18 de dezembro de 2012

Classic Rock: The Doors - The Doors (1967)


Na década de 1960, bandas como os Beatles e os Rolling Stones surgiram como uma espécie de revolução juvenil e logo conquistaram os corações dos jovens e das jovens ao redor do planeta e o efeito dessa avalanche culminou numa série de mudanças culturais e a partir daí os jovens viram a possibilidade de mudanças e os questionamentos contra a ordem repressora começariam e ganhariam mais força com o surgimento de uma seleta gama de boas bandas que espelhariam, refletiriam e ampliariam essas mudanças que estavam em curso e o melhor é que não havia mais volta agora era a vez dos jovens mostrar ok seus anseios e de dizerem o que de fato queriam para as suas vidas. 



Uma dessas bandas é o The Doors, cuja formação aconteceu em 1965, em Venice Beach, na Califórnia, nos EUA e tudo começou com Jim Morrison e Ray Mazarek ambos estudantes universitários matriculados no curso de cinema da UCLA, que numa bela tarde ensolarada encontraram-se e durante o bom papo entre os amigos, Morrison disse que estava escrevendo letras, canções e Ray ficou interessado e pediu para ouvir e Jim disparou Moolinght Drive e ao fim ficou tão impressionado que sugeriu formar uma banda porque o material era digno de ser levado a sério. Ray estava na banda Rick and Ravens, que chamava-se Rick, e a dupla Robby Krieger e John Densmore estavam em outra banda chamada The Psychedelic Rangers e ambos eram conhecidos do tecladistas, pois faziam aulas de yoga juntos e pouco tempo depois o primeiro dois a se juntar ao embrião dos The Doors foi o baterista e acompanhados do baixista Patty Sulivam não perderam tempo e já soltaram uma demo com seis faixas.  

E o The Doors completou-se com a entrada de Robbie Krieger pouco tempo depois de Densmore, e depois de formar a banda o passo seguinte foi escolher o nome, mas que nome seria dado ao conjunto que estava nascendo naquele momento histórico?  Pelo que diz a história do grupo registrada em dezenas de biografias é que Jim Morrison ávido leitor de poesias e mergulhado no mundo dos beats, que inclusive era apreciador da obra de Aldous Huxley e do poeta visionário William Blake, e da junção do nome do livro do primeiro somada a frase "Quando as portas da percepção se abrirem, tudo apareceça como realmente é: infinito" sugeriu o nome "The Doors". A formação era atípica para uma banda de rock comum, pois os caras não tinham baixista e quem fazia essa parte era justamente Ray Manzarek, mas os caras utilizariam baixistas apenas nas suas gravações de estúdio. 

A banda já se apresentava no circuíto de bares locais fazendo shows incendiários e pularam rapidamente do "The London Fog" para o "Whiskey a Go Go" onde permaneceram pouco tempo, pois numa das apresentações do grupo no palco daquela casa noturna, a banda resolveu executar "The End" e na hora do climax Morrison não aliviou e mandou ver numa parte bem conhecida da faixa e por sinal bem polêmica cuja origem é do drama grego "Oedipus Rex" a famosa história de Édipo que desposa a própria mãe (Jocasta) sem saber e a versão de Morrison é a seguinte: Pai? Sim filho? Eu quero te matar. Mãe? Eu quero te foder!, o dono do local não gostou nenhum pouco e nem pensou duas vezes e demitiu os caras imediatamente sem constrangimento nenhum (típico de uma sociedade conservadora), mas o incidente não afetou em nada o grupo (que naquele momento já mostra bem como seria a sua breve carreira), pois três dias antes do fatídico show os caras assinaram com Electra Records e a indicação partiu de Arthur Lee, do Love e o dono da gravadora Jac Holzman e o produtor tinham ido assistir duas apresentações do grupo e também não exitaram e já assinaram com os caras na mesma hora. 


O grupo já desfrutava de certo status no cenário local, mas ainda não tinha um álbum lançado e como já estavam sob contrato com a Electra Records o passo seguinte seria internar-se num estúdio para trabalhar no primeiro álbum, ou seja, a estréia e assim o grupo embarca de cabeça nessa aventura que se chama gravar um álbum de "inéditas" e se esconde no Sunset Boulevard Studios, sob o comando do produtor Paul Rothchild que contou com os préstimos de Bruce Botnick que assumiu a engenharia do áudio e depois de seis dias de gravação lá estava o primeiro álbum do The Doors que inclusive levou como título apenas o nome do grupo e a capa é uma fotografia com os quatro membros do grupo. As composições foram assinadas pelos quatro músicos, mas a principal dupla de compositores e escritores eram Morrison e o guitarrista Krieger. Musicalmente falando o álbum é uma excelente e explosiva mistura de jazz, blues e um pouco de música latina (bossa nova), cuja fusão deu origem a uma massa sonora bem pesada e penetrante devido aos nuances psicodélicos presentes nas faixas. 

Do ponto de vista das letras apocalípticas de Morrison elas tem origem nas diversas leituras que o vocalista realizava e além de ler caras como: William Blake, Jack Kerouac, Antonin Artuad, Charles Baudelair ele também lia uma grande quantidade filósofos entre os quais estão Nietzsche, Sartre e Husserl (cujo estudos de fenomenologia estão presentes nas letras de Crystal Ship) e outros caras como Freud também entram na jogada (ouvir The End), e é  justamente daí ele retira os subsídios necessários para criar o "Rei Lagarto" aquele que tudo pode e que tudo vê e confronta o infinito buscando uma simples resposta dentro do seu âmago quem sou eu? qual é o meu papel, o meu destino?. As faixas do álbum abordam temas como: Amor, morte, dor e revolta e funcionam como um escape, uma pequena auto biografia de Morrison e o seu desespero, angústia buscando nesta trama do divino ao lado de Baco (Dioníso) indo as últimas conseqüências para encontrar as suas repostas tão sagradas. 

O álbum abre com a enigmática "Break on Through (to the otherside)", um rock bem legal inspirado numa levada bem speed de bossa nova somado com umas partes de jazz e de blues também, e é um dos hits do álbum e além de virar vídeo clipe promocional também foi retirada do álbum para ser um dos singles para promover as vendas do álbum. Na segunda posição vem "Soul Kitchen" que além de ser uma homenagem à comida do restaurante de Olívia, em Venice Beach, Califórnia onde Morrison passou um longo tempo e isso o fazia lembrar de sua casa, e a parte instrumental também manda o seu recado com as boas e inteligente linhas do orgão de Manzarek e a interpretação soberba de Morrison. Já "Crystal Ship" é mais do que uma simples balada, pois além de ser uma possível referência aos estudos de fenomenologia de Husser (feitos por Morrison), enquanto outras fontes dão como certo que a inspiração é oriunda em uma plataforma de petróleo na costa de Santa Bárbara, Califórnia que brilha como um navio de cristal quando é iluminada a noite, e segundo um outra versão dada por John Densmore é que a faixa é uma canção de amor dedicada a Mary Werbellow, que naquela altura era a ex-namorada de Morrison cuja interpretação é o grande destaque. 


A quarta faixa d o lado A, "Tweenth Century Fox" mais um grande faixa desta obra prima. A letra é sobre moda e uma mulher insensível e funciona como uma metáfora para as companhias de televisão e cinema. John Densmore em sua biografia diz que a faixa é sobre Dorothy a esposa de Ray Manzerek. A faixa "Alabama Song (Whiskey Bar)" é uma canção popular e o teve o segundo verso mudado (pois foi originalmente composta por Bertold Bretch) conduzida por um instrumental um tanto cômico. Toda a banda que se preza tem um hit e no caso do The Doors, a música que impulsionou o álbum foi "Light my Fire" as letras foram escritas por Robby Krieger e a interpretação de Morrison no minímo foi magnífica e somado ao instrumental que usou e abusou de ritmos latinos que se entrelaçaram muito bem com o jazz e o blues e criaram uma das maiores viagens musicais de todos os tempos e por isso tornou-se um dos hinos do rock e assim encerra-se a primeira parte deste álbum. 

Abrindo o lado B, os caras apresentam uma versão orgástica e lisérgia de "Back Door Man" (que foi originalmente composta por Willie Dixon, mas foi gravada por Howlin´ Wolf), pois o que não faltou naquela cadencia viajante de poucos minutos foi peso e melodias, os versos da letra não foram modificados e discorrem sobre sobre um homem que possui um caso com uma mulher casada e que usa a porta dos fundos da casa antes do "corno" chegar. Ops! o MARIDO. Depois vem uma trinca interessante como: "I Looked at You", "End of the Night" e "Take it as it Comes". Fechando o álbum vem a apocalíptica "The End" que é um convite do autor feito ao ouvinte para juntos abordarem a morte, o fim que significa deixar de existir e nisso está incluso o fim de todas e quaisquer regras, planos e através da transgressão renascer no ônibus azul e nessa estrada psicodélica e "colorida" matar o pai e transar com a mãe significa encontrar o auge do hedonismo e no fundo a paisagem lisérgica, psicológica e desafiadora criada pelos seus companheiros ajudam desconstruir o mundo como o conhecemos, então temos ai o fim dessa estrutura perversa e dolorosa que nos consome sem dó nem piedade. 

A resposta da crítica e dos fãs foi lá nas alturas, pois o álbum abriu literalmente as portas do sucesso para o grupo e o mesmo pode-se dizer quando o assunto são as polêmicas, pois as primeiras começaram com a censura que obrigou a gravadora a reeditar a faixa "Break on Though" e a parte "She Get High" foi retirada, pois havia sido dito que ela fazia alusão ao uso de drogas, e por isso as rádios não aceitavam toca-la, e a segunda faixa que sofreu censura foi "The End", pois os vocais finais foram reeditados porque Morrison devido a seguida repetição da palavra fuck, mas os originais foram recuperados e relançados nas edições de 1999. A censura também perdoou "Light My Fire" e embora ela não tenha sofrido nenhuma reedição, o grupo foi pressionado pelo produção do programa Ed. Sulivam Show para mudar o verso "Girl, we coulden´t get much higher" para "Girl, we coulden´t get much better", pois a primeira que é a versão original segundo o pessoal do programa era uma clara alusão ao uso de drogas e o resultado final foi que Morrison nem quis saber e cantou em uníssono a versão original fato que deixou o Ed. Sullivam furioso e por isso recusou-se a cumprimenta-los nos bastidores e também recebeu o seguinte comunicado: que havia sido a primeira e última vez que o grupo se apresentaria no programa, fato que nem chateou Morrison que simplesmente deu de ombros. 



Esse episódio foi só uma amostra grátis do que aconteceria ao longo da breve e meteórica carreira do grupo, que acumulava polêmicas e mais polêmicas e até posterior e rápida decadência de Jim Morrison que além de cantar e escrever letras inteligentes e um tanto auto biográficas também não escapou do furacão e em determinado momento viu-se no olho do furacão devido aos excessos que consumiram a sua carreira e posterior ao fim consumiram a sua vida. Voltando ao álbum, este alcançou as melhores posições e já nasceu um clássico a marca de uma lenda que surgia naquele momento com uma série de questionamentos por vezes ácidos, por vezes mórbidos e que de um jeito singular entrou para a história do rock e até hoje ainda desperta o interesse de milhares de pessoas ano após ano e geração após geração ainda se emocionam e adquirem os álbuns do grupo. 

The Doors alcançou a segunda posição nos charts da Billboard e devido ao alto grau de popularidade não tardou receber vários discos de platina, na sua terra natal e na Europa a coisa foi mais devagar e para receber o mesmo status pelas terras do velho continente a banda teve de suar a camisa, pois o single "Light my Fire" só atingiu a 49ª posição nos charts do reino unido enquanto o álbum caminhava a passos leves também, mas conquistava os jovens e as jovens da Europa. 

A partir daí o The Doors começou a escrever a sua trajetória dentro do rock e entrando para a história do rock como uma das maiores bandas, com um dos maiores vocalista que era ao mesmo tempo um poeta atemporal, um xamã e tornou-se um mito que não teve pudores e escancarou as portas da percepção e vislumbrou a escuridão e o início de novos tempos fora das regras, dos planos e dos valores estabelecidos e embarcou na sua fantasia psicodélica, lisérgica através dos insólitos caminhos em busca do infinito e viveu a maior de todas as tragédias que talvez os gregos com os seus mitos jamais tenham chegado tão perto.


Faixas:

A1. Break On Through (To The Other Side)
A2. Soul Kitchen 
A3. The Crystal Ship 
A4. Twentieth Century Fox
A5. Alabama Song (Whiskey Bar) 
A6. Light My Fire 

B1. Back Door Man 
B2. I Looked At You 
B3. End Of The Night
B4. Take It As It Comes 
B5. The End 
    







    






     
    



   

       











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