Em meados da década de 1980 algumas bandas resolveram mudar o direcionamento musical visando alcançar maiores públicos, maiores receitas e maiores vendas também em alguns casos o resultado foi bem sucedido, mas em outros casos o resultado foi o pior possível e acabaram execradas pelos fãs e nos caos mais brandos apenas perderam os créditos perante seu público. É óbvio que eu estou falando do Judas Priest, pois a banda sofreu uma baixa violenta na sua popularidade com o lançamento do álbum Turbo (1986), onde o grupo além de amançar o som o recheou de sintetizadores o que explica a ira dos fãs mais antigos e o pior é que o tiro saiu quando nos lembramos das pretensões de atingir outras praias, pois o tal público alvo também rejeitou porque considerou o álbum muito heavy e os primeiros a reprovar a iniciativa o acharam hard demais.
A duras penas o quinteto fez o mea culpa e começou o processo de volta depois do fracasso retumbante obtido perante o seu público e para tentar mudar a situação e voltar as boas o grupo retornou com o álbum Ram it Down (1988) e que justiça seja feita recaptura o espírito dos álbuns de grande sucesso, mas mesmo assim não foi o bastante para os fãs que ainda estavam desconfiados e relutaram em aceita-lo como um pedido de desculpas pelo "erro" cometido ao ousar sair dos padrões estéticos tão fundamentais para a criação de vários subgêneros que estavam em voga naquele momento e ficar para trás nem pensar, pois esse engessamento poderia significar a chegada do fantasma do encerramento de atividades. O Judas Priest não desistiu e começou o processo para dar a virada na mesa e calar a boca dos fãs e dos críticos e também trazia mudanças no line-up com a saída do baterista David Holland que esteve a frente das baquetas por longos anos assinando os vários clássicos lançados pelos britânicos na década de 1980.
Para reconquistar o prestígio perdido o novo álbum teria que ser arrasador, demolidor e matador, ou seja, um álbum arrasa quarteirão para ninguém botar defeitos. As gravações do álbum tiveram início em janeiro de 1990 e terminaram em março do mesmo ano e a banda também uma fez peregrinação no eixo França e Holanda, pois no primeiro país algumas partes foram gravadas no Miraval Studios e no segundo utilizaram o Wisseloord Studios e com um detalhe importante que fez a diferença toda: o produtor Chris Tsangarides cujo currículo tem trabalhos ao lado de bandas como Anvil, Thin Lizzy, Angra e vários outros que assinou em conjunto a produção do álbum. A apreensão dos fãs em relação ao novo material foi desfeita quando ouviram-no pela primeira vez, pois a banda entrava com os dois pés no peito de quem estivesse pela frente, enfim a banda estava de volta com força total e não precisa mais provar nada para ninguém, pois agora a banda tinha o reconhecimento dos fãs e a rasgação de seda imprensa especializada que não economizou elogios ao novo clássico que ditaria novos rumos para o heavy metal na nascente década de 1990.
Embora álbuns como Painkiller fossem os últimos suspiros de uma época brilhante ele serviu para cristalizar a imagem do Judas Priest como um dos grandes ícones que conseguiu se recuperar depois dos tropeços dados pela longa estrada do heavy metal com os seus obstáculos transponíveis e intransponíveis. O tema, o título foi desenvolvido como um série de ficção, onde o herói, o Painkiller neste caso é um messias enviado ao mundo para destruir o mal e salvar a humanidade da destruição e na capa ele aparece montado em uma motocicleta (um monstro de metal) cujas rodas são duas serras que assim como ele são de metal, de aço.
Agora é hora de adentrar a parte mais importante do álbum e que lhe dá o status de clássico e assegura a sua credibilidade, as faixas sim elas mesmo e comecemos logo pela primeira, a faixa título cuja introdução começa por uma excelente seção ritmica de bateria e após um riff cortante a locomotiva aliada aos vocais alucinados de Halford conduzem o caos e a desordem abrindo a passagem, a fenda no tempo e no espaço para que o herói Painkiller rasgue os céus motocicleta restaurando a harmonia do universo, aniquilando o mal, garantindo a sobrevivência da raça humana ao som das potentes guitarras gêmeas de Tipton e Downing que despejam solos e mais solos como uma artilharia dispara suas baterias de bombas e nada fica no lugar. Na seqüência temos "Hell Patrol" com um andamento cadenciado e pesado e mantém o fundamental funcionando a pleno vapor sem o menor remorso pelos efeitos perturbadores que causa nos ouvintes.
A terceira faixa da primeira parte da bolacha "All Guns Blazing" é um dos destaques do álbum, pois a dupla de guitarras se sobre saem com riffs pesados e solos desvirtuam somada ao andamento cadenciado e rápido e pesado é um ataque direto e reto cuja missão é derrubar. A quarta faixa "Leather Rebel" é a luz na escuridão e reforça a o status devido a sua "simplicidade" por super direto um gancho demolidor cujo destaque fica com a bateria de Scott Travis (ex-RacerX) que é a grande novidade do grupo neste álbum e as guitarras e o vocalista não é preciso mais adjetivos para afirmar a sua importância para o êxito desta empreitada. A quinta e última faixa do lado A, "Metal Meltdown" é outro grande hit rápida, pesada e letal pela agressividade despejada pelo quinteto que funciona de forma equilibrada e homogênea por todo álbum, pois tudo aqui entra em perfeita sintonia com o conceito do álbum e por isso o título caso perfeitamente com o som praticado aqui.
Abrindo o lado B vem a sombria "Night Crawler" e seu ritmo alucinante com as guitarras flamejantes despejando riffs e solos magníficos exprimindo o verdadeiro sentido do heavy metal, afinal de contas uma grande verdade é que estes caras independente dos tropeços sempre representaram o que o heavy metal tem de melhor quando assunto é peso, velocidade, visual e atitude e esta faixa é um exemplo perfeito desse significado desde a parte mais rápida até o momento mais cadenciado e todas as partes mostram a unidade perfeita e complexa envolta num clima de mistério e sedução espraiadas através deste som insano e arrebatador. Com "Between the Hammer & the Anvil" a banda parece mostra um lado mais "tranqüilo" com o mesma pegada das anteriores mantendo o peso e abusando do lado melódico com belos solos das guitarras gêmeas e os vocais de Halford também se sobre saem ao mostrar a sua versatilidade.
Praticamente todos os álbuns de heavy metal tem uma balada e Painkiller não é diferente, mas o diferencial é que ao contrário das demais bandas que fazem aquelas mais românticas e melosas, o Judas Priest vai na contra mão e contra ataca com "Touch Evil" que chega até a confundir em relação a sua natureza pelo peso e pelo clima produzido na explosão dos refrões eis ai um marco na carreira da banda e para o estilo também e arremete a faixa "Blood Red Skies" do álbum anterior, mas só que tem mais peso e o diferencial é que os teclados foram gravados por Don Airey (ex-Ozzy Osbourne e atual Deep Purple). A faixa seguinte "Batlle Hymn" na verdade é um preludio que anuncia a faixa "One Shoot at Glory" que põe termo ao álbum no melhor estilo Judas Priest cujo início vem com belos riffs e curtos solos de guitarra e pelo conjunto da melodia é um encerramento perfeito para esta obra prima do heavy metal.
Os grandes diferenciais do Judas Priest estão além do som que por natureza é extremamente pesado, rápido e agressivo e ai completam o time, o visual repleto de couro negro e variados tipo de metais e o principal são as letras que refletem as qualidades sonoras mostram o grande fascínio que a banda exerce sobre os seus fãs. O sucesso do álbum foi tão grande que além de devolver a banda, a sua credibilidade permitiu que a banda embarcasse em uma grande turnê mundial e nesta digressão pela primeira vez os fãs (inclusive eu) puderam vê-los pela primeira vez no Brasil, no festival Rock in Rio, no Rio de Janeiro, em 1991.
E os louros do sucesso obtidos pelo impacto do álbum ainda renderam outros prêmios como o disco de ouro nos EUA, Alemanha e Canadá e no mundo o álbum vendeu milhões de cópias e o reconhecimento veio com a indicação da banda para o Grammy Awards na categoria de "Melhor performance no Metal" em 20 de fevereiro de 1991 e o vencedor dessa categoria na época foi Metallica que ganhava pela segunda vez consecutiva.
Os singles lançados para promover o álbum foram: Painkiller, A Touch of Evil e Night Crawler cujo desempenho nas paradas foi razoável para a faixa título que obteve a 26º posição nos charts do Reino Unido por onde permanceu por duas semanas seguidas enquanto nos EUA amargou a 74º posição e as demais, como a segunda obteve a 87º nos EUA e a terceira obteve a 63º posição nos charts dos EUA, mas isso como já vimos não foi empecilho para a banda consolidar o o sucesso estrondoso de Painkiller estabelecendo-o como um marco e um clássico na carreira do grupo que seria idolatrado por uma legião de fãs e de bandas que puderam prestar as suas homenagens ao quinteto britânico que ao lado de grandes nomes como o Black Sabbath e o Motörhead primeiramente formaram o trio sagrado do heavy metal e pouco tempo mais tarde fizeram um quarteto com a chegada e ascensão do Iron Maiden.
Depois de varias tensões dentro da banda, ao fim da turnê da banda Halford anuncia a sua saída da banda e leva consigo o baterista Scott Travis e o Judas Priest e forma o Fight banda cuja sonoridade é similar a sua banda, mas só que é mais pesada dialogando com o Thrash Metal cheio de peso e agressividade e o Judas Priest sem uma de seus membro mais importantes entra em um período de reclusão para voltar com o Tim Owens (Ripper) e com o álbum Jugulator (1997), que também apresenta mudanças na sonoridade e inicia uma nova época para o grupo e essa história fica para um outro dia.
Faixas:
A1 Painkiller
A2 Hell Patrol
A3 All Guns Blazing
A4 Leather Rebel
A5 Metal Meltdown
B1 Night Crawler
B2 Between The Hammer & Anvil
B3 A Touch of Evil
B4 Battle Hymn
B5 One Shoot at Glory
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