15 de outubro de 2016

Iron Maiden - Somewhere In Time (1986)


O ano de 1986 foi um ano de grandes lançamentos, o Slayer e o Metallica chegavam ao ápice do Thrash metal, mas por outro lado outras bandas entravam em declínio tentando em vão se adaptar ao mercado norte americano, o Judas Priest, o Grave Digger, entre outras dezenas de bandas acabaram por sair chamuscadas dessas aventuras malsucedidas. O Iron Maiden por sua vez recentemente transformou-se numa das forças definitivas do heavy metal, o passado recente contava com o grande Powerslave e de quebra o Live After Death, um monstruoso álbum vivo, enfim, um clássico, que está no hall dos principais álbuns desse formato e, que, vive perambulando, com destaque, pelas listas das inúmeras publicações de metal ao redor do planeta. 


O sucesso, a fama meteórica seriam postos a prova nesta empreitada nova. Um novo trabalho bem diferente dos anteriores, mas que manteve a energia, a criatividade e força da Dama de Ferro intactas, a formação clássica estava lá no seu auge e desempenhava um trabalho fabuloso de extrema qualidade, positiva. Como bem se sabe um clássico chama outro mesmo que isso não seja verossímil o que dá para aferir dessa máxima é que às vezes o passado ofusca o presente e o sucesso de um disco, ou melhor, de vários deles, assombra o presente e acaba fazendo um bom trabalho passar desapercebido ou ficar apagado quando não injustiçado. 

É inevitável não fazer comparações entre passado e presente, mas é sempre mister que se deve obedecer ao bom senso, ou seja, buscar um ponto de equilíbrio e entender que um artista não repete sempre a mesma fórmula. Ele busca sempre novos rumos, ele experimenta outras sonoridades, tecnologias afim de incrementar seu trabalho objetivando melhores resultados, elevando-se a níveis ainda maiores dentro de suas capacidades, habilidades musicais seja compondo ou mesmo solando, executando um riff ou solo de guitarra, linhas de baixo, as porradas na bateria, a virtuose, a base, a grande estrela vésper do Iron Maiden. 


Dito tudo isto vamos deixar de mais delongas e vamos explorar o universo de Somewhere in Time, o sexto álbum de estúdio do Iron Maiden. Comecemos pela capa, ou seja, o desenho de Derek Riggs já indicava os passos tomados, a imagem futurista do Eddie com uma pistola de laser recém disparada nas mãos cujo cenário remonta ao filme Blade Runner, mas sem qualquer conotação direta ao filme, é a capa uma das capas mais legais, mais bem elaboradas que vestiram um disco de heavy metal. As alterações no som podem ser escutadas nas guitarras, elas foram sintetizadas. Só que o som não ficou fraco, não ficou poser, ou seja, ele ficou forte e ressaltou ainda mais a força, a virtuose, das guitarras gêmeas, Adrian Smith e Dave Murray são os verdadeiros herdeiros das lições do Wishbone Ash. 


A faixa título, “Caught Somewhere in Time”, começa com solos e desenrola-se numa violenta cavalgada de guitarras para ninguém botar defeito e mais o peso que o baixo e a bateria conferiram à música já evidenciavam o talento acima da média dos músicos que expunham um genuíno álbum de heavy metal.  Os anos realmente estavam no ar e os rapazes do Maiden estavam respirando profundamente estes ares, mas ao contrário de reproduzir, eles foram além e criaram um amalgama poderoso e único, clássico que reflete em “Wasted Years” faixa que entra não só em todas as coletâneas, álbuns ao vivo, mas é presença obrigatória nos shows. Outro lado apaixonante é o diálogo com a literatura “Stranger In A Stranger Land”, ou seja, uma referência direta ao escritor de ficção científica Robert Heinlein, a sua clássica obra, mas não é só isso, e o que se ressalva aqui mais uma vez o talento e a inspiração que se sobressaem pelos poros desse quinteto.  


Não há nada aqui que está fora do lugar, a produção caprichada que deixou o álbum perfeitamente audível é perfeitamente possível distinguir os instrumentos e captar os melhores momentos de uma banda afiadíssima em estúdio dando o melhor de si música após música, sem trégua. “Sea of Madness” é monumento a melodia, a estrutura de uma música de heavy metal de “a” até o “z”, os refrãos são plenos e completamente hipnóticos. A voz de Bruce Dickinson parece surfar sobre as melodias entrando na mente e no coração de quem está ouvindo-a, rola um certo sentimento um tanto passional. “Heaven Can Wait” vem com um espírito mais “comercial” típica faixa de metal para estrear nas rádios e não sair de lá. “The Loneliness Of The Long Distance Runner” é outro belo momento que não foge do restante e se encaixa perfeitamente dentro do contexto mantendo o alto nível no álbum, um hit. 


“De Ja Vu” e suas belas melodias e a voz de Bruce Dickinson lá as alturas lado a lado com as guitarras rifando e solando deixam no chinelo cantores como Michael Kiske, que no máximo pode ser considerado um aprendiz do mestre, porém de um talento monstruoso também, os Keepers apesar de grandes álbuns ficam abaixo aqui, infelizmente. É difícil ouvir essas melodias sem o coração, pois é lá que “De Ja Vu” toca, é uma expressão de como a música faz parte do sagrado e liga nós homens e mulheres com o mundo e faz em nós aflorar as sensações mais humanas assim como faz Camões, o heavy metal é uma peça fundamental do humanismo, de fraternidade, igualdade e, claro, de liberdade. O fim do massacre sonoro de Somewhere in Time rola com “Alexander the Great” uma das maiores faixas, um hit, do álbum, mas nunca foi executado ao vivo, o clima épico e emocional tomou conta, Steve Harris é de fato um dos maiores ou talvez o maior compositor de heavy metal, o cara não economizou nas variações, ou seja, foi além dos limites.       

Depois de tudo isso, o que decepciona é saber que a própria banda menospreza o disco, as faixas que foram incorporadas ao set list shows são poucas. Um álbum clássico que conseguiu sobreviver as críticas e manter-se no panteão dos grandes álbuns da banda tornando-se um clássico ainda que questionável deixando marcas profundas o tanto que o fato reputa-se verdadeiro porque vários e vários fãs veem nele de longe o melhor álbum da banda, enfim, a discografia que reflete a carreira bem sucedida desses caras é bem democrática e além deste Iron Maiden (1980) e Killers (1981) para uma parcela considerável também são disparadamente considerados os melhores. Os anos passam e lá se vão trinta e Somewhere in Time continua firme e forte sendo descoberto e ganhando o seus status de clássico pelas novas gerações que a sua maneira vão desfazendo a injustiça feita a ele ouvindo e revendo os conceitos por trás, portanto, para desdizer os que dizem que o Iron Maiden morreu com Powerslave (1986), eu digo que o Iron Maiden renasceu com este clássico. Daqui para a frente a discussão é com vocês, leitores, que vão decidir o qual é o lugar dele e se reputa-se a ela verdadeira a fama de injustiçado ou se era merecedor das críticas que recebeu.    

Lista de músicas

A1 Caught Somewhere In Time 
A2 Wasted Years 
A3 Sea Of Madness
A4 Heaven Can Wait 

B1 The Loneliness Of The Long Distance Runner 
B2 Stranger In A Strange Land 
B3 De Ja Vu 
B4 Alexander The Great.

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