Quando acordei na sexta feira e fazia o básico para
ir trabalhar pensava no que iria escutar, mas nem fazia ideia, pois olhava,
olhava e olhava para a minha prateleira e nada agradava nem mesmo os sete
discos que adquiri recentemente alvos de outro texto que futuramente estará
rodando por esse blog e como o tempo é implacável quando trata-se de cumprir os
compromissos do dia a dia acabei deixando para lá e me despenquei o mais rápido
possível para mais um dia estafante de trabalho.
Durante a manhã, o pensamento sobre o que iria
escutar a noite voltou a me assombrar e então pensei que poderia comprar mais
um disco, mas que disco seria esse? Então pûs a minha cachola para funcionar e
depois de uns bons minutos pensei num álbum do Bob Dylan em outros dois do
Johnny Cash e outro de um cara que havia escutado outro dia e cuja audição foi
paixão a primeira audição e decidi ir para a FNAC no intervalo para o almoço.
Na tal hora desliguei o meu computador e pûs os meus livros e outros apetrechos
na pasta e me mandei o mais rápido possível para o shopping e depois de mais de
cinco minutos estava estacionando o carro e em mais três já estava dentro do
estabelcimento rumo a livraria.
Quando cheguei nem parei fui direto a seção dos
discos e já fui pegando o que interessava e mais alguma coisinha e fui olhando
os preços e passando no leitor dos fones para conferir, o do Bob Dylan
descartei de cara por se uma trilha sonora cuja música principal fez sucesso
com o Guns n Roses em 1992, porque não estava cadastrado e disco que não escuto
antes não compro. Passei para os do Johnny Cash e como gostei muito joguei na
sacola e depois passei para outro legal também, o Grace Under Pressure, do Rush
só que descartei também porque não estava a fim de ouvir new wave. Ai peguei o
tal disco anônimo que na verdade é o Grace, do Jeff Buckley e quando o coloquei
para escutar fui adbuzido imediatamente para atmosfera do disco e nem pensei
mais joguei-o para dentro da sacola e continiuei procurando mais alguns para
levar, mas como o tempo estava ficando escasso deixei de lado e nem passei nos
livros fui direto para o caixa e quando cheguei no caixa para pagar os discos
tive uma surpresa desagradável não dinheiro suficiente para pagar a compra sem
afetar o meu almoço e assim sendo não rolou e foi fácil escolher dessa vez, os
discos do Johnny Cash ficaram na saudade esperando por dias melhores nesse caso
até amanhã, sábado.
Depois de feito o pagamento, almocei em grande
estilo um baita de um prato de comida caseira e me retornei para o segundo
round do dia, mas dessa vez foi diferente dos demais dias porque pelo menos
tinha um sorriso no rosto não por ter que fazer dinheiro para outra, mas porque
teria algo único, exclusivo para fazer depois do expediente, que eu não via a
hora de encerrar-se e depois de contar minuto a minuto, segundo por segundo
pronto estava encerrado o pesado dia de sexta feira e depois de meia hora
finalmente em casa com fast food na mão e sacola na outra e depois devorar os
lanches me dirigi para o aparelho de som que liguei sem parcimônia nenhuma e
fiu logo abrindo o disco e colocando-o e posteriomente acionando o play e me
refastelei na poltrona com um gigante copo de coca cola cheio com limão e gelo.
Quando comecei a escutar o disco voltei lá na década
de 1990 para reviver durante pouco mais de cinquenta minutos a minha adolescência.
Naquela época, o Nirvana, o Pearl Jam e o Red Hot Chilli Peppers nadavam de
braçadas e ditavam a nova onda do rock no caso o grunge, eles lançaram ótimos
trabalhos é verdade só que havia mais coisas rolando concomitante e é exagero e
uma tremenda injustiça dizes, pensar que a década de 1990 teve o grunge e que o
rock estava morto, enfim coisas de gente que sabe-se lá o que andou fumando,
bebendo.
Grace, do Jeff Buckley é um reflexo do que a década
de 1990 ofereceu em termos de música, de possibilidades, de viagens ilimitadas
infelizmente mal compreendidas por um público saudosista, magoado e rancoroso
com a derrocada do metal. Em relação ao grunge, ao Nirvana e ao seu Nevermind
que nessa altura já havia entrado para história, o que se pode dizer que Grace é
aquele álbum que oferece a outra via para o rock cativante do início ao fim,
ele realmente te tira do ar e te faz passear infinitamente por ai na memória. Rock,
jazz, folk entrelaçados como verdadeiros amantes desesperados tocados por Jeff
Buckley e seus companheiros Mike Grodahl e Michael Tighe pariram uma obra
seminal que fez até astros cinquentões como Lou Reed, David Bowie entre outros
trocar os babadores várias e várias vezes. Os temas das canções não são nada
felizes e canta-se sobre estado de graça, de não temer a morte, sobre adeus num
clima sombrio, melancólico, dark para definir a atmosfera dessa obra de gênio.
O disco tem dez composições das quais três são
covers de Leonard Cohen, Nina Simone e mais uma peça religiosa. As composições
próprias do autor transcendem o gênero e levam o pop para um nível ainda mais
alto do que já conhecerá até ali, porém a imprensa não viu o disco com bons
olhos e tanto é fato que a Rolling Stones o classficou como um disco mediano
chamando o Jeff Buckley de imaturo, mas fazer o que quando a imprensa é tapada. Um disco
que reunia em si uma combinação incomum de estilos e ainda por cima
vociferando poesia de alto nível.
Esse foi o primeiro e último disco de Buckley que morreu tragicamente afogado enquanto nadava no rio Wolf e nesse 29 de maio de 1997 mais um capítulo encerrava-se na história do rock, mas que deixava o seu legado escrito para um homem que provavelmente hoje seria um astro, mas na época preferiu tocar em lugares menores. Essa breve carreira marcada por essa álbum espetacular, genial mostra que tanto faz estar nessa ou naquela posição nas paradas, pois o que de fato importa na música é paixão em fazer música e participar o público da sua interminável e louca paixão pela obra, arte infinita que atropela o mundo hipócrita é esse o diferencial gritante e obstinado de Grace, pois aqui o importante é estar sempre em estado de graça porque a vida é uma dádiva que deve ser aproveitada e cada momento deve ser único, insano nos seus altos e baixos.
Lista de músicas:
01 Mojo Pin
02 Grace
03 Last Goodbye
04 Lilac Wine
05 So Real
06 Hallelujah
07 Lover, You Should´ve Come Over
08 Corpus Christi Carol
09 Eternal Life
10 Dream Brother
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