8 de novembro de 2012

Álbuns Subestimados: Led Zeppelin - Presence (1976)


Em 1975, o Led Zeppelin voava nas alturas da fama que apenas crescia igual rojão e isso ficou ainda mais evidente quando os caras lançaram o álbum duplo Physical Graffiti (1975), onde a banda simplesmente mostra o seu melhor, o auge, os caras conseguiram um fato inédito ter seis álbuns nas paradas do Billboard 200, coisa que nenhuma banda de rock fez e por devemos considerar o seguinte: pressão os caras tinham  uma enorme expectativa por parte dos fãs e da imprensa que no próximo álbum as coisas andassem no mesmo clima e que o tal novo álbum superasse tudo o que já tinha feito até aquele momento. 



O ano de 1976, trazia grandes surpresas para os britânicos devido as conquistas acumuladas nestes poucos anos de estrada e o novo álbum, Presence chegava as lojas para alegria dos fãs e um detalhe deve ser ressaltado em relação a expectativa é que este álbum antes de chegar as lojas devido ao alto número de encomendas já estava com o certificado de platina ganho. E o lance aqui neste quadro é justamente fazer uma análise do álbum no contexto em que ele foi concebido e isso depois de trinta anos fica mais fácil porque esse distanciamento é necessário e por isso permite fazer uma análise mais detalhada que na época em que ele foi concebido não seria possível realizar pelo fato de muitas coisas ficarem difíceis de serem captadas e digeridas afim de promover a reflexão e as respostas necessárias para fazer um julgamento correto sobre o problemas que o grupo enfrentava naqueles dias. 

Antes que perguntem, se eu estou fazendo uma defesa do álbum, eu já respondo que estou e pelo fato de ouvir este disco desde 1991, ou seja mais de 20 anos, e depois de te-lo comparado com os demais álbuns da obra do Led Zeppelin é que me foi possível chegar a conclusão que o Presence é um álbum subestimado demais considerando a capacidade criativa e o poder de fogo dos caras que estava afiadíssima. E a primeira pergunta que me surgiu foi, porque este álbum é tão mal visto e quando falasse na banda e discute-se a discografia ele aparece sempre visto por baixo como um momento ruim do grupo e que deve ser exorcizado e fica parecendo que uma parte da discografia você obrigatoriamente você teria que pular.

Na minha opinião este trabalho não fica devendo nada, mas nada mesmo para os demais discos da discografia do grupo e eu tenho pena da época em que eu lia algumas matérias sobre o Led Zeppelin e quando o assunto era a discografia os primeiros 6 álbuns são considerados o período áureo de inspiração e criatividade dos caras e quando chegava a vez do Presence ai já azedava tudo; pois a primeira coisa que se falava é que este álbum marca o período de decadência da banda e que ele é o álbum mais fraco, de baixa inspiração e para um desavisado qualquer que não conhece a banda e lê um artigo destes sem querer acaba incorporando a sua mente este discurso e passa a reproduzi-lo sem o menor pudor, constrangimento ou seja lá o que for, e é, justamente por isso a razão de ser deste texto, ou seja, a segunda pergunta: Ele realmente foi e ainda é merecedor do desprezo e destas críticas negativas que recebeu? 


Começando o pleito em favor de Presence, o primeiro de tudo é começar pela situação interna da banda, pois é importante compreender que os artistas sejam quem for também passam uma série de problemas como nós cidadãos comuns, pois fora da vida pública eles são iguaizinhos a nós fãs e durante uma viagem de férias pela Grécia, e durante um passeio automobilístico  a família Plant sofre um sério acidente e o resultado foi uma série de fraturas envolvendo os dedos dos pés, o tornozelo e mais uma série de hematomas que o obrigou a ficar pilotando uma cadeira de rodas e todos ou quase todos os trabalhos de gravação foram feitos com Robert Plant nestas condições. 

Voltando a parte, em que eu falei sobre comparações que eu fiz ao longo de minha experiência como ouvinte me vejo obrigado a fazer algumas comparações com o álbum anterior Physical Graffiti que tinha sido lançado no anterior e na verdade apresentava uma série de canções que não eram novas, ou seja, eram sobras de estúdio dos álbuns anteriores e pouquíssimas faixa foram de fato compostas para completar o material enquanto em Presence o material composto para integra-lo foi inteiramente composto para ele, ou seja, tratava-se de um álbum, com um conceito totalmente novos e diferentemente do outro não explorou com profundidade os experimentos musicais.  

Tudo conspirava contra naquele momento, mas no ponto de vista musical foi importante porque devido as nuvens obscuras que pairavam sobre a banda naquele momento como o acidente de Robert Plant que deixava muitas incertezas no ar (pois, chegou a ser cogitada a possibilidade de ele andar com o auxílio de muletas e portanto esquecer do palco), e por isso massa sonora produzida mostrava-se como um trabalho concebido para superar os revezes sofridos pelo caminho. 



Quando colocamos o álbum para tocar já percebemos que se trata de um material de primeira e também de um trabalho emocional e quando começa "Aquiles Last Stand" percebe-se facilmente que através daquela estrutura sólida que se mantém ali firme até o final contém talvez dos melhores e mais furiosos solos da carreira de Page e a pegada de Bonham reafirma toda essa áurea em volta da banda e os vocais de Plant mostram-se altamente fora do comum, enfim um show de competência cuja letra cantada é um misto das experiências da banda no Marrocos e mais a inspiração de Plant em William Blake que ele andava lendo naquela época e existe também outra interpretação que está letra falasse sobre  o acidente sofrido pelo vocalista e retrata também a chateação de ter que sempre estar de mudança para escapar do esfomeado leão britânico. John Paul Jones também deixa nada a desejar e a sua pegada se equipara aos dos seus colegas, simplesmente animal! 

A faixa "For Your Life" confirma o lado emocional da banda que expõe de maneira clara e aberta para quem quisesse ouvir um pouco sobre o inferno das drogas, o lado ruim da coisa o inferno astral dos caras na banda. Mais uma vez os solos de Jimmy Page se mostram avassaladores, destruidores numa ferocidade pouquíssimas vezes escutadas e que esbanjam tanto sentimentalismo, ou seja, uma faixa pesada que cativa de imediato. Em "Royal Orleans" a banda flerta com o funk, mas não se aprofunda e a assinatura é divida pelos quatro e aqui os méritos da canção ficam para a bateria e o seu vôo livre e descompromissado, e as letras falam sobre o período em que a banda permaneceu hospedada no Royal Hotel, em New Orleans onde o baixista John Paul Jones protagonizou uma cena hilariante, pois levou uma "mulher", seja um travesti para o seu quarto e enquanto fumavam um baseado dormiram com ele aceso na mão que acabou incendiando quarto e quem escreveu a letra foi Plant e o objetivo era uma espécie de vingança, já que Jones havia dito em uma ocasião que os vocais eram a parte menos "importante" da banda. 

Outro tema peso pesado é a arrasa quarteirão "Nobody's Fault But Mine" que se tornou tema obrigatório dos shows da banda e por isso é uma das mais conhecidos e dificilmente fica de fora de uma coletânea do grupo e também falava sobre os excessos da fama e os materialismos muito presentes neste meio e como eles enganam e entorpecem as pessoas. Esteticamente falando é um hard rock excelente pesado e direto cheio de feeling e faz clara referência os primeiros álbuns que além de possuírem seus apetrechos também eram bem pesadões e atingiam direto no centro do alvo. O álbum mantém-se equilibrado e coeso com "Candy Store Rock", que é uma canção forte cujo diálogo com o funk e o soul ficam bem a mostra no swing de John Paul Jones que simplesmente detona, e nas letras o tema parece abordar, ou seja, mostra-se um desabafo sobre a super exposição e o assédio que o vocalista sofria (e nisso incluí-se o restante da banda). E o lado mais comercial não destoa e a faixa "Hots on for Nowhere" é a pura prova desses britânicos  que souberam explorar as linhas melódicas e mais voltadas para fácil assimilação, e as letras de Plant denotam a sua insatisfação com os seus colegas Page e Grant. Finalizando a bolacha vem "Tea For One" um blues bem pesado e emocional e com características próprias que mostram um maior amadurecimento e a importância da banda e porque se afirmavam como uma banda original e aqui está a prova desses anos de estrada e do desenvolvimento rápido e dinâmico e o tema era nada mais que a solidão que Plant abordava, pois a sua esposa encontrava-se internada e por isso não podia acompanha-lo em sua viagem.  



Em Presence a dupla Plant e Page responsáveis por todas as composições do álbum mostram que os trabalhos de Malibu e posteriormente em Munique valeram apena, pois os caras deixaram de lado todos os experimentos e sem medo nenhum investiram num álbum forte, coeso baseado apenas nas guitarras, bateria, baixo e voz cuja massa sonora poderosa aliada as letras esbanjavam ansiedade pelos problemas já citados sobre Robert Plant e o seu futuro incerto e por isso os sentimentos estavam ali também, pois o medo de medo de uma depressão que poderia se instalar justificam o trabalho em dupla nas férias que ambos tiraram e praticamente se trancaram sozinhos para compôr o álbum inteiro e tinha-se nessa época um Jimmy Page afundado nas drogas, enquanto John Bonham se afundava progressivamente no álcool (que poucos anos mais tarde seria o pivô de sua morte) e apenas o baixista e tecladista John Paul Jones estava mais tranqüilo e tentou manter tudo nos trilhos para evitar maiores dissabores.      

Segundo o próprio Jimmy Page este era o melhor trabalho da banda em termos de emocionais, pois não sabiam se iriam conseguir voltar a tocar com o mesmo ímpeto de sempre e isso faz deste álbum uma prova de superação onde a melhor maneira foi exorcizar os demônios e fantasmas que os assombravam naquele momento e por isso o resultado foi um álbum cru, com boas doses de rispidez que despejavam na cara e nos ouvidos das pessoas tudo o que estava entalado nos corações da banda que não se amedrontaram se mandaram numa aventura visando atravessar um deserto, um pântano de maneira intransigente e que parecia não ter fim. 

Quando uma banda do peso do Led Zeppelin lança um álbum de grande sucesso comercial, como foi com Physical Graffiti sempre existe uma grande expectativa que naturalmente acaba transformando-se numa enorme pressão sem precedentes e isso gera a obrigação imediata da banda superar o que já existe. Em Presence como a banda resolveu apostar em uma sonoridade diferente, ou seja, num hard rock que remontaria uma volta aos primórdios e que com certeza tem plena relação com o momento que os membros da banda atravessavam e as interpretações distorcidas em cima delas e por isso foram desfavoráveis para o álbum e o folclore do declínio da banda manteve por longos anos. Para deixar algo claro, o Led Zeppelin não entrou em declínio pelo fator musical e sim pelos excessos cometidos ao longo dos anos que a banda se manteve na ativa e o fim da banda está relacionado a eles. 



Embora não tenha sido um primor comercialmente falando o fato é que o álbum estreou em primeiro lugar (e como já foi dito saiu da fábrica para as lojas com o disco de platina já ganho) nas paradas britânicas e norte americanas e as vendas foram muito bem no primeiro momento, mas depois declinaram e as criticas feitas pela imprensa especializada se dividiram, pois o que pegou foi mesmo com os fãs que estavam acostumados aos álbuns anteriores e a sua variedade e derrepente viram-se as voltas com um álbum tão pessoal e tão carregado com as angústias que pairavam sobre a banda naquele momento difícil e esses são fatos reais e não apenas desculpas para justificar um trabalho que os fãs ou a imprensa tenham considerado mal sucedido. A capa do álbum foi concebida pela Hipgnosis (que diga-se de passagens é famosa pelas diversas capas que criou inclusive para o UFO que teve inúmeras de suas capas assinadas por esta empresa e que também prestou serviços ao Pink Floyd em Wish You Were Here (1975) e mais um sem número de bandas) e o conceito do obelisco (conhecido como "o objeto") no centro da mesa onde estava a família e as várias pessoas interagindo com o obelisco tem uma razão de ser e neste caso representava a presença e a força da banda e também era uma sátira ao filme de Stanley Kubrick, 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968).

Não há a menor dúvida que Presence é um álbum subestimado e injustiçado e por isso merece uma reavaliação urgente, pois o material registrado nele além de não ser acessível por ser um álbum muito pessoal e por isso fala de uma maneira muito forte, clara e objetivo sobre sentimentos, emoções intensas demais e por isso a compreensão não era nada tranquila para o público. Enquanto as performances individuais elas foram impecáveis e cada um pôs para fora o que tinha de melhor durante a realização dos trabalhos de gravação, pois John Bonham reiterava a fama que angariou para si como um dos melhores bateristas que o rock já teve, Robert Plant cantava e emocionava com a sua voz mesmo estando em período de convalescença e Jimmy Page esbanjou solos furiosos, abstratos e alucinadores e John Paul Jones também deixou a sua marca com maestria, pois a sua presença foi importante porque ele teve um enorme jogo de cintura para apoiar os seus companheiros e também mandou sensacionais linhas de baixo para ninguém botar defeito algum. Toda esse burburinho em volta de Presence serve como uma oportunidade para se rever conceitos em torno do trabalho, em torno da banda também e é uma maneira de se reparar uma injustiça contra um álbum que foi malhado e ignorado devido a má interpretação entre o seu resultado sonoro e as condições que os integrantes se encontravam.  

A verdade é que Presence merece o mesmo destaque que os outros embora não tenha sido dotado de grandes hits que entrassem para a posteridade como fizeram Black Dog, Stairway to Heaven e mais uma série deles, pelo menos mostra uma banda cuja força e vontade de continuar na ativa eram enormes e tinham vida própria através de sete faixas marcantes que como ninguém soube retratar e exprimir os seus sentimentos e emoções de uma maneira tão aberta e tão clara e objetiva e que emociona demais quem o tem nas mãos e justamente por isso ele é tão incrível, pois pelo fato de ser intenso demais e dizer na íntegra o que tinha que dizer, ou seja, dar um grito de dor clamando por liberdade, conforto entre outros é que faz dele um álbum tão especial por ser tão intrínseco e a falta de compreensão e a distorção o tornaram um álbum subestimado e injustiçado. Se você o tiver na sua estante faça o seguinte abra uma boa cerveja e se fores fumante acenda um cigarro sente-se na frente do seu toca discos e deixe som rolar e não se preocupe apenas analise e tente descobrir o que realmente existe no seu âmago e depois decida se ele é ou não digno do status que recebeu. 

Faixas: 

A1. Achilles Last Stand 
A2. For Your Life 
A3. Royal Orleans 

B1. Nobody's Fault But Mine 
B2. Candy Rock Store 
B3. Hots On For Nowhere 
B4. Tea For One    





       















Nenhum comentário:

Postar um comentário