14 de abril de 2012

Classic Heavy: Judas Priest - Sad Wings Of Destiny (1976)




Na segunda metade da década de 1970, o heavy metal já estava estabelecido e os outros filhos do Black Sabbath começaram a sair das garagens tentando buscar seu lugar ao sol no concorrido mercado, musical dos anos setenta a tarefa não era nada fácil, pois observando as bandas e os álbuns lançados nota-se tranqüilamente que esse período foi marcado pela originalidade e justamente por isso grandes nomes surgiram e caminharam pela terra arrebatando platéias, construíndo uma carreira sólida, apoiando-se nas legiões de fãs.



As mudanças que começavam a ser operadas pelas bandas naquele momento seriam decisivas para a próxima década, e essa evolução natural do estilo teve forte impacto no cenário através da banda inglesa Judas Priest responsável por levar o heavy metal para outro patamar, pois o grupo fez uma verdadeira revolução no cenário ao começar a abandonar os cacoetes setentistas (blues e jazz), e simplesmente iniciar uma avalanche sonora pronta para devorar tudo que estivesse em seu caminho.

 E o começo da anarquia aconteceu com o lançamento do primeiro álbum de estúdio Rocka Rolla (1974), primeiramente mostrando um som calcado na sua maior influência o Black Sabbath, de onde tiraram a inspiração para começar a criar visando inconsciente ou conscientemente “reinventar” o estilo dando-lhe vida nova e fôlego imprescidiveis para levar a efeito seus planos ambiciosos, que se concretizariam num futuro não muito obstante. Embora o primeiro álbum não tenha trazido os louros da fama tão esperados, ele teve sua serventia, pois ele era uma indicação clara que os tempos de mudanças estavam ali bem na cara de todos e que uma banda nova surgia para fazer a diferença. 


Em 1975 o Judas Priest passava por mudanças na formação, e o baterista John Hinch acabou demitido do grupo e no seu lugar entrou o baterista Alan Moore. A exemplo do primeiro álbum o Judas Priest estava sob contrato com a gravadora independente Gull, que não possuia grandes recursos financeiros para auxiliar a banda na gravação de seus álbuns, mas isso não foi problema para o segundo álbum e com o line-up já estabilizado outra vez, partiram para dar a sua virada na mesa entrando no Rockfield Studios sediado no País de Gales, cujos trabalhos foram realizados entre os meses de novembro e dezembro de 1975 cuja a produção foi assinada em parceria entre a banda e os produtores Jeffery Calvert e Max West. Desta vez o Judas Priest gravou de maneira diferente, pois tudo gravado ao vivo em estúdio com a banda tocando toda ao mesmo tempo, ao contrário do que acontecerá no antecessor cujos problemas técnicos afetaram o som, somando também a intromissão excessiva do produtor Rodger Bain cujo impacto interferiu no resultado final. O segundo álbum intitulado Sad Wings Of Destiny foi as lojas em março de 1976, e os resultados dessa vez foram além, pois a qualidade das composições além de ter as influências do Black Sabbath, mostravam a banda mais madura e principalmente com caracteristicas próprias e isso refletiu-se nas faixas. 

O álbum abre de cara com a épica Victim Of Changes, cujo solo de abertura já deixa bem claro a sua mensagem, e o peso comandado pelas guitarras gêmeas de Glenn Typton e K.K Downing não economizaram nos riffs e solos além de esbajar técnica e talento inerente a essa dupla cuja parceria ainda produziria num futuro não obstante diversos clássicos fundamentais consagrando o nome do Judas Priest colocando a banda no panteão dos deuses do heavy metal. Já a faixa The Reaper começa com os vocais desesperados de Halford que deixam explicito porque ganhou a alcunha de Metal God, e os riffs e solos novamente roubam a cena, a bateria sempre precisa tocada com mão de ferro por Alan Moore mostram que o Judas Priest não estavam para brincadeiras, e o baixo linha dura de Ian Hill definia que não haveria mais volta e não seria dada a chance para que ninguém escapasse da avalanche sonora promovido pelo quinteto britânico. 

E as faixas de destaque não para por ai, o peso e as melodias com boa dose de velocidade afirmam a qualidade do disco, e mostram ai uma das grandes referências utilizadas pelas bandas da década de 1980, e o destaque vai para a banda toda mas mesmo assim nesse caso não tem como  abafar, pois a dupla de guitarristas estavam afiadissima e os riffs e solos  são o ponto alto desse disco e aqui nessa faixa isso pode ser confirmado, pois ambos desfilam o poder de fogo arrebatador e mortal da banda. Outra faixa de grande destaque e que obviamente caíra nas graças dos fãs era Genocide cujo inicio é também marcado por um grande riff de guitarra, cujas melodias cativantes apoiados por solos homéricos exprimem o que é heavy metal e o que ele deveria ser dali em diante e os vocais apocalipticos de Halford eram marca registrada dessa agremiação de caos e desordem que sobrepunham ao rock avassalando e arrebatando fãs mostrando que dali para a frente nada mais poderia parar esta máquina destruídora de ouvidos alheios.


Finalizando a parte das músicas pesadas, duas faixas que não fizeram o mesmo sucesso que o quarteto acima fez vem a faixa Island Of Domination que embora fique numa posição inferior também não deixa por menos desde sua introdução cujo piano é tocado por Glenn Tipton, e o ritmo mais rock´n´roll recheados de riffs e solos pesadissimos, aliados a poderosa cozinha que reafirma o peso, a agressividade mesmo nos momentos cadenciados, não dando trégua e muitos menos fazendo concessões e também transformava-se num convite que talvez nem Baco (o Deus do vinho e da loucura), rejeitasse tal convite tornando-se parte nessa festa e acentuado ainda mais o poder de fogo emanando deste grupo que caminharia desvairado sobre a terra enlouquecendo a todos que encontrasse pela sua frente. 

A segunda e última faixa que sela o hall das faixas mais pesadas do álbum, que embora também tenha ficado relegada a segundo plano, mas que no final das contas é parte importante do álbum e fundamental para a compreender as mudanças em curso operadas pelo Judas Priest que já se começavam a fazer sentir de maneira suscinta, porém faziam estrondoso barulho e tinham impacto agressivo no cenário, fato que se pode confirmar e sentir em Deceiver que também pode permitir que o ouvinte capte o espirito que envolveu e embalou a banda durante as gravações do álbum, mas fora esses detalhes a faixa mostra seu poder de persuação do ouvinte que se deixara levar ao escutar os riffs e solos de guitarra, os vocais de Halford e o poder alucinante da cozinha sempre marcando em cima com o peso caracteristico do grupo.

Enquanto ao restante do álbum que se resume a nove faixas as demais são baladas, porém no caso do Judas Priest trata-las com desprezo seria no minímo insensato, pois em Sad Wings Of Destiny nada fica devendo e muito menos serve apenas para completar o disco e a prova disso está na faixa Dreamer Deceiver que conta com belas melodias tocadas pelo instrumental do grupo e mostra também a versatilidade de Halford (arrebentando nos coros), a tranqüilidade em cantar desde a faixa mais pesada até uma balada tão bem elaborada marcada por belos solos de guitarra esbanjando emoção e passionalidade aliados as batidas marcantes da bateria e o baixo ali sempre ali fiel segurando as pontas com maestria. No caso da segunda balada Epitaph os destaques ficam para o piano tocado por Glenn Tipton, enquanto a melodia embalada pela voz de Halford que desta vez atacava cantado de maneira melancólica e emocional e embora não seja uma grande faixa se encaixa muito bem na proposta do álbum e mantém o seu alto nível. 


Tudo em Sad Wings Of Destiny era de extremo bom gosto desde as composições até a capa  com o anjo conhecida como Fallen Angel desenhada pelo artista Patrick Woodroffe, e as letras abordando o cotidiano de forma sombria e violenta através de temas que passam desapercebidos, mostrando que a banda estava longe, mas muito longe mesmo dos ideais das bandas "geração paz & amor", desfilando toda a sua agressividade que também partia das letras falando aberta e cruamente sobre o dia a dia nas cidades e dessa maneira o bolo estava completo e sabor metal esta ali prontinho para ser saboreado pelos fãs que não se fizeram de rogados e foram atrás do álbum que pela primeira vez ganhou o disco de ouro e isso comprovava que a banda começava a entrar para a elite do heavy metal e cada álbum era um passo dado, era um capítulo emocionante dessa história brilhante que estava sendo construída com muito suor e dedicação. 

Mesmo com a falta de apoio financeiro da gravadora Sad Wings Of Destiny, mostrou o seu valor e revelou músicos talentosos cujo valor artistico e intelectual somente cresceriam durante os anos de carreira promissora, que iria alçar vôos maiores, pois este foi o último álbum pela gravadora Gull Records, pois pouco tempo após o lançamento deste segundo trabalho a banda despertou o interesse da Columbia Records e resolveu investir na banda e afim de tê-la no seu cast assinou contrato com a banda que logo aceitou visando obter maiores recursos para seus trabalhos e isso fez com que o Judas Priest após romper seus laços com a primeira gravadora, também perdesse os seus direitos (royalties) sobre seus dois primeiros álbuns.

A importância de Sad Wings Of Destiny para compreender o heavy metal é que este álbum marca justamente um período de transição, pois aqui as influências diretas do blues e do jazz começaram a desaparecer para dar lugar a uma sonoridade mais encorpada calcada em guitarras mais rápidas e melódicas, acompanhadas por uma bateria mais agressiva rápida também contando com uma série de técnicas inovadoras além disso esses são os parâmetros seguidos pelos músicos na década de 1980 para criação de outros sub-estilos como: Power Metal, Speed Metal entre outros e também forneceu as bases para a criação do Thrash Metal, por isso a importância deste disco, pois ele se constitui uma fonte fundamental para os rumos que o estilo tomaria na próxima década e os discos que viriam depois confirmariam e definiriam a estética do estilo e é ai que reside a sua obrigatoriedade entre os fãs/colecionadores que se prezam, pois é de suma importância ouvir este material que nos possibilitar ter uma aula de heavy metal verdadeira e honesta.     

Track List

A1 Sad Wings Of Destiny
A2 The Reaper
A3 Dream Deceiver
A4 Deceiver

B1 Tyrant
B2 Genocide
B3 Epitaph
B4 Island Of Domination



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