3 de junho de 2014

Livros: William Burroughs - Almoço Nú (1959)


Em 1957, a geração Beat chegava com tudo primeiramente com Jack Kerouac e seu alucinante On The Road e na sequência Allen Ginsberg atacava com O Uivo, porém ambos são um marco na literatura americana e mundial também porque se tornaram referências para as futuras gerações e principalmente no seu tempo influenciaram os jovens. Só que faltava ainda uma parte desse quebra cabeças insano anti moralista que pregava um novo ethos e quem preencheria esse vazio aberto por estas duas obras fenomenais seria William Burroughs com o seu Almoço Nú, uma obra escandalosa, recheada de paisagens bizarras frutos de uma mente entorpecida.



A obra a primeira vista choca pela falta de conexão entre os capítulos, pois existe ali uma brusca mudança de cenário cujas paisagens em nada se assemelham e de fato assombra obrigando o leitor a construir em sua mente um fio condutor para entender a obra, porém é um esforço inútil. Assim como os seus colegas Kerouac e Ginberg, William Burroughs tinha uma visão plena sobre a sociedade de década de 1950 e do lado perverso do sonho americano. Assim sendo pode-se ter uma ideia do que aguarda o leitor em Almoço Nú, ou seja, relatos de alucinações, viagens promovidas por picos quentes de heroína na veia seguida de outras altas doses de morfina, paregórico e mais outros opiáceos.  

Para ler o livro é necessário deixar-se levar, mergulhar no mundo caótico e sombrio descrito pelo autor cuja linguagem poética e ao mesmo tempo agressiva, chula descreviam a violência, o caos e a desordem desse submundo alucinado criado pela mente atormenta desse homem. A trama além da descrição das drogas ainda escancara as portas do pudor e o faz desaparecer quando o assunto é sexo, pois encontramos descrições bizarras de homosexualismo até as relações heterosexuais de uma maneira que faria os puritanos se trancaram por mês nos confessionários de suas igrejas.

Trata-se de um texto experimental, porém revelador por jogar na cara o que o mundo tinha de mais secreto e que poucos tinham coragem de por para fora. Enfim, eram novas experiências que estavam nas ruas das cidades erigidas pela mente mais brilhante, atormentada por seus fantasmas e quando você acorda desse pesadelo vulcanico passa a rejeitar a realidade e a refutar os padrões hipocritas que nos amarram bem amarrados. Esse lado B, que Burroughs descreve é autobiografico, pois ele foi viciado em heroína durante quinze anos e só libertou-se do vício aos quarenta e cinco anos. 
Depois do fim tem os depoimentos onde ele fala sobre o vício e sobre as sequelas que o assombraram após essa jornada maldita pelo submundo da heroína. As demais partes constam cartas onde ele fala sobre a diferença de diversas drogas oriundas ou não do ópio e qual a sua importância para ajuda-lo a superar o seu vício em definitivo cujos efeitos nefastos deixados pelos anos de abuso foi além da flacidez sérios problemas de fígado e envelhecimento precoce.

Críticas é o que não faltam em Almoço Nú começando pela postura moralista, hipocrita e conservadora dos governos e da própria sociedade que os apoia em suas cruzadas imorais. Para ele não o mais importante não é atacar o traficante e sim recolher os viciados, pois eles é que deveriam ser o alvo e dando-lhe drogas controladas o tráfico aos poucos seria desmantelado, enfim é um adiantamento em mais de cinquenta anos sobre a atual discussão sobre a discriminalização e liberação do consumo da maconha controlados pelo governo, mas que são comercializados pela incipiente indústria privada.

Resumindo, a leitura foi extramente agradável, caótica por ter que juntar todo o quebra quebeça com algumas dificuldades básicas, aqueles inerentes aos marujos de primeira leitura. É altamente recomendável para aqueles que se amarram na litaretura beat e vão ficar impressionados com a destreza, a prosa e o encanto que o mundo preconizado por Almoço Nú apresenta e as possibilidades de viagem ofertadas por ele cujo saldo é por sua conta risco.      








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