha infelicidade as minhas condições financeiras não permitiram o adquirir logo de cara, mas pronto no final consegui compra-lo e assim fechei 2012, como um ano excelente do ponto de vista das minhas compras de discos.
Em Tempest parece que todas as músicas foram feitas para serem tocadas ao vivo e a sonoridade blues, folk e uns traços de jazz estão presentes por todo o álbum. A voz sempre limpa e impecável foi substituída por um tom mais rouco e mais forte e as palavras saem rápidas como se fossem navalhadas prontas para arrancar um pescoço fora. As músicas cujos arranjos, as letras e todo o instrumental e o tempo das músicas parece ter sido programado e por isso disse que é proposital para se tocar ao vivo. As letras são diferentes e entram no lado pessoal do cantor e também de algumas atualidades e se tratando de Dylan reflexões é o que não faltam aqui.
Considerando o conjunto da obra, Bob Dylan acertou a mão em Tempest, pois as músicas vão crescendo e as histórias contadas vão tomando formas diferenciadas e toma nos seus braços a responsabilidade sobre o álbum e os demais músicos aparecem como coadjuvantes para executarem o set do álbum e também cobrir os buracos, ou seja, as deficiências de Bob Dylan o que não é nenhuma vergonha e mostra que o cara tem uma banda de apoio muito competente e o guitarrista Sexton é um exímio guitarrista e também brilha e não é pouco.
Dizer qual faixa que é melhor fica impossível dizer até porque Tempest não é um disco fabricado para alcançar as posições mais altas da Billboard e suas divisões. Trata-se de um álbum forte e pessoal também e nesse esquema o que menos se precisa é de um hit já que o álbum é um conjunto que se interliga de faixa para faixa e aqui todas estão no mesmo nível e por isso é indispensável destacar uma, duas três ou mais neste álbum que apenas dez faixas que se alternam entre as mais longas e as mais curtas e independente do tamanho todas tem identidade e poderes próprios de seduzir e cativar o ouvinte catapultando-o para dentro do mundo de Bob Dylan.
Não só na minha opinião como na opinião de muitos fãs e críticos, Tempest, foi eleito como o melhor álbum de 2012 ou apenas apareceu na lista dos dez melhores de muitas pessoas ao redor do mundo. A verdade que este álbum ilustra bem o sentido de uma carreira e revela o que deve ser a música no pleno sentido, enfim honesta, cativante e emocionante capaz de transportar as pessoa para um diálogo entre o ouvinte e o artista e é o que justamente acontece aqui quando paramos para nos deleitar com mais de uma hora e oito minutos de música. Tem algo importante nisso a ser ressalvado é que Dylan apesar do passado que trás na sua bagagem não se apoia neles muito pelo contrário nem é necessário e as semelhanças remetem aos álbuns mais recentes, mas não se engane meu caro não existe espaço para repetição.
O álbum, Tempest explica em pormenores porque os artistas das "antigas" ainda conseguem se manter na ativa com relevância e fazendo sucesso ofuscando os mais jovens. Se você quiser uma referência de boa música e gostar de blues e folk está nas suas mão optar por um trabalho deste porte cujo único objetivo é coopta-lo e mostrar algo que hoje anda perdido por ai e por isso está ai uma dica que te ajudará a enxergar e questionar uma série de coisas inclusive a si próprio, coisa que atualmente a vaidade não permita que aconteça e o resultado é a vulgaridade que predomina.
Lista de músicas:
01 Duquesne Whistle
02 Soon After Midnight
03 Narrow Way
04 Long And Wasted Years
05 Pay In Blood
06 Scarlet Town
07 Early Roman Kings
08 Tin Angel
09 Tempest
10 Roll On John
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