Já estamos no inverno que eu particularmente adoro,
amo essa estação, é a melhor época do ano para dormir até é mais gostoso, mas
para acordar já é outra história, porém apesar dos pesares gosto de acordar
cedo isso quer dizer de madrugada antes do sol chegar e hoje foi um destes dias.
Quando me levantei já fui buscar algo para comer e para beber na geladeira, mas
fiquei só com a bebida, um baita copo de coca cola com gelo e limão.
Sentei no sofá, peguei o meu livro, o Almoço Nú, do
beat, William Burroughs e recomecei a leitura, mas não sem antes colocar um ótimo
disco de rock para ajudar a despertar e nesse caso nada melhor que o Led
Zeppelin IV, do Led Zeppelin, e com tudo pronto me deitei no sofá e me
entreguei aos devaneios de olhos e ouvidos abertos e totalmente compenetrados
na ficção, mas com a mente ligeiramente plugada na realidade.
Depois de quarenta e muitos minutos o disco acabou,
a leitura já estava bem adiantada e os labirintos opiacentos e sombrios de
Burroughs me fizeram voltar no tempo, relembrar as minhas escolhas e no caso
essas escolhas são o estilo de música, literatura, de vestir, de me comportar e
outros mais que compõe a minha personalidade.
Essa volta no tempo me arremessou lá em 1990, quando
já era adolescente e cursava o colegial e ainda nem imagina que o futuro me
reservava, mas sempre pensava nele só que de leve. Lembrei da primeira vez que
ascendi um cigarro de tabaco e outro de maconha e simultaneamente abri a
primeira de muitas latas de cerveja que tomei posteriormente, e percebi que
algo já havia mudado ali, pois o habito do cigarro e da maconha cultivo até
hoje e gosto de fuma-los principalmente a erva porque me deixa de bom humor e
reflexivo e não idiota, obsessivo e paranoico como dizem os especialistas fajutos.
O rock e a literatura beat foram uma consequência que
completaram esse meu caminho. Ambos influenciaram e ajudaram a definir o meu
caminho como ser humano, cidadão e pai. Sou formado e pós-graduado (especialista)
em História e fui professor da rede estadual, mas desisti porque o ensino é,
está sucateado e vai continuar sucateado se depender do sindicato, ou seja,
dos dirigentes que fazem política em benefício próprio e assim jamais algo de bom
acontecerá nesse campo tão importante e vital para a população que sonha ter uma vida, um futuro.
Me sinto chateado porque gastei um bom dinheiro
para me formar para depois enfrentar esse mercado de trabalho cruel dominado
por “empresários” que dizem ter “compromisso” com a educação, ou seja, é por
dinheiro, o novo Deus do mundo e depois as pessoas não sabem porque as coisas vão
mal. No meio dessa selvageria emburrecedora da qual as vítimas não questionam
ou se o fazem é porque está na moda protestar contra isso ou aquilo é que você
repensa o mundo a sua volta e decide que caminho seguir.
Eu encontrei no rock, na literatura beat, as
repostas para seguir paralelo a sociedade saca? Eu me considero outsider, eu
caminho por fora porque já estou de saco cheio dessa sociedade conservadoramente
arcaíca, rotuladora, preconceituosa, racista, infanticida, misógina. Os padrões
dessa sociedade não se coadunam com os meus valores, aliás eles são contrários porque
não sou hipócrita, farsante e não aparento o que não sou. No mundo
existe a diversidade e o Brasil está começando a descobrir agora e está
reivindicando-a porque esse modelo de mentalidade lá do século XVIII não
funciona mais no século XXI, e a crise que o Brasil vive hoje é justamente
sobre a queda, a ruína desses padrões imorais que promovem pessoas mal caráter,
corruptas ao status de bom cidadão, pessoa de bem (oportunistas).
Quem se sente bem numa sociedade assim? Uma
sociedade medíocre e que incentiva a mediocridade. Quem se sente bem numa
sociedade cujos membros ao invés de olharem para o próprio rabo ficam de olho
na conduta do outro e qualquer coisa, milimetro fora da faixa pronto: é
maconheiro, vagabundo, puta, ladrão. Quem se sente bem bem andar com esse tipo
de pessoa cujo q.i é baixíssimo? Eu não sinto bem assim e não gosto desse tipo
de sociedade e por isso mesmo caminho por fora dela e por isso relacionamentos
interpessoais se resumem a faculdade e ao trabalho e está bom demais.
O rock e a literatura lá atrás me ofereceram um
background para suportar esse maldito farto de conviver com essa sociedade
doente, recalcada. Nada dá mais prazer do que tirar da estante On the Road, do Jack Kerouac, para ler e vibrar, viajar página por página com Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Wishbone Ash, Uriah Heep, Rush, Rainbow, UFO entre muitos outros clássicos de trilha sonora. É como se eu estivesse dando meu tapa na cara da sociedade com toda a força e o mesmo pela opção política que fiz ao escolher o socialismo, mas não esse socialismo viciado e corrupto que sobrevive no Brasil de hoje.
O mesmo acontece quando ascendo meus cigarros e abro as minhas garrafas de cerveja as dúzias e fico esbanjando, esbanjando, altos papos com os meus colegas em casa sobre música, leitura e outras coisas mais que a sociedade provavelmente com o seu "bom senso" reprovaria imediatamente e os inquisidores automaticamente já nos encerrariam numa fogueira para nos purificar dos nossos pecados. A vida em sociedade hoje é morrer em vida, é decadência, é ser igual, é ser comum, é ser redondamente medíocre e assassino de si mesmo, ou seja, é ser suicida. Todos que pensam como eu pedem socorro escondidos nos becos aparentemente sem saída.
Eu quero rock, eu quero jazz, eu quero blues e soul e também quero ler, e também quero viajar, namorar, transar e pensar o futuro sem problemas, sem ficar desesperado ávido de subterfúgios, eu quero respirar ar puro e arejar o cérebro sempre para me livrar desse filme de terror de quinta categoria. Numa sociedade onde o mal caráter é a pessoa de bem e a pessoa de bem que gosta de rock, gosta de socialismo, é ou foi professor de história, sociologia, geografia, antropologia, e gosta também de literatura de contravenção é marginal, eu só posso dizer parabéns obrigado. É por isso que todos os dias quando me levanto e olho para as quatro paredes de meu apartamento jamais me arrependo da escolha que fiz, o preço foi e ainda é alto, mas não importo ainda pagarei com jubilo no coração as demais prestações porque nada paga a minha felicidade e a minha liberdade de ser quem sou, enquanto os demais que vivem, seguem as regras em detrimento de si próprios já não posso dizer do que eles se orgulham.
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