A Bay Area depois do estouro mundial do Metallica nunca mais foi a mesma e várias bandas começaram a chegar para tentar o conquistar o seu espaço nesse cenário que o Thrash Metal oferecia, pois o gênero era totalmente o oposto das regras, ou seja, nada de glamour, laquê, calças de oncinha sem fazer nenhuma concessão enfim era apenas pura nitroglicerina que já havia explodido e estava dominando aos poucos os espaços concedidos pela mídia especializada. Esta febre musical nada agradável para alguns, mas muito reveladora para outras e através dela souberam expressar todos os seus sentimentos e o que entendiam sobre o que é a vida no seu sentido mais íntimo e puro além de outros assuntos como a política, o meio ambiente e a corrupção entre outros variados temas.
O Testament é uma das bandas que surgiram nesta esteira. Primeiramente atendendo pelo nome de Legacy e após descobrirem que uma banda de Jazz já havia registrado o nome e para evitar maiores problemas a banda escolheu o nome mais compatível possível e depois de mais uma mudança para lá de acertada, pois na época o vocalista era Steve Souza que recebeu um convite do Exodus que na época já tinha lançado o clássico Bonded by Blood (1985) , para substituir o lendário Paul Baloff, e para o seu lugar Zetro (Steve Souza) indicou um amigo que não era ninguém mais nem menos do que Chuck Billy e ai a formação se estabilizou com ele como frontman (e com o tempo se mostraria um dos maiores do gênero), Eric Peterson na guitarra, Alex Skolnick também nas guitarras, no baixo Greg Christian e na bateria Louie Clemente.
A banda já era contratada da Megaforce Records, porém o contrato dizia que Steve Souza deveria estar na banda como vocalista e o material deveria ter a sua presença e como ele já havia zarpado, ou seja, estava do Exodus e ele próprio havia indicado o novo vocalista, o manager da gravadora exigiu uma nova demo com os vocais de Chuck Billy e ai vem a parte mais bizarra da história, pois a banda gravou e mandou a fita e pouco tempo depois quando o manager foi lhes procurar para lhes dar as boas novas, mas ao mesmo tempo tinha uma notícia triste embutida, pois na mesma hora que souberam sobre o êxito da contratação por tabela ficaram sabendo que Cliff Burton havia acabado de falecer, ou seja uma alegria com sabor de tristeza.
E o primeiro álbum The Legacy foi lançado em 1987, pela megaforce em conjunto com a Atlantic Records e funcionou como se fosse o batismo de fogo da banda que surpreendeu logo de cara mostrando que em breve seria uma das grandes potências do Thrash Metal, pois o poder de fogo dos caras era algo incomum, totalmente fora dos padrões e os diferenciais da banda residia na dupla Eric Peterson e Alex Skolnick cujas guitarras literalmente cuspiam fogo incendiando tudo ao seu redor, pois virtuose, peso e melodia neste caso são significados de sucesso que começara neste momento para estes ainda novatos que já começavam a acumular a experiência necessária para os demais capítulos que estavam por ser escritos por esta máquina de metal.
Depois de estrear com sucesso, o Testament visava gravar um novo disco e o material já estava parcialmente pronto, pois eles compuseram parte do novo álbum durante a turnê de promoção do primeiro álbum enquanto o resto foi feito no Pyramid Sound Studios, em Ithaca, Nova York durante parte do ano de 1987 e 1988, novamente sob a tutela do produtor Alex Perialas, pois o álbum só foi finalmente lançado em 10 de maio de 1988, ou seja um pouco mais de dez meses após lançar o primeiro os caras estavam colocando no mercado um segundo álbum de sua incipiente carreira.
O disco não tinha o mesmo peso como o primeiro, mas tinha a mesma atitude em faixas mais trabalhadas, ou seja, mais pensadas sem deixar-se levar por modismo ou qualquer outro tipo de exagero que pudesse colocar tudo a perder, pois algo que ficaria claro aqui e que perdura até os dias atuais é que a banda jamais fez ou fará concessões, o que a banda fez foi apenas utilizar melhor as suas habilidades, pois as composições ganharam mais consistência cujo o peso foi diretamente direcionado para os riffs detalhe que fazia-se sentir diretamente na solidez da composições e nos solos a mesma coisa porque Skolnick foi buscar no jazz os elementos necessários para fazer solos mais complexos que completassem os riffs de Peterson e o feeling aqui se sobrepôs a técnica.
A parte sonora mostrava uma transformação fundamental, pois a banda progredia a olhos nús e a parte lírica também foi um dos pontos altos, pois o tema foi retirado das leituras que Chuck Billy o vocalista, fez do livro 1984 de George Orwell e considerando a época nada mais que natural buscar um livro tão atual para aquela época, e não foi nenhuma surpresa ouvir letras que simplesmente atacam a política autoritária e hipócrita do EUA e fora os manifestos anti-guerra e os temas que atacam a corrupção, o meio ambiente entre outros estão presentes aqui e com estes diferenciais somado a produção que deixou o álbum ainda mais redondo e por isso subiu para outro nível, ainda mais alto e deixa bem claro que estavam fazendo o certo mesmo sem saber quais seriam os verdadeiros resultados desse trabalho.
E por falar em clássicos, as faixas no caso, as que se destacaram e tornam-se obrigatória tanto em shows como em compilações porque resumem perfeitamente o que era a banda naquele momento são fáceis de se pinçar e para começar vamos colocar na roda a faixa "Eerie Inhabitants" que abre o álbum com tudo depois de uma introdução com pequenos solos de guitarra e algumas linhas de baixo, entre em cena o thrash correria e a bateria de Louie Clemente não perdoa sai destruindo tudo e Skolnick voa com os seus solos. "The New Order" é outra faixa daquelas thrash grudentas que te faz banguear até não querer mais conduzida pelos vocais insanos de Chuck Billy que simplesmente detonam tudo é pura nitroglicerina é só acender que explode e "Trial By Fire" é outra porrada que entra direto no queixo para nocautear uma das mais diretas do álbum pela pegada forte que possui de guitarras, baixo e bateria que não brincam em serviço. Em "Into the Pit" é outra porrada totalmente demolidora, pois exprime o que é o gênero em todos os seus sentidos.
Na parte mais climática temos as instrumentais "Hypnosis" e "Musical Death (A Dirge)", cujas melodias levam o ouvinte a crer que o apocalipse está dois passos de chegar para nos levar para o juízo final. A faixa "Disciple of the Watch" é outra de arrepiar os cabelos e as linha de bateria, os riffs de guitarra fazem toda a diferença, enfim é uma lição de uma thrash metal que temos aqui e de alto nível senhores leitores e não dá para ficar indiferente e muito menos ignora-la, pois o álbum The New Order é um dos pilares do gênero e a faixa "The Preacher" é outra que se destaca e com louvores é pura violência e correria, peso e mais peso é metal com metal e tem que ser escutada cada vez mais alta até os tímpanos estourarem. Day of a Reckoning tem um ritmo mais cadenciado, mas não menos pesada, crua e bruta como as demais e ai está um diferencial da banda, pois devido a dupla de guitarristas podiam transitar com facilidade pelo lado mais correria ou cadenciado ou misturá-los como fizeram aqui ao contrário de outras banda que apenas faziam um ou outro tipo. Já a faixa Nobody's Fault cover do Aerosmith - ouvir no álbuns Rocks (1976) - não entrou no álbum (vinil), entrou apenas na fita K-7 e no cd só foi aparecer alguns anos depois.
Assim como o Metallica tem o álbum Master of Puppers (1986), como o grande álbum de sua carreira, o Slayer tem Reign in Blood (1986), o Megadeth tem o Rust in Peace (1990) e o Anthrax tenha Among the Living (1987), como álbuns fundamentais não apenas nas suas carreiras, mas também fundamentais e cruciais para o thrash metal o Testament com The New Order acabava de entrar para o hall da fama do do gênero com um álbum cujo material unia a técnica, o feeling, a versatilidade dos músicos num pacote único cheio de melodia e agressividade prontos para dialogar com o ouvinte e tanto foi bem sucedido que pela primeira vez a banda entrava nos charts da Billboard 200 e ficou na 136º posição e assim a banda finalmente cravou o seu nome na cena e se você quiser dialogar com a banda aqui o começo não perca essa oportunidade.
Faixas:
01. Eerie Inhabitants
02. The New Order
03. Trial by Fire
04. Into the Pit
05. Hypnosis
06. Disciple of the Watches
07. The Preacher
08. Nobody's Fault
09. A Day of Reckoning
10. Musical Death (A Dirge)
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