O
Blind Faith é uma banda que despensa apresentações, pois todos sabem que o Eric
Clapton após o fim precoce do Cream juntou-se com Steve Winwood, Ginger Baker (ex-baterista
do Cream) e Rich Grech (com quem juntaria-se no Derek and Dominos, em 1970). O
som praticado pelos caras era o rock, blues e jazz e este era objetivo visando
ampliar as potencialidades do grupo nesses gêneros populares.
O
objetivo aqui não é falar do disco, mas sim da capa e que bela capa não é
verdade? Uma jovem nua segurando um “avião”, que mais parece um pênis e a
conotação sexual é clara e parece até um aviso: “Cuidado com as filhas viemos
comê-las”. O mundo no final da década de 1960 não era mais o mesmo
principalmente em 1969 quando falamos de rock, pois neste ano temos registros
de grupos seminais como Led Zeppelin, Free, Grand Funk Railroad que apontavam
mudanças radicais.
Essas
mudanças eram de reflexo do espaço social, das interações culturais produzidas
por estes atores sociais e a música foi uma terapia, uma válvula de escape por
onde saiu toda mágoa contra o sistema velho e arcaico que ao invés de dialogar
com a juventude tratou de marginaliza-los de cara. Enfim, o rock é forma de
expressão, de diálogo e claro de contravenção, rebeldia de uma luta
ininterrupta.
Assim
sendo temos em Blind Faith uma obra atemporal que faz questão de sobreviver e
dar o seu testemunho para as novas gerações encantando-as como um faz um
encantador com a sua serpente, mas no caso as picadas da “naja” salvam as “vítimas”
de uma realidade cruel. Vivia-se no final da década de 1960, os últimos
suspiros dos frágeis ideias de paz e amor, os hippies ainda sobreviveriam, mas
capengando porque o mundo era mais cruel do que se imaginava e do que se via na
televisão, pois o drama do Vietnã era apenas o reflexo da tragédia de guerras e
mais guerras que assolaram o mundo no processo de descolonização da África e da
Ásia e muitos jovens de todos os lados dos conflitos foram e nunca mais
voltaram para as suas famílias.
Antes e depois (atualmente) |
O
álbum do britânicos foi muito bem recepcionado pela crítica e pelos fãs, que
apesar de sentiram saudades do Cream viam no Blind Faith uma nova esperança.
Enfim, o sucesso comercial foi imediato e atingiu as melhores posições nas
paradas no país de origem e nos EUA (ganhando platina), porém teve algo de
muito desconfortável e que deu muitas dores de cabeça para a rapaziada.
A
capa do álbum acabou se destacando mais do que o conteúdo devido à imagem trazer
uma adolescente com os seios amostra e ainda por cima segurando um avião de
prata (projetado por Mick Milligan, um joalheiro do Royal College Art). Quem
criou o cenário e tirou a fotografia foi Bob Seidmann, um amigo de quarto de
Eric Clapton e também famoso por fotografar artistas de peso como Grateful Dead
e Janis Joplin. A coisa ficou pior ainda quando a imprensa começou a espalhar
que a menina era filha de Ginger Baker, mas que seria fruto de um
relacionamento ilegítimo do baterista (devido às semelhanças físicas) e piorou
ainda mais quando disseram que ela era um groupie mantida como escrava pela
banda.
Mas
quem era de fato essa garota que consentiu posar para as lentes de Bob Seidmann?
O nome dela é Mariora Goschen (na época com 13 anos), mas o nome dele na época
foi mantido no maior e mais absoluto sigilo (para salvaguarda-la dos ataques da mídia)e ela até hoje não gosta de falar
sobre o corrido, porém a escolha dele aconteceu quando o fotógrafo disse a Eric
Clapton que queria, necessitaria de uma garota virgem para fazer a capa (e
manipular a aeronave criado pelo joalheiro), uma ideia ousada demais para
época. Entrando no contexto revolucionário da época deve-se lembrar de que além
da insatisfação os jovens com o sistema por outro lado havia em curso a
revolução sexual e assim as pessoas para passar a noite juntos não necessitavam
casar-se para isso, ou seja, fazer sexo e poder escolher o parceiro não eram mais
privilégios de gente casada.
Capa da versão americana (que prevalece até hoje) |
Durante
um dia comum da semana, Bob Seidmann estava no metrô na espera quando viu uma
garota linda vestida com uniforme colegial, e resolveu aproximar-se dela para
fazer o convite e conversou um pouco com ela dizendo que estava fazendo uma
sessão de fotos para um astro do rock e deixou-lhe um cartão, pedindo que
entrasse em contanto com ele para fazer o tal ensaio.
A
garota gostou da ideia e a abraçou e ligou para o fotografo convidando-lhe para
jantar com os seus pais (que eram amigos do poeta beat Allen Ginsberg) para
apresenta-los a ele para formalizar o convite, mas o fato dela ter treze anos
já era demasiado e ele pensou na irmã de 11 anos, mas o fato é que ficou com a
mais velha e a sessão foi marcada e pronto estava registrada a capa de Blind
Faith, que caiu no gosto de Clapton de imediato.
Só
que eles não contavam que a capa apresentada para Atlantic, a gravadora do
grupo, na época fosse torcer o nariz e tudo mais que desse para torcer para
mostrar a insatisfação, e tanto que acabaram vetando de cara a capa, mas
Clapton se irritou e bateu o pé e fez o chão tremer e disparou sem capa não tem
álbum e ponto final, foda-se. Como o selo estava apostando na banda como se
estes fossem uma nova versão do Cream ou melhor a nova sensação do momento
acabaram por aceitar e só na Inglaterra foram comercializados setecentos e
cinquenta mil cópias, mas na terra da “liberdade” mais careta, conservadora a
capa não passou e no lugar usaram o lado interno da capa que prevalece até hoje
na versão americana.
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