23 de outubro de 2012

Álbuns Injustiçados: Budgie - Power Supply (1980)


Esta série pretende revisar e fazer justiça aos álbuns que a sua época foram mal compreendidos e por isso receberam criticas negativas e portanto ficaram esquecidos, ignorados pelos fãs (alguns adeptos do não ouvi e não gostei, ou já foram com pré-conceitos sobre o tal material), portanto muitos discos que entraram e ainda entram para o hall do injustiçados, marcam mudanças na carreira do grupo que geralmente visam atualizar o som para década seguinte para estar de acordo com mercado musical do período e também é concomitante a mudanças na formação o que é inerente a qualquer banda, pois algumas conseguem manter-se em alta, outras caminham entre altos e baixos conseguindo manter-se na média enquanto outras declinam totalmente chegando até a mudar de estilo. 



O disco escolhido para este segundo episódio reflete duas mudanças: a primeira foi na formação, a segunda foi justamente a mudança, ou seja na transição da sonoridade da década de 70 para a década de 80, para poder acompanhar as outras bandas que vinham mudando gradualmente a sua sonoridade e no caso do Budgie essa mudança começou com o álbum Impeckable (1978), que também foi mal compreendido e só não foi fracasso total porque duas de suas faixas foram trilha sonora do filme J-Man Forever de 1979 e também teve exposição no seriado norte-americano Night Flight de 1981, e por fim acabou por tornar-se um disco clássico.

Embora o Budgie não tem alcançado o mesmo status de bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, alcançou relativo sucesso e dividiu o palco de vários festivais com bandas como: Wishbone Ash, Thin Lizzy e muitas outras que estão inclusas no mesmo patamar em que o trio gales.

A verdade sobre Power Supply é que ele é um álbum que marca um período de transição cujas bandas que vinham da década de 1970 tiveram que assimilar e portanto foram obrigadas para sobreviver já que uma nova safra de bandas já tinha praticando um igualmente pesado recheados de guitarras pesadas e velozes, pois a maior prova disso é o Judas Priest que começou a promover essa mudança no seu segundo álbum e todos sabiam que não teria mais volta e que mudar seria mais necessário nessa nova década onde o hard rock e o heavy metal se apresentavam reformulados pela nova geração que definiu os padrões estéticos de ambos os estilos.



Então nessa esteira e para poder se encaixar o Budgie entra na dividida, ou seja na disputa com tudo o que tinha a sua disposição, pois a banda também havia sido reformulada, pois da formação original restou  apenas o líder, o baixista Burke Shelley  porque Tony Bourge já cansado das extensas turnês e da vida na estrada longe de casa resolveu abdicar de seu posto e para o seu lugar foi contratado o guitarrista John Thomas e foi justamente com este line-up que o grupo partiu para o estúdio para gravar o sucessor de Impeckable (1978), cuja produção foi assinada pelo próprio grupo e foi lançado no mercado em outubro de 1980. 

E o trabalho que pode-se encontrar em Power Supply é fantástico, pois neste álbum a banda conseguiu renovar o som e de quebra entrou a pleno vapor na nova década e tornou-se uma das principais influências para os grupos emergentes da cena heavy metal britânica (NWOBHM), embora não tenha sido aclamado como esperava a banda porque os títulos cômicos tanto quanto as letras não existiam mais, mas a capa ainda trazia o homem pássaro na versão metalizada mais apropriado ao novo som apresentado no novo disco. 

As faixas mostram toda a potência do grupo que entrou com força total e em momento álbum fez concessões e manteve-se ali fiel as suas raízes e logo na abertura com a faixa Forearm Smash cuja a base acelerada firmada pelos solos e riffs das competentes guitarras de John Thomas que mostram que esse de agora em diante seria o caminho do qual arriscar uma volta seria impossível e os vocais de Burke Shelley estavam diretos e agressivos assim como manda o heavy metal. E como uma locomotiva desgovernada que vem levando tudo o que encontra pelo caminho entram de sola com Hellbender com um ritmo cadenciado e rápido novamente conta com bons ritmos de guitarra que desembocam em belos solos onde o guitarrista comprova ter toda competência e talento para estar no lugar do exímio Tony Bourge. 

E como toda banda o disco também tinha suas faixas de fácil assimilação e neste caso a faixa era Heavy Revolution cuja melodia e os refrãos grudavam de imediato e talvez seja um dos hinos desses novos rumos tão urgentes e imediatos que o rock tomou nessa década onde o Heavy Metal ganhava suas caracteristicas principais através de bandas como o Budgie que apostou nessas transformações sem olhar para as quatro direções e se reinventou apostando nos riffs pesados e solos cortantes de guitarra, em linhas de bateria mais diretas acompanhadas pelo baixo ainda mais preciso e vocais claro: muito mais agressivos e diretos como pede o estilo.  



A inspiração tomava conta do grupo, que transpirava o seu talento que naquela altura parecia inesgotável e todas as canções de Power Supply mostravam isso de forma autentica e deixavam claro que a banda estava ali para ficar e que queria conquistar seu espaço entre os grandes nomes da música pesada na nova década que nascia com tudo, pois não apenas o Budgie passava por uma período de transição bandas como: Black Sabbath, UFO, Wishbone Ash entre muitas outras que vinham do anos de 1970 tiveram que fazer essas mudanças para não se tornarem obsoletas e conseguiam a medida do possível fazer as importantes mudanças para poderem continuar no topo ou pelo menos em evidência esperando por um lampejo de consciência para brilhar. 

E o disco não para de mostrar o seu verdadeiro valor e o lado A fecha justamente com a faixa Gunslinger, cujo começo é lento com os vocais lugubres de Shelley, acompanhado de passagens acústicas muito bem elaboradas para aos poucos começar a ganhar o peso dos riffs de guitarra e, da bateria como sempre incessante, entrecortada por solos e uma salada instrumental cheia de virtuose musical. E no lado B a abertura fica sob a responsabilidade da faixa título num ritmo bem AC/DC, cujos riffs e solos se ajustam perfeitamente ao tema e junto com os coros roubam a cena e mostram personalidade própria não fazendo feio e mostrando  pelo instrumental que o negócio do Budgie é o heavy metal a qualquer custo e que nada e nem ninguém poderá detê-los.

Como podemos constatar, o álbum  não dá trégua alguma são pedradas atrás de pedradas em grande estilo, na melhor tradição do Budgie cujo peso, melodia e agressividade são  as marcas registradas do conjunto e na sequência vem a demolidora Secrets In My Head e novamente a banda mostra porque fez sucesso no período da NWOBHM, riffs rápidos e pesados, solos para lá de virtuosos dignos dos verdadeiros mestres da seis cordas, enfim faltam palavras para descrever tamanho talento emanado do instrumental do grupo que não foi nem parcimonioso e nem teve escrúpulos para executar este material.



Depois de viajar por dentro do material apresentado em Power Supply e aventar todas as qualidades do álbum, pode-se afirmar corretamente que não houve  perda de identidade e sim uma mudança nos padrões de composição, mas a imprensa e boa parcela dos fãs não compreenderam essas mudanças que são inerentes não só do ponto de vista artístico, pois as pessoas também mudaram, ou seja, os fãs mudaram e obviamente o gosto também mudou e a imprensa demorou a sacar que os anos 80 não seriam uma cópia da década passada e não economizaram saliva para detonar bandas (pois o próprio Judas Priest que recebeu várias críticas negativas). Portanto o que foi visto na década de 1980 foi o nascimento de vários subestilos que hoje tem seus ícones que saem pelo mundo arrebatando plateias e vendendo milhares de cópias de seus trabalhos.

Pelo que eu me lembre muitas bandas que vieram da década de 1970 escolheram seguir um rumo diferente, pois muitas apostaram numa carreira mais comercial direcionando-se para o AOR estilo de grande sucesso na década de 1980, enquanto outras mudaram apenas a sonoridade e continuaram levando aos trancos e barrancos, enquanto outras encerraram suas carreiras como foi o caso do Budgie que ainda lançou os álbuns Nighflight (1981) e o Deliver From Us Evil (1982), e em 1985 depois de estar bastante desgastada encerrou as atividades.

O caso apresentado aqui diz uma coisa que não se trata de um disco indigno do status de clássico, mas diz que são injustas as criticas que este recebeu, pois ele assim como muitos outros foi mal compreendido, pois naquele período os críticos vinham da década de 1960 e 1970 e não souberam compreender o que estava acontecendo naquele momento tão importante para a música, pois a década de 1970 desaparecia mas deixava o seu legado vivo através dos seus herdeiros que caminharam pela nova década criando seus novos clássicos, mas isso não quer dizer que Power Supply não tenha defeitos, pois o único pecado foi a produção que o deixou com um volume um pouco baixo, porque enquanto ao repertório é impecável, pois temos ali verdadeiras pérolas do heavy metal que nem nos discos ruins de muitas bandas clássicas tem músicas que pelo menos se equiparem a essas presentes em Power Supply, fato que comprova a grandiosidade deste material.

Então por isso leitor, eu te faço uma sugestão antes de aceitar qualquer opinião que simplesmente repita, essas criticas, faça o seguinte: pegue o disco e ouça você e tire as suas próprias conclusões e depois diga se aqueles críticos tinham razão ou não, pois o único remédio disponível é você fazer a sua própria analise e dizer você com propriedade o que você pensa porque como você já sabe a palavra final é apenas sua e de mais ninguém.      

Faixas: 

A1 Forearm Smash 
A2 Hellbender 
A3 Heavy Revolution  
A4 Gunslinger 

B1 Power Supply 
B2 Secrets in my Head 
B3 Time to Remember 
B4 Crime Against the World 








  


Um comentário:

  1. Budgie é bom demais!

    Esse álbum é só mais uma pérola de muitas lançadas por eles!

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