4 de novembro de 2012

Classic Hard: Led Zeppelin - Led Zeppelin III (1970)




Em 1969, o Led Zeppelin estreava em grande estilo com o seu Led Zeppelin I apontando novos caminhos para o rock que seriam explorados na década seguinte  e ainda no mesmo ano solta o seu segundo álbum e exemplo do primeiro ele recebeu o título Led Zeppelin II parecia ser uma continuação do primeiro em termos sonoros e na verdade era e apresentava aos fãs um álbum mais elétrico e menos acústico e mais bombástico ainda. A popularidade ia lá na estratosfera, pois ambos os álbuns eram consumidos como água pelos fãs que apenas cresciam em números, e os shows lotados confirmavam tudo esse sucesso que se consolidava quase instantaneamente e isso comprovado em definitivo com o acumulo de discos e mais discos de platina pela explosão nas paradas de sucesso da época. 



O Led Zeppelin começou a década de 1970, lá nas alturas e ainda colhia os frutos do seu segundo álbum e em janeiro visando manter-se em evidencia voltou aos estúdios para compor e depois começar a gravar o seu terceiro álbum. Ao contrário dos álbuns anteriores a banda resolveu investir num som acústico, ou seja, abraçaram-se com o folk e isso tinha uma intenção que muitos fãs não perceberam que além de amadurecer a banda encontrava-se em pleno processo de transição, de mudança na sua sonoridade que não seria sentido neste primeiro momento e sim do quarto álbum em diante. O processo de composição do álbum teve início depois da turnê norte americana, quando Plant e Page praticamente se refugiaram em Bron-Y-Aur, uma casa de campo do século XVIII, situada no País de Gales e lá dupla passou um bom tempo compondo parte considerável das faixas que compõe o álbum. 

E pelas condições do local que não possuía água encanada, eletricidade os caras mergulharam nas possibilidades de que dispunham considerando que nesta época Jimmy Pager estava ouvindo músicos folk como: Davey Graham, Bert Jansch (que além de Page influenciou um grande número de artistas ingleses importantes dessa época) e John Fahey e depois de estar com o material pronto o próximo passo a ser dado tinha o objetivo de reunir os demais integrantes para dar o pontapé inicial e pela primeira vez a banda utiliza Headley Grange para fazer as gravações do álbum que na verdade fez uma baita de uma peregrinação nos estúdios ingleses e norte americanos a produção assim como os dos álbuns anteriores foi feita por Jimmy Page que já possuía larga experiência em estúdio, justamente por ter começado como músico de estúdio e por ter trabalhado ao lado de muitos artistas. 

As gravações totalizaram 8 meses e o álbum foi lançado em outubro de 1970, mas o que a banda não esperava angariar: era uma coleção de críticas negativas pelo fato do álbum ser praticamente acústico e embora apresentasse canções mais pesadas e um blues pesadíssimo não foi o suficiente para conter a insatisfação dos fãs e dos críticos em relação ao novo álbum que apesar das críticas foi muito sucedido comercialmente falando, mas não livrou Page de passar um bom tempo explicando que este álbum era fundamental para as mudanças que estavam em curso naquele momento crucial para a banda e que tudo não passava de um mal entendido que não tardaria a ser solucionado.



E além de não perceberem que a banda estava em pleno processo de transição, também não foi notado de imediato o amadurecimento musical que ao invés de apostar em canções pesadas, cheias de riffs de guitarra avassaladores e uma cozinha (bateria e baixo) igualmente esmagadores a banda investiu em no folk e naqueles dias quando o progressivo começava a despontar atraiu a atenção do fãs deste gênero que não fecharam os olhos para ele e jamais tinham escutado o som dos dois primeiros álbuns. Outro fato que deve ser ressaltado é que o processo de composição ter sofrido as visíveis alterações, também foi mais democrático, pois todos os quatro membros colaboraram com composições próprias. 

O lado A, de Led Zeppelin III quatro faixas elétricas dentro da tradição pesada do grupo e apenas uma única faixa acústica e a primeira a abrir o álbum é "Immigrant Song" composta por Page e Plant tem como tema central a invasão dos Vikings à Inglaterra e tamanha a sua boa aceitação tornou-se uma faixa obrigatória nos concertos do grupo e também foi single - de promoção do álbum (cujo lado B possuia a faixa Hey Hey What Can I Do) e na parte instrumental tem boas linhas de baixo e bateria que se destacam da guitarra que ficou um pouco em segundo plano. A segunda "Friends" a única acústica da primeira parte do álbum que é mais uma composição de Plant e Page, tem a participação de John Paul Jones que fez os arranjos de cordas e também tocou o moog e as guitarras acústicas ficaram a cargo de Page que fez um belo trabalho e faixa ficou com uma cara bem psicodélica. 

"Celebration Day" retoma a parte elétrica, mas quase ficou de fora devido a um erro de estúdio cometido cometido por um engenheiro que acidentalmente acabou apagando as primeiras notas do baterista e para remediar o erro foi colocado partindo do final de Friends através de um compósito que permitiu a recuperação da faixa e a sua inclusão no álbum e nos demais detalhes sobre esta faixa ela é baseada em vários riffs da guitarra de Page e na letra Robert Plant contava as suas impressões sobre a cidade Nova York. E o blues força motriz do quarteto britânico não poderia ficar de fora e "Since I've Been Loving You" composta pelo trio Jones, Page e Plant é uma das primeiras faixas compostas especialmente para este álbum foi totalmente gravada ao vivo e não praticamente não teve o uso de overdubings e ainda teve o moog tocado por John Paul Jones e registra um dos mais memoráveis solos de Page, a poderosa voz de Plant apresentava-se num tom emocional que vinha lá do fundo da alma e mais pareciam lamentações dada a sinceridade que apresentava não tinha como não encantar e emocionar o ouvinte.



Fechando a primeira parte "Out on the Tiles" outra porrada elétrica, bem pesadona naquele estilo arrasa quarteirão com tudo no seu devido lugar o Zeppelin vai passeando com maestria naquilo que mais sabia fazer: rock de verdade para ninguém botar defeito e outro lado a se ressaltar o baixo estava bem mais alto e mais saliente cheio de groove, enquanto a guitarra explodia seus riffs perto dos refrões, já o tema é um trocadilho para "sair pela noite na cidade" e o título significa "fora dos ajulejos" e na verdade significa sair para frequentar os bares e beber, beber e beber todas e mais algumas e ficar fora do ar (no caso fora dos ajulejos) e a composição foi assinada por Page, Plant e pelo baterista Bonham e o resultado é uma das melhores faixas não só do álbum, mas da carreira dos britânicos também. 

Abrindo o lado B, vem a canção "Gallows Pole" que não foi composta pelo Led Zeppelin, pois trata-se de uma canção popular aqui apenas os arranjos foram feitos por Jimmy Page e Robert Plant que utilizaram como base para criar a sua versão outra já existente feita pelo músico de folk Fred Gerlach e no caso a base desta faixa começa com um violão e depois vem entra o bandolin e depois vem o baixo elétrico e ai vem o bajo e por último entra a bateria  num ritmo crescente e ai temos a versão do Zeppelin para esta faixa que também ficou perfeita e obviamente destacou-se. Poucas bandas sabiam fazer baladas como o Led Zeppelin e um caso clássico é a bela "Tangerine" desenvolvida por Page ainda na época do Yardbirds e que até então permanecerá inédita e para este álbum ganhou letras diferentes e apenas o verso "Medindo um dia verão" permaneceu e no caso do instrumental é uma fusão entre o acústico e o elétrico repleta de violões, bandolim, bateria e guitarra de doze cordas. 

Outra excelente balada é "That's The Way" enfim uma excelente canção assinada pela eximia parceria de Plant e Page e o lado acústico alcança o seu auge as guitarras acústicas e as gaitas de foles foram muito bem encaixadas criando um clima místico e se aproximam sensivelmente do progressivo e o bandolin de Jones manda muito bem suas notas hipnóticas e os vocais de Plant mostram versatilidade e não se abala de ir da faixa mais pesada a mais suave como esta e a letra em alguns momentos fala sobre o tratamento que a banda recebeu  (xingamentos, cusparadas entre outros e em especial a violência policial não apenas contra eles pelo fato de lhes apontarem armas, mas pela maneira como reprimiam os manifestantes contra a guerra do Vietnã que naqueles anos alcançava o seu ápice) nos EUA nas suas primeiras passagens por aquele país e também falam sobre ecologia e o meio ambiente no geral.
   

A faixa "Bron Yr Aur Stomp" (cujo significado é peito de ouro) é uma composição trio Jones, Page e Plant e tem tudo haver com o local onde inicialmente Page e Plant começaram a desenvolver as composições para o álbum e depois o baixista foi creditado com compositor pela sua participação nesta faixa cujos violões foram  tocados por Page e Jones que usou um de cinco cordas (um tipo de baico acústico), e um fato meio inusitado rolou também, pois o baterista John Bonham tocou as castanholas e também tocou as colheres (spoon) enfim é um belo country, mas só que bem mais agitado e mais pesado também embora seja acústico e a letra fala de Plant fala sobre o seu passeio com o seu cão pela floresta e mais parece uma homenagem a ele onde mostra por ele um grande afeto. 

O encerramento do álbum fica para a faixa "Hats Off To (Roy) Harper" que é uma mistura de vários fragmentos de blues e folk e as letras também são fragmentos e está incluso neste pacote trechos faixa "Shake 'Em On Down" do bluesman Bukka White, e é uma homenagem ao compositor e cantor Roy Harper que Jimmy Page conheceu no festival de Bath e ambos acabaram tornando-se amigos e Harper foi convidado a fazer a abertura de alguns shows do grupo anos mais tarde e a canção consiste nas slide guitars de Page cujo trabalho fez frente aos grandes mestres deste acessório e os vocais de Plant foram processados através de um amplificador de vibrato como uma espécie de efeito tremolo e parte mais engraçada é que embora não seja uma composição da dupla e sim o juntamento de um sem número de fragmentos de outras composições, aparece como autor da empreitada um tal de Charles Obscure que na verdade não era ninguém mais nem menos do que o próprio Page e vai entender o porque desta brincadeira.    

Outra parte interessante e que hoje é item de colecionador digno da frase: "disputado a tapa" é capa que foi projetada pelo artista gráfico Zacron que Jimmy Page havia conhecido no de 1963 quando ainda era estudante da Kingston College of Art e por isso entrou em contato com ele em 1970 e lhe pediu para fazer a capa e ai começa a parte mais legal dessa embalagem bem original e inovadora para os padrões daqueles dias, pois a capa possuía um volvelle com base em rotação de culturas interligado com um Zeppelin, ou seja o disco era rotatório, ou seja, girava ao receber o contato sobre ele (anos mais tarde, nos tempos atuais nas versões mini lp/cd fabricadas pelo japoneses tem essa versão que custa uma pequena fortuna).  



Embora o álbum não tenha se tornado um campeão de vendas, pois os fãs queriam uma continuação dos álbuns anteriores, naqueles dias antes de ser lançado já havia uma grande apreensão sobre o novo trabalho cujas encomendas antecipadas beiravam a casa do milhão de cópias e quando finalmente foi as lojas e os fãs puderam finalmente matar a curiosidade os detratores como já foi dito antes não entenderam o que estava acontecendo com a banda e logo começaram a criticar de maneira pejorativa enquanto o crítico Lester Bangs da Rolling Stones em sua resenha elogiou o disco enquanto uma boa parte os acusavam de repetir a música que fazia o CSNY. 

Comercialmente falando embora não tenha vendido horrores como se esperasse o álbum emplacou logo na primeira posição, do chart Billboard onde ficou por quatro semanas consecutivas nesta posição e na sua terra natal também ficou no primeiro posto das paradas e por lá por três semanas também consecutivas e o tempo acabou por torna-la um clássico embora tenha recebido várias críticas negativas e pouquíssimas positivas não impediu que Led Zeppelin III ao longo dos anos acumulasse seis discos de platina e também fosse considerados por outras gerações como o melhor álbum do grupo dividindo opiniões e uma verdade sobre este álbum é que ele foi um pouco além do público tradicional devido a sua sonoridade mais madura e transicional os permitiu adentrarem no mundo do progressivo e na minha opinião esse álbum trava um flerte mínimo com este estilo, mas o faz sem sombrade dúvidas. 

Justiça feita embora este não seja o quadro álbuns injustiçados, pois não há nada a ser defendido e por isso sem sombra de dúvidas estamos diante de um clássico não do Led Zeppelin, pois o álbum Led Zeppelin III ganhou esse status acima de tudo pelo reconhecimento do público que ao longo dos anos percebeu a sua qualidade em termos musicais e resolveu dar-lhe uma chance de comprovar o talento dos músicos cujo nível de criatividade iam além dos limites e apontavam direções que seriam exploradas e cada vez mais seria mescladas a sonoridade do grupo criando um som cada vez mais poderoso cheio de vitalidade para levara banda a níveis cada vez mais altos e consolidar de uma vez por todas como o a maior banda de rock dos anos 70, como de todos os tempos também na opinião de fãs e críticos que tinham neste álbum uma visão turva da realidade que cercava a banda e se esqueceram de que assim como eles crescem e mudam o Led Zeppelin também o fazia aos poucos, mas fazia bem feito.

Faixas: 

A1. Immigrant Song
A2. Friends 
A3. Celebration Day 
A4. Since I've Been Loving You 
A5. Out on the Tiles 

B1. Gallows Pole 
B2. Tangerine
B3. That's the Way 
B4. Bron Yr Aur Stomp 
B5. Hats Off To (Roy) Harper

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