23 de outubro de 2012

Rock Memories: Pink Floyd e Dark Side of the Moon, qual é o seu lado?


Na minha adolescência eu sempre procura discos que me trouxessem sensações que eu ainda não tinha experimento, ou sempre preencher algumas lacunas dos meus sentidos e por isso sempre entendi a música como uma ciência pelo seu poder de atração. Por esses detalhes a minha curiosidade estava sempre muito aguçada em busca do "novo" e cada álbum que eu comprava naqueles dias significa a descoberta de novas possibilidades que naquele momento me pareciam infinitas e realmente eram. Quando eu tive em minhas mãos o álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd  as coisas mudaram drasticamente para mim, pois naquele momento o que eu sabia é que se trava de um clássico, que eu estava descobrindo e até ali o máximo que eu conhecia era apenas o álbum posterior The Wall (1979), por causa da música "Another Brick in the Wall" que reinou na rádios de Ribeirão Preto, por um longo tempo.    



Na verdade não era só a música como um fim em si própria que me levava a consumir álbuns de rock e heavy metal compulsivamente. Estava embutido neste pacote outros aspectos que sempre considerei importante e que diz muito sobre quem está gravando, compondo e produzindo tal material, ou seja as letras parte importantíssima dos trabalhos pelo fato de conter pensamento, visão de mundo e a personalidade do próprio artista e na época eu estava estudando em história os movimentos operários, o surgimento do marxismo na Europa e as letras não tinham nada haver diretamente, mas me fascinavam porque falavam sobre a vida moderna de uma maneira critica e mais aprofundada. 

Além de tudo isso, o fato do disco ter sido concebido de uma maneira praticamente artesanal levando em consideração a tecnologia da época, pois os efeitos foram produzidos praticamente de maneira manual e os climas místicos, espaciais e espirituais se espalham por todo o disco levando por uma grande viagem sem rumo pelos confins do universo. O fato é que o álbum naquela época me levou a fazer grandes reflexões que eu ainda não compreendia muito bem e que só seriam esclarecidas poucos anos depois quando finalmente entrei na faculdade. Nessa época eu reativei o disco foi inesperado, pois eu estava estudando um assunto do qual eu não me lembro e peguei o disco coloquei no toca discos e lá fui embarcar naquele mundo de sonhos, onde comecei a redescobri-lo, mas só que agora era de uma maneira mais madura e portanto mais completa também. 

O Pink Floyd em Dark Side of the Moon atingiu um nível de excelência jamais visto no rock, pois além das letras falarem sobre a vida moderna buscando temas como: doenças mentais (inspirado na saída de Syd Barrett cuja sanidade mental havia ido para o espaço devido ao abuso de lsd), envelhecimento, cobiça e incluindo problemas pessoais puseram no disco a própria marca e o alcance das canções eram imediatos, pois era possível canta-las e o fato do instrumental ser totalmente complexo se encaixavam perfeitamente como cenário da década de 1970, pois a música era mais do que um simples divertimento era uma forma de expressão que extrapolava insatisfação com o sistema referente a repressão da velharia sobre a juventude e o seu cotidiano. 

Para mim era algo além do inimaginável penetrar aquelas todos aqueles climas, ia muito além disso eram novas portas como ir além do que os olhos podem ver e esse tipo de enredo seria utilizado pelos caras nos álbuns posteriores cujo o ápice dessa aventura bem sucedida resultaria no clássico, The Wall (1979), o Pink Floyd era uma referência para quem estivesse afim de ir além do convencional, pois tinham tudo o que uma banda de rock poderia oferecer e pelo fato das músicas serem facilmente assimiladas é que tornava o álbum mais próximo e o seu poder de sedução arrebatava logo de cara e isso explica porque ele é até hoje consumido como água e obteve o status de best seller. 


Como vocês já perceberam o objetivo deste texto não é penetrar nos pormenores deste álbum, pois a história dele pode ser encontrada em livro e dvd, ambos encontram-se disponíveis nas melhr]ores livrarias de suas cidades em todo o território brasileiro. Eu através deste pequeno texto quero mostrar a minha experiência com este ao longo de 20 anos e a sua importância durante este tempo e isso significa falar em sentimentos, emoções que foram afloradas nas dezenas, centenas e milhares de vezes que eu o ouvi.  

Ainda hoje é impossível não lembrar o ano de 1992, quando eu me deparei com esse disco na loja de usados Cantinho do Disco, capitaneada pelo Osvaldinho que para mim era um santuário, pois lá você conseguia encontrar verdadeiras raridades do rock, exceto Black Sabbath que naquela época além de ser raro o preço ia lá na estratosfera. Um dos meus passa tempo preferidos era as vezes entrar nas lojas e ficar admirando as capas dos álbuns mesmo que as vezes eu não comprasse nada, e como eu estava acostumado ver desenhos caprichadíssimos eu assustei quando quando vi aquele prima com aqueles raios que se tratava de algo, filosófico enfim para fazer algum tipo de reflexão que até aquele primeiro momento ainda me era desconhecido. 

Então optei por compra-lo e quando cheguei em casa no final do dia fui ouvir o disco e fiquei com a capa na mão lendo as letras e tentando traduzi-las e no dia seguinte fui para a minha aulinha de inglês e levei as letras todos escritas num pequeno caderno e pedi para a professora me ajudar a traduzi-las e fui prontamente atendido, mas naquele momento nem dei muita bola porque as letras me pareciam meio desconexas e por isso eu só conseguia entender a sonoridade do álbum que na verdade era o que mais me atraia e o tempo foi passando fui conhecendo outros álbuns e aos poucos fui deixando-o de lado para viver outras experiências sonoras e quando entrei na faculdade resolvi ativa-lo, pois inconscientemente as aulas de filosofia, antropologia e sociologia haviam me despertado um interesse, um apetite feroz e não teve jeito quando cheguei da faculdade lá fui eu ouvi-lo e mal sabia que na verdade estava redescobrindo-o. 

A primeira coisa que eu saquei é a ideologia marxista impregnada e isso pode ser entendido como um herança que Waters herdou de seus pais e o próprio tema do álbum no modo geral e mais aprofundado ele vai além do que já foi dito como tema, pois criticar a vida moderna era criticar o estilo de vida das pessoas no sistema capitalista e nisso estava incluso o racismo, o preconceito e a exclusão dos que estão nas fronteiras e por várias questões não podem participar do estilo de vida promovido pelos países desenvolvidos do eixo América do Norte e Europa e o conceito de alienação é negação, a contraposição mesmo que de uma maneira reducionista e esse estilo de vida é fruta, deriva da relações de trabalho e não separado como preconiza Waters e sua turma e cabe um lembrete o álbum Wish You Were Here (1975), segue a mesma linha de pensamento, mas desta vez é contra a indústria da música.


E ouvir faixas como "Breathe" e aqueles climas viajantes nada alegres - e devido ao tema abordado não era para ser alegre mesmo - era um requiem, pois me levava a buscar um entendimento sobre a vida e os seus dilemas cujos desfechos nem sempre foram agradáveis e sempre ficavam algumas interrogações se o presente é assim tão aterrador e futuro como será? e daí eram os temores saltando para fora do coração. Em "Time" os sentimentos eram similares aos da faixa anterior, pois sempre quando a terminava de ouvir eu tinha a sensação de ter envelhecido uma década inteira sempre procurando uma resposta cuja resposta não vem tão cedo porque é necessário viver nos limites para descobrir as dúvidas que ficam ocultas no meu pensamento que ao contrário do modo inglês eu iria descobrir do modo brasileiro de ser, pensar e agir no meu cotidiano muitas vezes selvagem. 

Ouvir "Money" era pensar no sistema capitalista e seu modo de vida decadente e hostil e me ver encostado na parede vivendo dias sombrios, como se fosse um pesadelo sem fim almejando o que todos pensam ser o caminho correto para a liberdade e quando me via no vazio e escuro de meu quarto eu me via um escravo potencial e para me ver livre desta encruzilhada a solução parecia ser a minha retirada completa, a negação do sistema e dos seus valores inescrupulosos. Na faixa "Us & Them" esse sentimento de sucumbir ficava mais latente e embora sejamos pessoas comuns todos desejos diferentes e que tudo é apenas uma questão de escolha e possível sofrimento e angústia a que somos submetidos e por isso acabamos morrendo lentamente. 

Em "Brain Damage" dá aquela sensação de que existe algo em curso, alguma mudança como se tudo estivesse se transformando e os loucos, os demônios que eu criava estivessem me abandonando aos poucos e tudo me parecia claro, mas não infinito porque era necessário avançar mais sobre esse mundo insano e cruel que vivemos e as minhas angústias ficavam cada vez menos amargas, pois um caminho estava traçado para andar para frente como eu almejava, e eu me erguia e enfrentava a loucura da vida totalmente desinibido sem medo de perder. A faixa "Eclipse" apontava refletia todas as minhas aspirações perante o mundo, pois "Não há um lado escuro na lua, na realidade. Na verdade ela é toda negra". Isso deixava claro as minhas limitações e as fontes da minha angústia revelavam a minha impotência por não poder ver o mundo todo e isso me libertou dos medos e mostrou que existem partes que podem ser compreendidas e outras não porque a verdade não existe absoluta e eu finalmente reconhecia Aristóteles. 

Era impossível para mim ouvir, experimentar e não ter uma reflexão própria sobre a minha visão de mundo e os meus dilemas e vivencias sociais quando ouvi depois de um pequeno intervalo e pude entender coisas que os livos não me falavam tão abertamente, pois expunha todos os problemas da vida moderna e abria ao mesmo tempo um espaço para o ouvinte expôr a sua intimidade sem constrangimentos e por isso ficava fácil de se reconhecer e se questionar, pois somos todos comuns dentro nossos devaneios, loucuras e nosso eu reflete perfeitamente o mundo moderno e Darl Side of the Moon era apenas um instrumento para alcançar este estado de pura consciência e nos chama a rever as nossas relações para com o mundo e as pessoas ao nosso redor, pois nos somos mais do que apenas cifras e desejo de ter para ser ou vice e versa e existe uma verdade sobre nós que ainda não está clara, mas permite ser pensada e talvez uma resposta é que embora a lua seja negra em seus dois lados , nós somos inacabados e por isso o mundo oferece novas possibilidades o tempo todo e por isso fica a mesma pergunta "Qual é o seu lado?".     






  


        

   



  






















  

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