Em 1957,
a geração Beat chegava com tudo primeiramente com Jack
Kerouac e seu alucinante On The Road e na sequência Allen Ginsberg atacava com
O Uivo, porém ambos são um marco na literatura americana e mundial também
porque se tornaram referências para as futuras gerações e principalmente no seu
tempo influenciaram os jovens. Só que faltava ainda uma parte desse quebra
cabeças insano anti moralista que pregava um novo ethos e quem preencheria esse
vazio aberto por estas duas obras fenomenais seria William Burroughs com o seu
Almoço Nú, uma obra escandalosa, recheada de paisagens bizarras frutos de uma
mente entorpecida.
A obra a primeira vista choca pela falta de
conexão entre os capítulos, pois existe ali uma brusca mudança de cenário
cujas paisagens em nada se assemelham e de fato assombra obrigando o leitor a
construir em sua mente um fio condutor para entender a obra, porém é um esforço
inútil. Assim como os seus colegas Kerouac e Ginberg, William Burroughs tinha
uma visão plena sobre a sociedade de década de 1950 e do lado perverso do sonho
americano. Assim sendo pode-se ter uma ideia do que aguarda o leitor em Almoço Nú , ou seja,
relatos de alucinações, viagens promovidas por picos quentes de heroína na veia
seguida de outras altas doses de morfina, paregórico e mais outros opiáceos.
Para ler o livro é necessário deixar-se levar,
mergulhar no mundo caótico e sombrio descrito pelo autor cuja linguagem poética
e ao mesmo tempo agressiva, chula descreviam a violência, o caos e a desordem
desse submundo alucinado criado pela mente atormenta desse homem. A trama além
da descrição das drogas ainda escancara as portas do pudor e o faz desaparecer
quando o assunto é sexo, pois encontramos descrições bizarras de homosexualismo
até as relações heterosexuais de uma maneira que faria os puritanos se
trancaram por mês nos confessionários de suas igrejas.
Trata-se de um texto experimental, porém revelador
por jogar na cara o que o mundo tinha de mais secreto e que poucos tinham
coragem de por para fora. Enfim, eram novas experiências que estavam nas ruas
das cidades erigidas pela mente mais brilhante, atormentada por seus fantasmas
e quando você acorda desse pesadelo vulcanico passa a rejeitar a realidade e a
refutar os padrões hipocritas que nos amarram bem amarrados. Esse lado B, que
Burroughs descreve é autobiografico, pois ele foi viciado em heroína durante
quinze anos e só libertou-se do vício aos quarenta e cinco anos.
Depois do fim tem os depoimentos onde ele fala
sobre o vício e sobre as sequelas que o assombraram após essa jornada maldita
pelo submundo da heroína. As demais partes constam cartas onde ele fala sobre a
diferença de diversas drogas oriundas ou não do ópio e qual a sua importância
para ajuda-lo a superar o seu vício em definitivo cujos efeitos nefastos
deixados pelos anos de abuso foi além da flacidez sérios problemas de fígado e
envelhecimento precoce.
Críticas é o que não faltam em Almoço Nú começando pela
postura moralista, hipocrita e conservadora dos governos e da própria sociedade
que os apoia em suas cruzadas imorais. Para ele não o mais importante não é
atacar o traficante e sim recolher os viciados, pois eles é que deveriam ser o
alvo e dando-lhe drogas controladas o tráfico aos poucos seria desmantelado,
enfim é um adiantamento em mais de cinquenta anos sobre a atual discussão sobre
a discriminalização e liberação do consumo da maconha controlados pelo governo,
mas que são comercializados pela incipiente indústria privada.
Resumindo, a leitura foi extramente agradável, caótica
por ter que juntar todo o quebra quebeça com algumas dificuldades básicas,
aqueles inerentes aos marujos de primeira leitura. É altamente recomendável
para aqueles que se amarram na litaretura beat e vão ficar impressionados com a
destreza, a prosa e o encanto que o mundo preconizado por Almoço Nú apresenta e
as possibilidades de viagem ofertadas por ele cujo saldo é por sua conta risco.
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